Querida
amiga Alair Barboza Thereza
Honro-me
imensamente com sua amizade, minha querida e companheira de debates e de lutas.
Percebo
que há uma comunidade bastante sólida no Facebook que se une e comunga
entusiasmada e combativamente como numa verdadeira eucaristia da vida e da
liberdade. Matérias, textos, ilustrações artísticas e ironias que desconstroem
a diabólica direita que compartilhamos entre nós são ricas e educativas. Usamos
essa ferramenta para ajudar na conscientização de nossos irmãos brasileiros e
para recebermos contribuições, que sempre repassamos entre nós.
O
bacana é que a conheci assim, nesse debate maravilhoso que travamos com pessoas
tão especiais que integram nossas listas. Perdoe-me por afirmar que sua
presença e participação nessa comunidade “facebucana” tange-me por sua
graciosidade e consciência política e cidadã. Obrigado por dedicar tempo tão
precioso a esse enriquecimento consciencial.
Neste
artigo, minha querida amiga Alair, pretendo discutir o terrível papel dos que
já honraram a luta libertária nos caminhos da esquerda e depois a traíram
vendendo-se por tão pouco à causa satânica da direita.
Antes,
talvez, seja significativo lembrarmos o que é direita e o que é esquerda hoje,
principalmente no Brasil, cujos campos se confrontam fortemente.
A direita
se caracteriza essencialmente pelos que admiram e se rendem à economia de
mercado. É o caminho dos neoliberais. Dos que se opõem ao Estado acusando-o de
intervir nas regras e nos interesses entre comércio, bancos, indústrias e
grandes produtores agrícolas, que, para seus defensores, têm suas próprias leis
que independem da intervenção e regulamentação estatal. A direita reza sempre
pelo princípio “mercado máximo e estado mínimo”.
Em
nível mundial a direita através do mercado é perita em promover guerras,
destruir nações e matar seus povos, tudo com interesse em seus petróleos e em
vender equipamentos de guerra. O mercado é, por excelência, provacador de
destruição, de guerras, de miséria e de concorrências predatórias entre os
povos.
Em
conjuntura de prevalência do mercado máximo a sociedade é manobrada sob o gosto
do lucro máximo. Lucro máximo é o máximo orgasmo dos adoradores do regime “regulamentação
pelo mercado”. Os donos do tal mercado exercem a força do dinheiro arrancado
dos corpos e vidas dos que trabalham, dos que verdadeiramente produzem, para
comprar o poder no executivo, no legislativo e judiciário. Os mercadores bancam
as campanhas eleitorais de seu pessoal para “elegê-los” para os cargos onde
exercerão o poder a favor dos interesses da casta dominante. A lista do pessoal
comprado é enorme: advogados, juízes, jornalistas, policiais, deputados,
senadores, governadores, presidentes, mídia, igrejas etc. Enfim, o staff de
serviçais do regime do mercado é caro e pesado. É preciso muita corrupção para
manter o sistema. Porém a poderosa corrupção se justifica em nome da causa. Aí
impera o “direito” da compra de tudo: das consciências, dos votos, dos cargos,
dos prestígios, de tudo.
Os
militantes de direita, fanáticos adoradores do mercado, que cinicamente chamam
de livre, exigem moralidade intransigente de seus adoradores, mas são muito
mais rigorosos com os que pensam o contrário deles. Os agnósticos desenvolvem
falsa moral de aparência religiosa. Os religiosos católicos, evangélicos ou
espíritas postulam moralidade radicalmente farisaica: seguem a lei do façam a
qualquer preço o que eu digo, mas não façam o que eu faço. Exigem que as
pessoas de esquerda sejam santas e puritanas, sem erros e supra-humanas.
Os
direitistas se consideram acima de qualquer possibilidade de erro. Sua marca é
arrogância. Basta olharmos para alguns deles ainda vivos que aparecem nas TVs
hoje: Álvaro Dias, José Serra, Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves, Gilberto
Freire, Gilmar Martins, Marco Aurélio de Mello, Joaquim Barbosa e outros. Seus
olhares são pesados de tanto rancor, ódio e frustração. Seus discursos se disfarçam
de empolamento do vocabulário para enganar. Esses homens quando falam o fazem
com bocas e línguas pesadas e olhar de medo de ser descobertos e flagrados em
suas contradições. Seguem a risca o velho ensinamento: “não é feio roubar, feio
é ser flagrado roubando”.
Uma
forte característica moral da direita é a de ser idealista e substituir a
realidade com suas teorias. O mais importante para a direita não é a realidade
que nos pede conceitos justos, mas os conceitos que ela impõe sobre a
realidade, independente de que seja verdade ou não. De preferência que suas
teorias não sejam verdadeiras, mas que lhe rendam vantagens. Por exemplo: a
palavra democracia para a direita tem o significado de possibilitar a liberdade
de exploração, de desemprego, de falta de projetos sociais e não de
empoderamento do povo e dos trabalhadores na conquista de seus direitos. Se a
constituição federal brasileira define democracia como participação do povo,
isso, para a direita não importa como realidade, se não lhe for possível ser
“livre” para rebentar com a liberdade da
maioria. Por isso a direita acha que não erra nunca e que não carece de
autocrítica. Importa-lhe muito mais o discurso sobre a realidade do que a
realidade propriamente dita.
Em
termos políticos a direita é especialista. Nunca atua para perder. Por isso
compra as eleições de seus quadros, mantém relação íntima e permanente com
eles, sempre dentro de custos calculados.
Nesse sentido não admite “traições”. Caso algum de seus “políticos”
resvalar e apoiar algum projeto popular pune-o desligando deles os microfones, as
câmeras e as fontes financeiras, jogando-os na desgraça. O lucro, que a direita
chama de retorno seguro dos investimentos, é a força divina que a tudo
movimenta e justifica. Por isso a direita e seus amados filhos não vacilam em
entregar a Pátria à ganância internacional. Por isso são neoliberais.
É
importante identificar onde atua a direita, aparentemente invisível, até porque
ela não gosta do povo nem dos trabalhadores, muito menos dos pobres cuja
pobreza e miseráveis gera aos milhões. Os partidos dos direitistas hoje são o
PSDB, o Democratas, o PPS, o PP, setores do PMDB, do PSC, PSD, do
Solidariedade, do PSB e outros. A direita atua também e principalmente na mídia
através de TVs, jornais, radio e sites pela internet. A partir da barricada da
mídia a direita controla seus interesses em todos os níveis de poder.
Dependendo do caso joga um jornalista mais raivoso, outro mais doce, ou ainda outro
mais hipócrita. Mas todos exercem a missão da urubologia: a de azarar o governo
federal, torcer para que erre e alimentar-se das putrefações econômicas e
políticas que a direita gera.
E a esquerda,
o que é? Não há propriamente rigorismo na definição desse conceito. A esquerda
é um amplo espectro, que vai dos partidos marxista-leninistas, de forte
estrutura central-democrática e ideológica de compromisso com a construção do
processo socialista, até progressistas de diversas orientações políticas, cujos
agentes atuam na defesa dos direitos humanos, dos trabalhadores, dos pobres,
dos marginalizados. A aliança entre as diversas correntes dá-se na defesa de
uma visão de Estado nacionalista, soberano, desenvolvimentista com
investimentos sociais pesados, distribuição de renda e de riquezas.
Ao
contrário da direita, na esquerda o centro de nascimento e gravitação do
pensamento é o coletivo. Quem atua na defesa do povo o faz na comunhão com
alguém, seja de partido, de comunidade, de entidade social, dos movimentos
sociais ou de alguma organização com vida permanente de com partilha de decisões.
Enquanto
na direita seus militantes se orientam pela arrogância da minimização da
realidade em favor da maximização de seus interesses de minoria dominante, na
esquerda facilmente os coletivos reconhecem erros, a necessidade de autocrítica
e mudanças de rumo para acertar a prática. Na esquerda há humildade para
reconhecer desvios e corrigi-los, porque a realidade é absoluta e transcende
vontades e interpretações subjetivas, mais do que as ideias e os conceitos
abstratos.
Politicamente
a esquerda age no sentido de reforçar o Estado e a comunhão respeitosa entre as
nações soberanas e não no seu aviltamento, como acontece com a direita, que não
respeita a soberania e autonomia dos povos.
A
esquerda tem interesse pelo lucro, porém no sentido coletivo e social e não
como concentração de riquezas e de renda individualistas. A esquerda sabe que a
concentração de riquezas e de renda é a fonte perversa da miséria, da pobreza,
da ignorância, da marginalidade e das rupturas doentias do tecido social,
desgraçando as pessoas, principalmente as mais vulneráveis.
Os
militantes de esquerda não fazem acepção de pessoas. Quem é de esquerda pode
ser religioso, pode ser ateu, pode ser gay, pode ser pobre, classe média,
empresário, desde que o compromisso de cada cidadão se revele através da
prática em favor do povo. Fora daí tudo é hipocrisia e moralismo burguês.
Mas me
propus, querida amiga Alair, pensar contigo o problema dos ex de esquerda que
hoje não o são mais. Conheces alguém que fala que na juventude era de esquerda,
que até militava em partido revolucionário tal, comunista ou trotskista, mas
que hoje, por questão de sobrevivência, não milita mais? Eu conheço vários. O caráter
deles é profundamente duvidável. São dados a mesquinharias pessoais, à fofocas,
a calúnias, ao desrespeito às pessoas e aos heróis da luta. Renderam-se às
mentiras da mídia dominante.
Em
nossa história brasileira há vários que causaram enormes danos ao País e ao
povo por se bandearem com tudo para o lado da direita, sendo muito mais de
direita do que os próprios direitistas. Alinharei alguns, até porque já escrevi
sobre isso em outros momentos.
É
simbólico o caso de Carlos Frederico Werneck
de Lacerda. Este infeliz ganhou os nomes de Carlos e de Frederico, dados por
seu pai comunista Maurício de Lacerda, em homenagem a Carlos Marx e Friedrich Engels,
pensadores alemães e teóricos fundamentais do lançamento das bases teóricas da
revolução socialista.
Carlos Lacerda não titubeou em trair seu nome, seu pai, seu tio, seus
dois primeiros mestres orientadores do caminho mais digno que um ser humano
pode trilhar na vida, que é a militância
pelas transformações sociais, nem se negou a trair sua própria tradição. Ainda
na juventude aliou-se à direita mais reacionária, golpista e perversa
brasileira. A atuação desse triste personagem histórico deu-se através do
jornalismo, do partido UDN, que ajudou a fundar para respaldar as ações da
direita. Seus esforços para destruir o nacionalismo e soberania concebidos por
Getúlio Vargas, que constituiu praticamente o Estado Brasileiro e os direitos
dos trabalhadores, para impedir depois a posse de Presidente Juscelino
Kubitschek e seu vice-presidente João Goulart, abriram caminhos para grandes
crises políticos no poder, não têm medidas, tal o grau de perversidade, em
sombreamento de suas raízes. Depois não teve vergonha nenhuma em apoiar o golpe
militar de Estado em 1964, sepultando os direitos e a democracia em nosso País
por 21 anos, cujos prejuízos ainda amargamos.
Outro de menor porte e significação, mas de mau caráter do mesmo calibre
é Fernando Gabeira. Este, também jornalista, chegou a militar no MR8 e
participar de seu comitê central quando caiu nas mãos da repressão, preso,
torturado e depois se exilou no Chile. Quando retornou ao Brasil o fez pelos
braços da direita. Desde então lhe é fiel servidor e capacho.
Outro que traiu suas origens de esquerda foi o famigerado Paulo Francis.
Chegou a estudar nos Estados Unidos com um discípulo do encantador marxista Bertolt
Brecht e, no Brasil, foi admirador e apoiador de Leonel Brasil. Conheceu e
admirou grandes literatos brasileiros como Clarice Lispector e Jorge Amado.
Porém, após a queda da ditadura militar se transferiu para direita e de joelhos
a serviu até sua morte, sendo um colunista internacional da Globo, totalmente rendido aos "encantos" e delírios do império americano. Os argumentos para a mudança tresloucada era de que não
havia mais socialismo no mundo e que a esquerda no Brasil era muito popular.
Meu Deus!
Daí veremos vários, inclusive Fernando Henrique Cardoso, que chegou a se
denominar de esquerda e de por ela se eleger senador, que traiu o Brasil
dobrando de tal modo a coluna ao imperialismo e, nas corrupções praticadas com
as privatizações por seu governo, ao ponto de desonrar a instituição
Presidência da República do Brasil.
Outra é Marina Silva que, com aquela carinha de freirinha recém saída de
um convento, é na verdade, com seu ecocapitalismo, uma empregadinha da direita
e nada mais, arrastando consigo coxinhas e inocentes.
Assim é Gilberto Freire, o manda chuva e dono do farsante PPS – Partido
Popular Socialista – que tem tudo partido e nada popular, muito menos de socialista.
Gilberto é um capacho da direita neoliberal da direita tucana e nada mais. É um
traidor mal humorado.
O que chama a atenção nos tais ex de esquerda, tanto os que mencionei quanto
tantos outros que conhecemos em nossas relações, é que todos se venderam à
direita e aos direitistas. Mostram-se, contudo, pessoas fracas, de mau caráter
e inconfiáveis. Parecem viver em constante sentimento de culpa, o sentimento
miserável dos traidores.
Tentam iludir-se e a todos que são democráticos, que respeitam a opinião
dos outros, que sabem conviver com os diferentes.
Mentirosos: todos eles são autoritários. Nem poderiam ser diferentes.
Quem vende a alma ao diabo não tem mais como ser democrático nem saber conviver
com ninguém, muito menos com os diferentes. Parecem sentir orgasmo ao ameaçar
as pessoas e em olhá-las de cima para baixo.
Dir-te-ia que é muito pior e mais perigoso um relacionamento com um ex de
esquerda do que com uma pessoa de direita ou de centro direita. Já vi várias dessas se converterem de seus
maus caminhos ideológicos, mas as outras são muito parecidas com vira latas, que mordem nas panturrilhas,
pelas costas das pessoas. Rosnam e mordem traiçoeiramente sem reconhecer direito
à defesa de suas vítimas.
Esses ex esquerdas são tão grosseiros e toscos em suas linguagens e
gestos que nada deixam a desejar à direita. Por aprender a se organizar
mentalmente em partidos de esquerda e a estruturar o discurso usam a arte para
destruir e fazer o mal. Nem mesmo os que aderem a religiões abandonam os
preconceitos e atitudes farisaicas rasteiras de direita. Eles são abomináveis e
perigosos.
Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano.
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