08.03.13 - Venezuela
'Hugo Chávez, um criador de sonhos'
Eva Golinger
Advogada venezuelano-estadunidense
Adital
Tradução: ADITAL
A maioria das coisas que se lê e escuta nos meios
sobre o presidente Hugo Chávez são sempre negativas: exageram suas falhas,
distorcem seu discurso e ignoram suas vitórias. A realidade é bem diferente.
Hugo Chávez era querido por milhões de pessoas em
todo o mundo. Mudou o curso de um continente e liderou um despertar coletivo de
povos antes silenciados, explorados e ignorados. Chávez era um grande
visionário e um criador de sonhos.
Um homem honesto, de raízes humildes, que viveu em
um rancho e vendia doces nas ruas para ganhar dinheiro para ajudar sua família.
Chávez sonhava em criar uma nação forte, soberana e independente da influência
estrangeira e digna ante o mundo.
Sonhava em melhorar as vidas das pessoas, em
erradicar a miséria e oferecer a todos a oportunidade de uma vida melhor, pelo
Bem Viver.
O presidente Chávez tornou realidade esses sonhos. Durante
quase 14 anos de governo, eleito para três mandatos de seis anos, dos quais
somente pode cumprir dois, por sua inoportuna morte, as políticas de Chávez
reduziram a extrema pobreza na Venezuela em mais de 75%, de 25% para menos de
7%, em uma década, segundo estatísticas do Centro para a Investigação Econômica
e Política. A pobreza geral foi reduzida em mais de 50%, de 60%, em 1998,
quando foi eleito pela primeira vez, para 27%, em 2008.
Esses não são meros números; isso se traduz em
mudanças profundas em suas vidas de milhões de venezuelanos, que hoje comem
três vezes ao dia; são donos de suas casas e têm trabalho e acesso à ajuda
financeira.
Porém, os sonhos não terminam aí. Chávez sonhava
com uma nação cheia de pessoas educadas e saudáveis e, por isso, estabeleceu
uma educação pública e gratuita e de qualidade desde a educação infantil aos
estudos de doutorado, acessível a todos. De fato, para as pessoas que vivem em
zonas remotas foram construídas escolas e centros móveis para levar a educação
ao povo.
AFP Omar Torres
Chávez também criou um sistema de saúde pública
nacional que oferece cuidado médico universal e gratuito com a ajuda e a
solidariedade de Cuba, que enviou milhares de médicos e trabalhadores
sanitários para proporcionar serviços de qualidade aos cidadãos venezuelanos,
muitos dos quais nunca haviam recebido tratamento médico em sua vida.
Para fortalecer e empoderar as comunidades, Chávez
impulsionou políticas de inclusão e de governo participativo, dando voz àqueles
que antes estavam excluídos da política. Criou conselhos comunitários e redes
para administrarem as necessidades locais em bairros de todo o país, dando o
poder de governar as próprias comunidades.
Sua missão de diversificar o país e desenvolvido em
seu potencial máximo transformou-se em ferrovias, em novas indústrias, cidades
satélites e transporte inovador como o MetroCable sobre as montanhas de
Caracas, para conectar pessoas que vivem em diferentes regiões.
AFP/ Leo Ramírez
O sonho centenário do herói independentista Simón
Bolívar de construir uma ‘Pátria Grande’ unificada na América do Sul
converteu-se na luz que guiava Chávez e iluminou o caminho que ele aplainou.
Chávez foi uma força unificadora da América Latina, ao criar novas organizações
como a União de Nações Sul-americanas (Unasul), a Aliança Bolivariana dos Povos
de Nossa América (Alba) e a Comunidade de Estados da América Latina e do Caribe
(Celac).
Essas entidades adotaram a integração, a
recuperação e a solidariedade como seu principal método de mudança, rechaçando
a competição, a exploração e a dominação, princípios da política externa dos
Estados Unidos e do Ocidente.
Chávez inspirou o mundo do século XXI a lutar pela
justiça, a plantar-se com dignidade às potências intimidadoras que buscam impor
sua vontade às demais. Elevou a voz quando outros não faziam e não temia as
consequências porque sabia que a verdade estava de seu lado.
Chávez era um criador de sonhos. Reconheceu os
direitos dos portadores de deficiência, dos povos indígenas, de todos os
gêneros e sexualidades. Derrubou as barreiras do racismo e do classicismo e
declarou-se um socialista feminista. Não só cumpriu seus próprios sonhos, mas
também nos inspirou a atingir nosso máximo potencial.
Não me interpretem mal, absolutamente, as coisas
não são perfeitas na Venezuela; porém, ninguém pode negar que estão muito
melhor do que antes de Hugo Chávez. E ninguém poderia negar que o presidente
Hugo Chávez era maior do que a vida.
A primeira vez que voei no avião do presidente
Chávez, me convidou ao café da manhã em seu apartamento privado. Estávamos
somente ele e eu. Estava nervosa e ansiosa para contar-lhe os resultados de
minhas investigações sobre o papel do Governo dos Estados Unidos no golpe de
Estado contra ele, em 2002. Por isso ia no avião com ele. Havia me convidado a
participar em seu programa de TV dos domingos "Alô Presidente” para apresentar
as centenas de documentos desclassificados que obteve de organismos do Governo
através da Lei de Liberdade de Informação que desvelaram o financiamento dos
Estados Unidos aos participantes no golpe. A data era 11 de abril de 2004,
exatamente dois anos após o golpe que esteve a ponto de matá-lo e levar o país
ao caos.
Quando comecei a colocar os papeis na mesa, me
perguntou: ‘Já tomaste café?’. ‘Não’, lhe respondi; e continuei a mexer nos
papeis que queria mostrar a ele. ‘Daqui a pouco podemos falar sobre isso. Agora,
me fala de ti. Como está tua mãe?’, me perguntou, como se fôssemos velhos
amigos.
Uma aeromoça entrou no quarto com duas badejas e
colocou-as sobre a mesa. Em seguida, recolhi os documentos. ‘Comamos’, disse. Comecei
a protestar, tentando explicar-lhe que seu tempo era tão limitado, que queria
aproveitar cada minuto. Me deteve e disse: ‘Esse é um humilde café da manhã, de
quartel; é o que eu mais gosto’. Olhei a bandeja por primeira vez. Nela havia
um pequeno prato com uma arepa(*), um pouco de queijo branco, melão e algumas
anchovas. Junto ao prato havia uma pequena xícara de café. Nada elegante, nem o
que se pudesse esperar em um avião presidencial.
‘No fundo, sou apenas um soldado’, agregou. Sim,
Chávez, és um soldado, um glorioso soldado de um povo dignificado, orgulhoso e
amável. E és um criador de sonhos para milhões de pessoas em todo o mundo.
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