Querido Daniel
Foi bom conversar contigo e com o grande amigo Leonardo Boff, com quem nos encontramos nesse lugar de luto, de lágrimas, mas de muita esperança graças à luta dos militantes da justiça, heróis e mártires da libertação.
Foi bom conversar contigo e com o grande amigo Leonardo Boff, com quem nos encontramos nesse lugar de luto, de lágrimas, mas de muita esperança graças à luta dos militantes da justiça, heróis e mártires da libertação.
O Teólogo Boff nos
conta uma parábola que retrata muito bem o que acontece hoje na grande maioria
das igrejas, que dizem pregar sobre Jesus. Posto baixo o texto de nosso amigo
Teólogo para que nele medites. Segundo sua metáfora, a cúpula da igreja romana
juntou todos os piores interesses e negociatas e os acolheu no conclave que
elegerá o novo papa, já que o Bento XVI fracassou em sua teologia, no seu autoritarismo
conservador e linha auxiliar do imperialismo americano amancomunado com a
Europa, sua subserviente e capacho.
As igrejas de modo
geral viraram balcão de negócios, de transações através das “ofertas” que
arrancam do povo, principalmente dos mais humildes, sedentas de senhorio e até com
projetos de poder. Almejam ocupar espaços nos legislativos municipais,
estaduais e federais. Organizam-se de modo a insuflar seus parlamentares a
defender as ideias mais conservadoras possíveis em favor da manutenção das propriedades
e riquezas em poucas mãos, numa marcha ré à Idade Média. Chegaram ao ponto, inclusive, de golpear a
Comissão dos Direitos Humanos da Câmara dos Deputados para impor um racista,
pedófilo e de moral suspeita para presidi-la. O Teólogo Leonardo Boff, que não
precisa de igreja para viver, critica amorosa e insistentemente com razão a
igreja católica romana. Porém, é preciso alertar que todas as igrejas de modo
generalizado, esbofeteiam e escarnecem de Jesus em todos os seus cultos e
reuniões. Retiram-no dos moldes em que Mateus, Marcos, Lucas e João o descrevem
e desenham, amoroso com o povo, servidor do povo, denunciante das injustiças
que aperreiam o povo, pronto a caminhar e a morrer pelo povo, e o fazem um ser
espiritual despido de história e de radicalidade. Refundaram Jesus e o fizeram
uma criatura dócil e idiota. Nessa condição o “apertam” para que seja apoiador
do enriquecimento de igreja e de pastor. Nas campanhas eleitorais o transtornam
em cabo eleitoral de direita. Têm muito medo de se confundir com a esquerda e
com a subversão, por isso a turma do Jesus refundado candidata-se sempre por
partidos de direita ou “neutros”, como justificam, e ainda oram pedindo que
Jesus derrame sobre eles suas bênçãos para que sejam eleitos. Quando eleitos,
entopem seus gabinetes de “crentes” que nada sabem de povo, de justiça social,
que lá passam o dia inteiro de Bíblia aberta, onde “lêem” sobre um Jesus que
não tem nada a ver com o original da Palestina.
Noutras palavras, as
igrejas prenderam e recrucificaram Jesus. Algumas, inclusive, exaltam os nomes
de seus fundadores e iniciadores institucionais dando-lhes mais importância do
que a Jesus. Muitas ainda seguiram pelo caminho do farisaísmo hipócrita, tão
abominado pelo Jesus original, e viraram museus e tribunais moralistas, fazendo
de seus líderes verdadeiros juízes condenadores, prinpalmente dos pobres e
injustiçados. Apreciam gente domo Demóstenes Torres, Álvaro Dias, José Serra,
Marina Silva e outros moralistas tacanhas e rançosos neoliberais. Outras fazem
de seus ministros apresentadores e animadores de TV, que levantam rios de
dinheiro para alimentar suas vaidades. Outras tratam seus bispos como “príncipes”
vagabundos que não atendem ligações de gente que não seja as de seus círculos fechados,
que não recebem as pessoas sem que antes passem por filtro de secretárias,
geralmente mal pagas e cantadas por pastores ou padres que chegam aos
escritórios diocesanos, e quando visitam as comunidades sentam-se ao lado dos
mais aquinhoados para tratar de superficialidades, sempre apressados para
voltar para suas casas.
Sinceramente penso,
Daniel, que as igrejas não têm nada a ver com Jesus. Elas estão muito mais para
os fariseus que crucificaram Jesus do que para o grupo apostólico que Jesus
organizou na Palestina de seu tempo. Sinto que em nossos tempos as pedras
clamam por Jesus fora das igrejas. Aqui no velório de Hugo Chávez encontro
pentecostais, católicos e protestantes tradicionais engajados na luta
revolucionária. Estes sim parecem que entenderam a mensagem de Jesus, mas eles
também não gostam de pastores, bispos e cardeais vagabundos.
Abraços críticos e fraternos
na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo
cabano, farrapo e republicano.
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Cardeais da Igreja Católica vieram de todas as partes do mundo, cada
qual carregando as angústicas e as esperanças de seus povos, alguns
martirizados pela Aids e outros atormentados pela fome e pela guerra.
Mas todos mostravam certo constrangimento e até vergonha pois vieram à
luz os escândalos, alguns até criminosos, ocorridos em muitas dioceses
do mundo, com os padres pedófilos; outros implicados na lavagem de
dinheiro de mafiosos e super-ricos italianos que para escapar dos duros
ajustes financeiros do governo italiano, usavam o bom nome do Banco
Vaticano para enviar milhões de Euros para a Alemanha e para os USA. E
havia ainda escândalos sexuais no interior da Cúria bem como intrigas
internas e disputas de poder.
Face à gravidade da situação, o Papa reinante sentiu que lhe faltavam
forças para enfrentar tão pesada crise e constatando o colapso de sua
própria teologia e o fracasso do modelo de Igreja, distanciado do
Vaticano II, que, sem sucesso, tentou implementar na cristandade, acabou
honestamente renunciando. Não era covardia de um pastor que abandona o
rebanho mas a coragem de deixar o lugar para alguém mais apropriado para
sanar o corpo ferido da Igreja-instituição.
Finalmente chegaram todos os Cardeais, alguns retardatários, à sede
de São Pedro para elegerem um novo Papa. Fizeram várias reuniões prévias
para ver como enfrentariam este fato inusitado da renúncia de um Papa e
o que fariam com o volumoso relatório do estado degenerado da
administração central da Igreja. Mas em fim decidiram que não podiam
esperar mais e que em poucos dias deveriam realizar o Conclave.
Juntos rezaram e discutiram o estado da Terra e da Igreja,
especialmente a crise moral e financeira que a todos preocupava e até
escandalizava. Consideraram, à luz do Espírito de Deus, qual deles seria
o mais apto para cumprir a dificil missão de “confirmar os irmãos e as
irmãs na fé”, mandato que o Senhor conferira a Pedro e a seus sucessores
e recuperar a moralidade perdida da instituição eclesiástica.
Enquanto lá estavam, fechados e isolados do mundo, eis que apareceu
um senhor que pelo modo de vestir e pela cor de sua pele parecia ser um
semita. Veio à porta da Capela Sistina e disse a um dos Cardeais
retardatários: ”posso entrar com o Senhor, pois todos os Cardeais são
meus representantes e preciso urgentemente falar com eles”.
O Cardeal, pensando tratar-se de um louco, fez um gesto de irritação e
disse-lhe benevolamente: “resolva seu problema com a guarda suiça”. E
bateu a porta. Então, este estranho senhor, calmamente se dirigiu ao
guarda suiço e lhe disse:”posso entrar para falar com os Cardeais, meus
representantes”?
O guarda o olhou de cima para baixo e não acreditando no que ouvira,
pediu, perplexo, que repetisse o que dissera. E ele o fez. O guarda com
certo desdém lhe disse: “aqui entram somente cardeais e ninguém mais”.
Mas esta figura enigmática insistiu: “eu até falei com um dos
Cardeais e todos eles são meus representantes, por isso, me permito de
estar com eles”.
O guarda, com razão, pensou estar diante de um paranóico destes que
se apresentam como Cesar ou Napoleão. Chamou o chefe da guarda que tudo
ouvira. Este o agarrou pelos ombros e lhe disse com voz alterada: ”Aqui
não é um hospital psiquiátrico. Só um louco imagina que os Cardeais são
seus representantes”.
Mandou que o entregassem ao chefe de polícia de Roma. Lá, no prédio
central, repetiu o mesmo pedido: “preciso falar urgentemente com meus
representantes, os Cardeais”. O chefe de polícia nem se deu ao trabalho
de ouvir direito. Com um simples gesto determinou que fosse retirado.
Dois fortes policiais o jogaram numa cela escura.
De lá de dentro continuava a gritar. Como ninguém o fizesse calar,
deram-lhe murros na boca e muitos socos. Mas ele, sangrando, continuava
a gritar:”preciso falar com meus representantes, os Cardeais”. Até que
irrompeu cela adentro um soldado enorme que começou a golpeá-lo sem
parar até que caisse desmaiado. Depois amarrou-lhe os braços com um pano
e o dependurou em dois suportes que havia na parede. Parecia um
crucificado. E não se ouviu mais gritar:”preciso falar com meus
representantes, os Cardeais”.
Ocorre que este misterioso personagem não era cardeal, nem patriarca,
nem metropolita, nem arcebispo, nem bispo, nem padre, nem batizado, nem
cristão, nem católico. Era um simples homem, um judeu da Galiléia.
Tinha uma mensagem que poderia salvar a Igreja e toda a humanidade. Mas
ninguém quis ouvi-lo. Seu nome é Jeshua.
Qualquer semelhança com Jesus de Nazaré, de quem os Cardeais se dizem
representantes, não é mera coincidência mas a pura verdade.
“Veio para os seus, e os seus não o receberam” observou mais tarde e tristemente um seu evangelista.
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