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Sou-te muito agradecido pelo empenho nos debates
e na inclusão deste modesto blog como contribuição para o exercício
democrático na construção da verdade e da justiça. És uma grande divulgadora
de bons materiais no Facebook. Honro-me com tua bondade em contar comigo
nesse processo de enriquecimento da consciência.
Um dos assuntos da agenda hoje são os
rolezinhos e agora os rolezões.
Os
primeiros são os jovens das periferias, geralmente esquecidos e empurrados para
bretes sem espaços para a conversa, para o encontro, para a cultura e para as
diversões. Ao ocupar os shoppings, em combinação através da internet,
milhares de jovens acabaram por enfrentar gigantescos preconceitos.
Os rolezões são movimentos de grupos de
adultos mais organizados que ocupam os shoppings para demonstrar suas lutas e
construir visibilidade num País em que somente a burguesia conta com
exibicionismos pela mídia tradicional.
Os shoppings tornaram-se palcos bem
escolhidos para os rolezinhos. A sabedoria tomou a gurizada de assalto aos
lhes indicar essas vitrines do consumo para expor suas preocupações e
inquietações com as discriminações que sofre.
Os shoppings são símbolos neoliberais do
consumo e suas formas são como templos ao deus capital. Quem os inventou
foram magnatas capitalistas e coronéis conservadores que excluem o povo
sempre.
Impressionante a origem histórica e a
revelação das causas que fazem esses centros de futilidades terem tão
marcantemente as marcas da exclusão social e econômica, indiscutivelmente
preconceituosas e racistas. Os shoppings surgiram no Brasil com um coronel
dos mais consciencialmente atrasados do ponto de vista social. “O maior grupo
de shopping centers do país é a Iguatemi Empresa de
Shopping Centers S.A., que pertence ao grupo Jereissati, ligado ao
ex-governador cearense
Tasso Jereissati. Este grupo detém o controle de
shoppings espalhados por vários estados brasileiros.”[1]
Ora, quem conhece as peripécias de Tasso
Jereissati sabe que ao governar o Ceará fez política mafiosa de interesse dos
grandes proprietários e poderosos nordestinos e sabe que como Senador sempre
serviu de anteparo para o descalabro antissocial e impatriótico do governo
neoliberal de Fernando Henrique Cardoso. Enquanto atuou no Senado da
República em parte do governo Lula procurou expressar o pior dos sentimentos
e vozes do conservadorismo de direita no Brasil, contrários aos programas
sociais e à incipiente soberania nacional.
A origem manutenção dos shoppings são
acentuadamente negócios entre poderosos envolvidos em grandes empreendimentos
em aliança com bancos e com redes internacionais. ‘Valquíria Padilha,
professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP de Ribeirão
Preto, afirma que "os proprietários de shoppings são normalmente
grandes grupos de investidores, holdings ou construtoras. Para dar um
exemplo, o Shopping Parque Dom Pedro, de Campinas
(SP), pertence a um grupo português chamado Sonae, holding da
área de telecomunicações, Internet e multimídia.
Segundo o publisher e historiador Claudio J S Junior, o único shopping da
América Latina que possui apenas um proprietário é o Manaíra Shopping,
localizado em João Pessoa, Paraíba.”[2]
A partir dos interesses do capital aí
envolvido é fácil deduzirmos que a natureza dos shoppings é a de ser
excludente, discriminatória e preconceituosa, tal como é a classe dominante e sua cadela amestrada, a dita classe média.
A história da construção de um grande
shopping numa cidade é a da destruição da economia popular, dos
empreendimentos como armazéns, açougues, oficinas e até residências, que são destroçadas
para ceder lugar ao templo do deus dinheiro. Além disso, o shopping estraçalha
a cultura ao fragilizar cinemas e teatros com suas arquiteturas históricas,
para encerrar tudo dentro de seus limites, com empobrecimento da história da
cidade.
Bancos, cinemas, lojas, restaurantes e até
escolas e igrejas funcionam em shoppings.
Portanto, esses gigantes não se erguem sem
deixar um deserto ao seu redor, geralmente com prejuízos incontornáveis para
os pobres donos de empreendimentos sufocados por eles.
Mas o mais grave é que os empreendedores e
donos dos consórcios poderosos é que são lembrados como se fossem santos. Recebem placas e homenagens como beneméritos. Ninguém
recorda dos trabalhadores explorados e sugados que ergueram cada tijolo
desses gigantes. Pelo contrário, os trabalhadores que entregaram seu sangue
para construir “conforto” para a burguesia se sentir segura não entram
naqueles recintos. Seu suor e pobreza são esquecidos e excluídos e em seus lugares
circula o luxo e a frivolidade.
Outro destaque representado pela
incoerência desumana desses monstros da burguesia fria e egoísta são os
seguranças que tomam conta da proteção do patrimônio e do capital dos
proprietários, sempre ávidos na distribuição entre eles dos lucros arrancados das carnes dos trabalhadores. Observei fotos
e vídeos dos acontecimentos chamados
rolezinhos. Grande parte dos guardas é negra, bem vestida, treinada para
golpes mortais contra os que ameaçam o patrimônio privado dos capitalistas.
Os guardas exalam antipatia e passam a sensação
de serem bombas prestes a explodir contra quem ouse arranhar o colorido dos
gigantes neoliberais. Porém, quem são esses homens que trabalham na
segurança? São pobres, negros e trabalhadores sofridos que viajam longas
distâncias para proteger com ódio o que não é seu e atropelar pobres como
eles. Seus salários são igualmente arrochados como os dos outros
trabalhadores. Como os outros, suas vidas não valem nada. Quando sacrificados
ao deus dinheiro, para defender seu altar, são velados e sepultados
anonimamente, ao contrário de seus patrões, que nunca precisam lutar nem
arriscar suas vidas.
A dolorosa contradição se simboliza
exatamente nisso: trabalhadores são mal pagos para maltratar trabalhadores.
No caso dos rolezinhos os guardas defendem o capital e a propriedade dos coronéis
do lucro mesmo que maltratem adolescentes e jovens como os seus filhos.
Portanto, os shoppings são o centro do
terror. Eles são como cortinas de um palco macabro. Mostram beleza de seus
vitrôs dos templos do consumo, mas nos bastidores escondem violência, injustiças
e destruição, além de hipocrisia e traição nos atos de gente humilde que é
forçada a proteger os bens de quem os explora.
A gurizada que inventou os rolezinhos
merece os parabéns. Ao mesmo tempo em que desnuda a distância abismal que a
sociedade farisaica esconde entre os pobres e os ricos mostra que é lá mesmo o
lugar para denunciar a falsidade e a mentira.
A mídia e a dita classe média, totalmente
de média rebaixada nos itens ética e moral, alegam que os shoppings são propriedade privada e que não
são espaços adequados para protestos. Falácia. Para as denúncias e protestos
não existem espaços privados, mas os que melhor representam os símbolos da opressão.
Nesse momento os shoppings, que para mim não valem nada, são ótimos para
essas manifestações pelo que significam como aliança com o inferno.
Os primeiros rolezinhos aconteceram como desejo de passear e de “namorar”
o consumo. Porém, com a violência imposta pelos guardas e pelas polícias
militares despreparadas para negociar e ajudar socialmente, a gurizada
resolve se organizar e protestar contra a violência e a arbitrariedade. Encontrei
num perfil do Facebook esse encaminhamento mais politizado na defesa da
cidadania em Campo Grande-MS. “Vamos "dar um Rolezinho" num protesto a favor do
DIREITO À CIDADE e contra o racismo, preconceito e discriminação sofridos
pela juventude pobre e negra da periferia, que acontece no dia-a-dia, mas
evidenciada pela repressão policial aos rolezinhos em SP nos últimos dias”[3].
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