Caro Pastor Roberto
Gondim
Antes de discutir o
caso de Marco Feliciano permita-me dizer que aprecio imensamente suas posturas
enquanto pastor e teólogo. Há alguns anos que percebo sua atuação crítica nos
meios teológicos e acadêmicos. O senhor se movimenta na contra mão da grande
maioria vazia e amante de dízimos extorquidos de nosso povo, na marra, que vai
às igrejas buscar graça curadora e libertadora e acaba por ser assaltado
enquanto suas consciências são amarradas nos troncos do medo e da satanização
de tudo e de todos. Ainda hoje conversei com uma pessoa que me contou que freqüentou
uma dessas igrejas que exploram os pobres para enriquecer “pastores” e “bispos”,
além de custear compras de rádios e de TVs. Disse-me que a pressão é tão grande
sobre os freqüentadores de shows de igrejas que quando ela não tinha nenhum
centavo para dar saia do templo com a impressão de que desobedecera a Deus e de
que, por isso, o diabo a pegaria. Outro amigo compartilhou comigo que foi a uma
dessas igrejas no último domingo à noite. Escandalizou-se ao ver o “pastor”
pedir dízimos por quatro vezes. Iniciou, desrespeitando o bairro pobre onde se
situa a arapuca armada para capturar dinheiro do povo, pedindo cem mil reais,
baixando, na última rodada de pressões armadas de ameaças com castigos do
demônio, a moedas, dando clara ideia de que queria tudo o que o povo possuía,
inclusive seus últimos centavos. Não leu a Bíblia nenhuma vez nem se esforçou
para falar em Jesus. Falou todo o tempo em demônio e em satanás. Por isso concordo com quem disse que essas
igrejas deveriam ser investigadas pelo Ministério Público e pela Policia
Federal.
As notícias dão conta
de que o senhor, Pastor Gondim, é marginalizado pelos “pastores” que praticam a
carnificina financeira do povo, em nome da fé e de uma tal de “teologia” da
prosperidade. Diga-se: prosperidade deles. Graças à sua crítica o senhor é tratado como
herege.
As notícias dizem que
o senhor prefere o diálogo com os movimentos sociais, com os ateus de boa
vontade e com os homossexuais do que com esse seguimento fanático. Isso é
animador: o diálogo é muito mais frutífero e libertador do que os dogmas dos
exploradores, que se acham donos de Jesus, dos evangelhos e amam mencionar os
poderes diabólicos para enriquecer. Até se parecem com certos advogados e
juízes que preferem muito mais os criminosos à justiça, porque os crimes lhes
dão lucros e riquezas.
Por outro lado,
prezado Pastor Roberto Gondim, o senhor parece que gosta de dialogar sozinho. Não
gosta de conversar com outros que já estão nesse campo há muito tempo. O senhor
parece se comportar como alguns petistas que pensam que o Brasil começou quando
o PT passou a existir. A prova de sua “solitudine” são os vários comentários que postei em seu site,
aliás, muito bonito e caro, e os e-mails que lhe enviei mencionando
possibilidades de atuarmos juntos em algumas questões ecumênicas e sociais. O senhor
censurou, bem ao estilo PIG, todos meus comentários sem publicá-los e não
respondeu aos meus e-mails. É uma pena. Tal atitude enfraquece suas críticas e
lançam dúvidas sobre sua pretensa boa vontade de dialogar. Diálogo solitário não
existe e vira arrogância.
Contudo, caro Pastor
Gondim, suas críticas referentes a atuação do falsário pastor Marco Feliciano,
são justas. O senhor diz em entrevista ao Estadão (aqui)
que Feliciano foi eleito por alienados. Apesar da enorme bolsa de votos que o
levou à Câmara de Deputados, é verdade. O senhor disse com razão que esse tipo
de deputado não se elege para enfrentar os problemas do País, mas para
representar suas igrejas conservadoras, reacionárias e racistas. É verdade.
Tanto que as denúncias se acumulam expondo que muitos “pastores” se empregam
com Marco Feliciano para receber salários em torno de sete mil reais, valor que
poucas igrejas da “teologia” da prosperidade teriam condições de pagar a seus “pastores”
no Brasil. Pior, os “santos” homens recebem salários do dinheiro público sem
prestar serviço algum ao povo. O senhor ainda denuncia que Feliciano segue uma
teologia racista, que diminui os negros e que alimenta a condição escrava que
orienta o capitalismo. Uma “teologia” que parece ser novidade, mas que não é
nova. A grande maioria das igrejas “evangélicas” veio dos Estados Unidos desde
o século 19 para ajudar a expandir a “democracia” americana e seu domínio no
Brasil e na América Latina. Aqui pregaram sobre um “evangelho” para brancos de igreja
embranquecida, com protótipo branco e desenhando os Estados Unidos como o
paraíso na terra. Em virtude desse valor milhares de jovens migraram para os
Estados Unidos para estudar, inclusive o senhor, e, ao voltar, olhavam para
seus irmãos com olhos de superioridade. Muitos dos que para lá não foram
selecionados como os queridinhos das cúpulas eclesiásticas e dos seminários se
sentiam inferiorizados. Lembro de um colega e amigo, meu conterrâneo e
estudante do mesmo seminário que eu. Gostávamos um do outro. Ele foi
selecionado para morar e estudar nos Estados Unidos. Que decepção quando ao me
visitar em Santa Maria - RS permaneceu fora do portão de minha casa, sem entrar
alegando que não se sentia bem entrar numa casa pastoral tão pobre. Muitos
estudam entre os gringos, fazem graduação e pulam para doutorados fáceis e
depois retornam “doutores” e frios com suas raízes, afinal, como se misturar
com gente tão ignorante?
Duvido que Marco
Feliciano estudasse e estude alguma coisa. Seu português é raso, carregado de gerúndios
asquerosos, seu conteúdo é recheado de lugares comuns dos discursadores que
fazem cursinhos de oratórias na linha neurolinguística, com o objetivo de
impressionar e enrolar o público em suas propagandas enganosas. Sua ideologia
racista e homo fóbica é de direita e rasteira, também sem nenhuma novidade. Por
isso rapidamente ganha o apoio do não menos superficial e cuspidor de asneiras,
Silas Malafaia, que casou o nazista Jair Bolsonaro. Fanáticos levantam a falsa
bandeira nas redes sociais alegando que Feliciano os representa, inclusive, nas
perseguições por ser cristão. Ora, isso é pura mistificação e distorção da
verdade.
O que se vê é Marco
Feliciano e seu partidinho servidor da direita (PSC), criado por Joaquim Roriz,
o corrupto mor de Brasília, usurpar um cargo historicamente líder do movimento
de defesa dos direitos humanos. Marco Feliciano nasce da escuridão e para a
escuridão quer empurrar a luta pela defesa dos direitos humanos. Por essa razão
tem que ser demitido. Demitido também do cargo de deputado federal, já que não
se interessa pelo Brasil e pelos seus graves problemas sociais. Postou-se na
Câmara para prestar serviços escusos à direita, ao sectarismo e à intolerância
religiosa, caldos apropriados para o golpe e para a colaboração com o
imperialismo.
No título acima
destaco o lado luminoso do caso Feliciano. É verdade. Sua condução à
presidência da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados
mostra vários problemas: um é o da omissão da esquerda; Feliciano elegeu-se
pela omissão dos que se ausentaram de suas responsabilidades em face dos
direitos humanos. O contraditório desmascara a direita evangélica que deseja
impor um estado teocrático, conservador, direitista, corrupto, racista,
sectário e intolerante. A eleição daquele medíocre escancarou esse escândalo.
Outra luminosidade que, como a luz, entra pelas frestas do poder, são os
protestos, as mobilizações, as ações populares e estudantis que se levantam em
todo o País. Isso é maravilhoso. Mostra que nosso povo não afundou na alienação
nem se acomodou. Essa energia afastará o facínora que ocupa indevidamente um
cargo que não tem condições de liderar e, após esse movimento, a energia
luminosa e mobilizadora seguirá na direção de outras pressões.
Abraços críticos e
fraternos na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo
cabano, farrapo e republicano.
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