Prezado Carlos Rico
Obrigado pelo comentário que me enviaste, postado no artigo de Paul Singer, abaixo. Recebi poucos comentários com tamanha honestidade de consciência quanto o teu. Declaras que lutaste e brigaste pela candidatura à presidência da República indicada pelo ex-presidente Lula. Mas agora te sentes apreensivo com os tentáculos poderosos do capitalismo, sistema no interior do qual Dilma tem que governar. Dizes que esse sistema empobrece e acirra a miséria das pessoas, tornando as iniciativas em saco sem fundo, sempre gerando novas misérias. Identificas o capitalismo como responsável e gerador da depredação do sistema ecológico. Tens razão quanto a tuas apreensões.
Porém, meu querido leitor, respeitosamente te escrevo para te dizer que a luta política é uma ciência complexa. Lênin diz no seu livro “Imperialismo Fase Superior do Capitalismo” que a revolução não acontece por vontade dos revolucionários somente, mas pela conjuntura. A revolução acontece quando os de cima não conseguem mais governar e quando os de baixo não quiserem mais ser governados pelos de cima, diz Lênin. O líder revolucionário ainda diz, no livreto “Esquerdismo, doença infantil do comunismo”, que a luta política se dá num processo de avanços e recuos. Às vezes avançam-se dois passos e recuam-se três. No caso do Brasil Lula foi eleito após fazer autocrítica aceitando construir ampla aliança com todos os setores nacionais, priorizando o desenvolvimento autônomo, nacional, com distribuição de renda e de riquezas. Dessa aliança participam trabalhadores, ruralistas, industriários e banqueiros. Para a eleição de Dilma a aliança foi ainda mais ampliada. Dela participa o PMDB. Esse partido tem de tudo, como se sabe. Ele já deu sustentação às barbáries praticadas pelo neoliberalismo de FHC. Sinceramente penso que é muito sábio puxar para nosso lado esse “frentão”, representado pelo PMDB, do que deixá-lo à disposição do Serra e da traição à soberania nacional. Não será fácil, mas é preciso construir um veio avançado com a participação do que há de melhor social e ideologicamente na base do atual governo. O PT também padece, pelo menos em alguns setores de sua cúpula, de uma doença chamada “hegemonismo”. Esse grupo se fecha e não abre espaços para quem ajudou a construir democraticamente a candidatura, a campanha e a vitória de Dilma. As discussões no coração do governo são imensas e tensas. Não há outra maneira. Muitas contradições se defrontam. O desafio é avançar.
Creio que as contradições da aliança que sustenta o governo Dilma é a responsável por duas medidas decepcionantes e cruéis para todos nós. Refiro-me a elevação dos juros, realizado pelo Banco Central e ao salário mínimo, contradizendo a todos os clamores sociais e nacionais. Juros altos sangram a economia e os investimentos sociais, favorecendo os banqueiros e poderosos especuladores que não se interessam pelo desenvolvimento e pela distribuição de riquezas. Eles desejam concentrar cada vez mais, levando os trabalhadores à míngua. O salário mínimo baixo entrava o poder de compra, a circulação e a democratização do capital. Basta lermos as manifestações das centrais sindicais e do empresariado nacional para percebermos o quanto essas duas medidas são frustrantes e preocupantes.
Mas eu vejo esperança, Carlos. Os movimentos sociais pressionarão fortemente o governo. Esse governo é resultante de forte participação social da classe trabalhadora e de amplos setores produtivos do País. Cabe-nos pressionar. Não devemos cometer o erro que a CUT cometeu quando deixou de pressionar mais o governo Lula por mais avanço econômico e social. Não há contradição entre apoiar e pressionar o governo Dilma. Pelo contrário. As ruas são o nosso palco de interlocução e de pressão para ajudar a avançar. Dilma se elegeu para continuar e avançar em relação a Lula. Mas isso acontecerá somente com muita pressão, protestos, greves, diálogo e união nacional em torno do desenvolvimento soberano com distribuição de renda e de riquezas. Há que levantarmos as mãos e descruzarmos os braços na luta. Não há mais lugar para a alienação e para o discurso perverso dos que afirmam não gostar de política. Se nós que amamos a democracia social com desenvolvimento não gostarmos de política, se não tomarmos a luta em nossas mãos essa elite continuará ditando sua agenda e manipulando o Estado em favor de seus interesses sem vergonhas e impatrióticos.
Esperança e luta, meu irmão. Luta e esperança na busca do que há mais unificador e avançado no governo Dilma, sem ingenuidades e desespero.
Abraços fraternos, Carlos e a todos os teus amigos, meus leitores e familiares.
Saudações Dom Orvandil!
ResponderExcluirComo sempre você foi brilhante na sua exposição.
Nada como o tempo e a experiência para aprendermos a caminhar entre as rochedos e os espinhos.
Um fraternal abraço,
Caro,minha crítica situa-se na realidade.Sei que as possibilidades de uma UNIDADE em torno de um plano geral,igualitário,beira as diversas utopias.O que me preocupa é quando que chegaremos ao estágio de máxima inclusão humana,de fato,humanização da espécie,pois este passa pela emancipação através da compreensão exata de como funciona o mundo e todas as relações impostas como únicas e possíveis.Quando o sistema conseguir transformar a vida da maioria,e não de todos,será tarde.A degradação humana e da natureza é latente e galopante.O meu ponto de vista não é fazer nenhuma oposição insana ao governo Dilma.Sei dos avanços significativos do governo Lula,e hoje sei que a Dilma é a menos pior quando comparada com José Serra.Mas a política brasileira é a que menos me preocupa.O que me preocupa é o corpo estatal que se forma.A estrutura criada para sustentar uma classe específica,independente que lado governe.A minha chamada passa pela necessidade de incluir todos no debate sobre a construção de uma nova ordem.Digo isto pois já não sou tão otimista acerca da sobrevivência da humanidade guiada pelo capitalismo e a figura do Estado burguès.A barbárie e a aniquilação,parecem as únicas saídas para a grande crise que avizinha-se.Talvez aparentem apocalípticos demasiados meus pensamentos,mas minha esperança é minada a cada dia mais com fome,com violência,com desprezo,com os olhos fechados.è só ver aquele video do pvo haitiano comeno pão feito à base de lama para que a depressão seja a única companhia.
ResponderExcluirCarlos Rico
Quanto mais apoio, maior será a força.
ResponderExcluirNão podemos ficar presos naquela velha conversa de fisiologismo. Nós precisamos estender as mãos, inclusive, para os inimigos. Senão, não conseguiremos governar.
Enquanto nós ficamos com este pensamento retrógrado, a mídia está preparando o terreno para Serra voltar em 2014.
Folha usa de má fé em reportagem, segundo a Petrobras.
"A Petrobras desmente com veemência matéria publicada com chamada de capa no jornal Folha de S. Paulo desta segunda-feira (24/1), sob o título “Petrobras quer reduzir compras no país”."
http://todeolhomalandragem.blogspot.com/