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quarta-feira

Como os tucanos e ianques destruíram a Educação

 
Os supostos programas de governo dos tucanos são sempre encenações. E o verdadeiro conteúdo dessas encenações é sempre uma cópia daquilo que já fracassou nos EUA.

Os paulistas cansaram-se de ouvir Serra, Alckmin e outros cretinos falarem em sistema de “méritos” - que nada tem a ver com qualquer mérito real – e de metas a serem alcançadas na educação. Trata-se de um sistema de apartheid, onde aqueles que estão com maiores dificuldades de aprender são relegados ao abandono, estimulando a esperteza, a manipulação de critérios que nada avaliam – e que só existem para destruir a educação pública, pois a privatização, também aí, é o que importa aos tucanos. Assim, ao invés de se valorizar o professor, de estabelecer um plano de carreira e salários que lhe dê uma vida digna para que possa ensinar – e, inclusive, se dedicar aos alunos com maiores dificuldades – usam-se provas unicamente como instrumento de discriminação e arrocho salarial.

De onde os tucanos tiraram tal sistema? 

O recente livro de Diane Ravitch, “The Death and Life of the Great American School System” (A Morte e a Vida do Grande Sistema Escolar Americano), lançado há um mês nos EUA - “um surpreendente best-seller”, segundo o The New York Times – esclarece bastante a esse respeito.

Ravitch é uma educadora que participou da “reforma” do sistema público de educação dos EUA desde 1991, no governo George H. Bush - foi Secretária-assistente de Educação, ou seja, vice-ministra da Educação desse governo – e depois foi nomeada por Clinton para o National Assessment Governing Board, a instância governamental que supervisiona os testes que avaliam as escolas e alunos. Em 2002, segundo suas palavras, “aplaudiu” o programa educacional do segundo Bush, o filho.

Não se trata de uma pessoa de fora do establishment norte-americano: como diz, durante anos foi filiada a instituições “conservadoras”, ou seja, da extrema-direita neoliberal, “incluindo o Manhattan Institute, a Thomas B. Fordham Foundation e a Hoover Institution”, que pregavam a substituição da escola pública pelas “charters schools”, escolas que recebem dinheiro público e privado mas, em troca de metas preestabelecidas, não pertencem à estrutura estatal, sendo mantidas por grupos variados, inclusive corporações (v. Diane Ravitch, “Why I Changed My Mind”, The Nation, 14/06/2010).

Se o leitor achou isso parecido com as OS de Alckmin e Serra na área da Saúde, acertou – essencialmente, é a mesma coisa. Apenas, aqui, não conseguiram montar esse estrupício na Educação.

No entanto, Diane Ravitch mudou sua opinião. Basicamente, o que ela diz?

Primeiro, que o sistema de metas e testes foi “uma iniciativa de grupos de direita como a Fundação Heritage, com o objetivo de destruir a educação pública e as associações de professores” (ver sua entrevista no The Leonard Lopate Show, 25/05/2010).

Segundo, com a meta (estabelecida pelo brilhante George W. Bush) de que em 2014 todo aluno dos EUA tem que alcançar a “proficiência”, um terço das escolas públicas do país (ou seja, 30 mil escolas) estão ameaçadas de fechamento – e os alunos de ficarem sem escola.

Terceiro, que esse sistema só estimulou a vigarice. Nas suas palavras: “o Departamento de Educação do Estado de Nova Iorque baixou a nota de corte nos testes estaduais desde 2006 (o ano em que a prova anual foi introduzida da 3ª a 8ª série) até 2009. Em 2006, um estudante na 7ª série podia alcançar ‘a proficiência’ acertando 59,6% das questões no teste de matemática; em 2009, um estudante na mesma série precisou só de 44% de acertos. [Antes desse sistema] acertar 60% seria uma nota D, não uma marca de proficiência, e 44% teria sido uma reprovação. Segundo um relatório do The Civic Committee of the Commercial Club of Chicago, os avanços registrados nas escolas elementares de Chicago durante o período de Arne Duncan [atual Secretário de Educação dos EUA, antes administrador das escolas públicas de Chicago] foram quase inteiramente resultado de modificações no score dos testes, e não evidência de qualquer melhora genuína na aprendizagem dos estudantes” (Diane Ravitch, “The Great Accountability Hoax”, Education Week, 15/06/2010 – grifo nosso).

Quarto, que o modelo desse sistema foi o “market-driven accountability”, isto é, os bonus que as grandes corporações dão aos executivos – como aqueles que o Lehman Brothers e a Enron davam aos seus, não propriamente por serem (ou para serem) cidadãos honrados ou “proficientes” em inglês ou matemática.

Quinto, que as OS, quer dizer, as “charters schools” foram um fracasso. Somente 17% delas têm nível acima das escolas públicas (nos EUA existem 5 mil “charters schools” e 90 mil escolas públicas).

Em suma, diz Diane Ravitch, “o ensino não melhorou e identificamos apenas muitas fraudes no processo (…) escolas estão sendo fechadas porque não atingiram a meta. (…) Isso também levou a uma redução do currículo, associado a recompensas e punições em avaliações de habilidades básicas em leitura e matemática. Privatizações de escolas afetam negativamente o sistema público de ensino, com poucos avanços de maneira geral. E a responsabilização dos professores está sendo usada de maneira a destruí-los. Precisamos de jovens que estudaram história, ciência, geografia, matemática, leitura, mas o que estamos formando é uma geração que aprendeu a responder testes de múltipla escolha. Para ter uma boa educação, precisamos saber o que é uma boa educação. E é muito mais que saber fazer uma prova. Precisamos nos preocupar com as necessidades dos estudantes”.

C.L.

Fonte: Jornal Hora do Povo.

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