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Pensando em Jesus (I)



Na quinta-feira Santa pensei muito em Jesus, reunido com seus discípulos no cenáculo, em Jerusalém. Ao embalo do pensamento olhei para o seu interior, utilizando-me do Evangelho de João. Vi que a tensão do grupo era imensa, até insuportável. Duas eram as vertentes que jorravam tensões para o interior do cenáculo. Uma vinha do palácio do governador, por onde passava a ordem de Roma para julgar e eliminar Jesus. A ordem era imperialista e brutalmente dominadora. Era direta. É verdade que essa ordem atropelava pelos campos e cidades da Palestina, matando e eliminando muita gente, principalmente os que os romanos matavam crucificados em virtude de suas ousadias em derrubar a dominação do império. Mas também matava de fome e nas doenças milhares de pobres daquela periferia do império. O colégio de Jesus era atingido pela mesma disposição de Roma. Jesus sabia disso e avisou sempre seus discípulos do que aconteceria. E aconteceu, como todos sabemos. Jesus foi julgado na calada da noite e condenado à pena de morte por crucificação. A outra fonte se instalara nos corações e mentes dos discípulos. Realizou em forma da covardia de Pedro que negou conhecer Jesus e com Ele ser comprometido. A outra, mais grave, veio em forma de traição. Interessante que a traição se realizou através do homem mais culto e crítico do grupo de Jesus. Veio pelas mãos e voz de Judas, o de punhal de ponta envenenada, o Iscariotes.

Que tensão terrível, eu vi. Lá Jesus reuniu-se com eles . Cheguei a me assustar quando vi que Ele tirou de sobre seu corpo a surrada e empoeirada túnica e, nu, cobriu-se com uma toalha. Lavou carinhosamente os pés de cada um de seus discípulos. Não resisti e me imaginei entre eles e esperei Jesus me lavar os pés. Meu Deus, o que Ele me falou, o que Ele me animou, o que Ele amorosamente me criticou, o seu olhar e sua boca quase sussurrando em meus ouvidos me transtornaram profundamente. Seus toques em meus pés me enviaram imensa riqueza de amor e de coragem ao meu coração e mente, dominando meus nervos. Olhei para os discípulos, à medida que cada um era tocado nos pés e agarrado carinhosamente pelos ombros, seus ouvidos acionados pela sonoridade da voz de Jesus e notei que experimentavam sensações intensas, comparadas as que senti. Então Jesus surpreendeu novamente com uma noção revolucionária de amor. Ensinou que amar como Ele é servir, é curvar-se na direção do outro. Impressionante que cada um era radicalmente diferente de todos os outros, desde os primeiros contatos feitos por Jesus. Mas Ele não se limitou em defeitos, comportamentos e limitações, mas jorrou em seus corações espantosa maneira nova de amar. Chegou a afirmar que nesse modo de amar Ele seria reconhecido em quem assim servisse. Depois falou de união, falou que não seria fácil ser seu discípulo.

Olhei novamente e vi o grupo profundamente unido e calmo. Jesus partilhou com eles o pão e o vinho. E lhes disse que aquilo era seu corpo e seu sangue, que cada vez que o comessem e bebessem em memória dele, comeriam seu próprio corpo. Levei um choque: não conheço outro Deus capaz de se entregar dessa forma e se transformar em alimento.

Deixei João e me recolhi em reflexão com a certeza de que Jesus estava comigo e me chamava ao amor. Não é fácil amar e servir em um mundo em que todas as referências são contrárias. Não é fácil amar em meio a tão brutais explorações. Não é fácil amar num contexto em que se mata de fome, de desemprego, de abandono, de injustiças profundas, de guerras e de agressões extremas ao nosso planeta. Mas Jesus nos empurra a amar. Saí como alguém que recebeu a comunhão na mesa da Santa Ceia, do altar eucarístico, das próprias mãos do maior servidor que por aqui passou. Senti enorme força e vontade de não me deixar destruir pelas tensões de fora e de dentro do serviço e da luta. Saí disposto a jogar fora a mesquinhez, a covardia, a submissão ao sistema de ódio e de opressão. Quando se ama assim não há tensão que destrua a gente. Pensei: se sou seguidor de Jesus tenho que justificar esse seguimento com Ele mesmo e seu ensino sobre o amor.

Impressionante!

Dom Orvandil: Bispo cabano, farrapo e quilombola.

1 comentários:

  1. Que experiência incrível vivestes, Dom Orvandil....eu diria que te "transportastes", em espírito, para àquele momento Divino. Parabéns! Admiro muito tua vertente espiritual, apóstólica, que se perde um tanto quando te deixas dominar pela tua vertente política, de revolta e inconformismo. A fome, a opressão dos ricos sobre os pobres sempre existiu, desde bem antes de Jesus....e ainda existirá por algum tempo.....Todos sofremos com isso, até o próprio Planeta, que agoniza. Entretanto, voltemos ao exemplo de Jesus....que não se revoltou, não esperneou, muito pelo contrário, fêz questão de demonstrar humildade, paciência, caridade e amor para com todos. Façamos a nossa parte, principalmente para com aqueles que nos são mais próximos...no teu caso, tua Igreja. No mais, algum entendimento acerca das causas dos sofrimentos humanos, segundo a visão espírita....seria de muita valia e se somaria ao teu vasto conhecimento...Te traria também mais compreensão e aceitação para o que não se pode mudar....com as próprias mãos.
    Um abraço afetuoso de Paz e Luz!

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