Querido professor Adilton Jorge Ferreira Cruz
O amigo me escreveu hoje
contando que é carioca, mas trabalha numa escola limítrofe com a cidade mineira
Além Paraíso. A circunstância lhe permite relacionamento concreto que dá a
noção dos desmandos e desgovernos de Aécio Neves, notadamente na falência da
educação mineira, cujo Estado governou por duas legislaturas e onde é senador
da República. Aliás, péssimo senador. Um dos piores do Senado.
Senti sua dor com a situação
da educação em Minas Gerais, onde colegas seus informam do desprezo de Aécio
pelas crianças, pela juventude e pelos professores.
Como lhe respondi, suas palavras comovem pelo nível
profundo de consciência que o colega tem e pela disposição de luta por um mundo
justo, bem ao contrário do candidato dos ricos, que fala em “mudanças” para
destruir os avanços que conquistamos nesse período de 12 anos de governos
populares.
Seu testemunho, professor
Adilton, o difere de muitos colegas professores, de todos os níveis, das séries
iniciais aos pós-doutorados. Lamentavelmente os que deveriam conhecer a
realidade, que deveriam transcender a borrasca movida pelas águas da mídia
mentirosa, deixam-se sugar pelo ralo das distorções golpistas e sujas. Veem-se
tais desvios intelectuais em conversas de sala de professores, de corredores e
nas redes sociais. A formação cidadã e política dos docentes é desesperadamente
baixa e suas atividades com os alunos contribuem com a subconsciência das
crianças, adolescentes e jovens. Muitos docentes se reduzem ao discurso
tecnicista, dito profissional, sem nenhuma condição de contribuir com a
formação da consciência cidadã.
Costumo pensar, escrever e
dizer que os professores assim tão descomprometidos socialmente são traidores
da educação e dos melhores intelectuais que o Brasil já pariu.
Isso bate em outra situação
dolorida. Neste início de semana e hoje me deparei com dois depoimentos
maravilhosos de blogueiros famosos, ambos pertencentes ao Instituto Barão do
Itararé, que discute seriamente a missão da mídia na construção política. Ao
ler as experiências me revolvi emocionalmente entre o desespero anti o quase
inexplicável desvio cultural de pessoas que negam suas origens e se vendem a
racistas, preconceituosos e conservadores para sobreviver e a premente necessidade
de o povo acordar para romper com os grilhões que insistem em aprisioná-lo na
ignorância e na contramão da postura mais justa que todos devemos assumir.
A primeira vivência foi a do
jornalista Paulo Henrique Amorim (aqui).
Paulo apanhou um taxi e de cara recebeu uma provocação política do motorista,
que lhe perguntou em quem votaria. Com sua sensibilidade jornalística PHA entrevistou
o baiano Valdir. Na entrevista transpareceu um nordestino contraditório,
ambivalente e negativo de suas origens baianas.
Valdir votou no primeiro
turno na missionária Marina Silva. A razão é porque, segundo ele, no PT há
muitos ladrões. Nada sabe se a mídia fala a verdade, se tem provas, se é
verdade que o governo Dilma dança sobre a corrupção. Nunca leu nada sobre a
mesma lenga-lenga dita contra Getúlio Vargas, levando-o ao estresse e ao
suicídio, nem sobre as acusações que direita fez contra João Goulart para
derrubá-lo iludindo a sociedade, tudo com inspiração, patrocínio e direção dos
Estados Unidos.
Valdir nega sua origem
nordestina para se vender aos preconceituosos, elitistas e arrogantes paulistas
e ainda “engole” a água fétida de sua ideologia, tudo sob o pretexto de
sobreviver e chegar ao ponto de elogiar o sumiço do sotaque baiano dos filhos
para que não sejam descriminados.
Valdir fechará o nariz e
votará em Aécio no segundo turno, apesar de reconhecer que sua vida melhorou
com os governos Lula e Dilma. Tudo porque é obediente aos preconceitos de
paulistanos metidos a bestas e às mentiras da mídia safada.
A outra experiência é a
contada pelo blogueiro Eduardo Guimarães. Eduardo levou uma conversa profunda
com seu barbeiro Pedrinho (aqui).
Pedrinho é cereanse. É
nordestino da cepa. Mas sua visão de mundo virou quando serviu ao exército
(certamente no tempo da ditadura), onde o ensinaram a ser conservador, reacionário
e direitista. Assim, tomou São Paulo como referência, principalmente a São Paulo
da elite branca e racista endinheirada. Aprendeu a odiar os comunistas e, por
confusão, os petistas. O barbeiro não sabe que muitos dos filiados daquele partido
não são comunistas e também odeiam o socialismo.
Porém, nessa semana, depois
da entrevista de Fernando Henrique Cardoso, que acusou os eleitores do PT de ser
desinformados e ignorantes, reacendendo a onda de preconceito contra os
nordestinos, sempre acusados de serem pobres, ignorantes e burros, Pedrinho se
irou, se indignou e sua ficha caiu. Deu-se conta de que vendera a alma ao
diabo, iludido com o falso discurso da sobrevivência.
A salvação de Pedrinho é a
intuição de sua mulher Jussara. Esta irrompeu entre a discussão de seu marido
com Eduardo Guimarães para afirmar que “Ele vai votar na Dilma nem que seja a
tapa, Eduardo. Ele e todo mundo lá da Vila. Estou ligando pra todo mundo e tem
mais gente fazendo a mesma coisa. Depois a gente vai embora desta merda.”
Vivemos cercados dos Valdir
e Pedrinho, caro professor. Nossa missão é a mesma da dona Jussara: a de percebermos
a armação radicalmente mentirosa e golpista posta nas mentes das pessoas e de
irrompermos decididamente para resolvermos essa parada alienada e alienante que
impuseram sobre nosso povo e nosso País. É preciso agir como dona Jussara que
estimulou mais gente a ligar para as pessoas, conversar com elas e promover o
debate que conscientiza para as mudanças.
Abraços críticos e fraternos
na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano,
farrapo e republicano, liberto dos racistas, dos preconceituosos e dos mentirosos.
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