Prezada missionária Marina
Silva
Sei que vivemos contexto exacerbado
de ofensas, agressividades e ironias em relação aos candidatos. A meu ver, dignos de todo o nosso respeito por disposição política de defender o País.Talvez isso se
deva ao fato de nosso povo ser alijado do direito à cidadania, por isso alheio
à participação na luta pelos seus direitos. Confunde com assustadora agressividade
eleições com política, sem consciência de que campanha eleitoral e eleição de
candidatos são apenas uma parte do processo. Tanto que comumente dizem: “esse é
um ano político”. Lamentavelmente as pessoas procuram conhecer programas de
candidatos – sem a profundidade e o compromisso necessários – pela mídia e
pelas redes sociais nos dias que antecedem a ida às urnas.
Não serei agressivo nem irônico,
embora as questões que levantarei, missionária Marina Silva, sejam duras, mas
sérias e pedem respostas no mesmo nível.
A senhora diz de modo claro
que sua candidatura representa uma “nova política”. A palavra nova associada à
política soa bonita e parece tornar o tema política mais palatável como marketing.
Como crente que a senhora é o novo simboliza a novidade de vida, roupa nova e
não remendo novo em vestido velho, novo céu e nova terra, novo homem, novo ser,
coração novo, nova criatura etc. Essa palavra não é afirmação qualquer, mas de
densidade marcada de rupturas e de edificações novas. Assisti por vídeo o testemunho de
sua conversão, que a senhora deu num templo da igreja que segue e do quanto o
novo tem impacto na sua fé. A senhora sofreu um milagre com sua cura e sua
conversão, segundo seu emocionando testemunho acompanhado por muitas aleluias e
glórias a Deus. É sua fé, digna do meu mais reverente respeito.
Porém, candidata missionária
Marina Silva, quando vejo, porque leio - porque me interesso pelo que propõem
os candidatos e candidatas à presidência do meu País - traços muito velhos e de
arrepiar de envelhecimento político em toda a estrutura de sua candidatura,
temo que haja fosso abismal entre o que a senhora crê, prega e almeja, sem
nenhuma relação com tudo o que envolve seus encaminhamentos nessa caminhada
rumo ao Palácio do Planalto. Enumerarei, preocupado, alguns fatos para mim não
esclarecidos e estarrecedores.
Eu não sabia, missionária
Marina, que seu marido Fábio Vaz de Lima foi denunciado pelo Deputado Aldo
Rebelo como contrabandista de madeira da Amazônia. O vídeo com a denúncia no
plenário da Câmara dos Deputados está no youtub. Ora, o Deputado Aldo Rebelo é
um homem e político honrado, não diria uma leviandade. Em se confirmando a postura destruidora ecológica de seu marido, como explicar seu discurso em defesa da ecologia sustentável com preservação da Amazônia por quem deu a vida o seu mestre Chico Mendes? A postura destrutiva de seu marido é uma contradição ao que a senhora prega ou, no fundo, é a afirmação de suas convicções mais profundas não conferidas pelo seu discurso, nesse caso mentiroso e eleitoreiro? Como explicar sua
candidatura em nome da “nova política” se seu marido parece se conduzir como
uma eminência parda e aproveitadora ao seu lado? Tal conduta é a mesma das
velhas e sorrateiras raposas deste País saqueado, que se aproveitam dos cargos
públicos para assaltar os bens do povo e da Pátria. Isso não desautoriza sua
proposta de “nova política”? Caso se eleja seu marido não será uma presença
oportunista no sentido de arrastar para o Palácio da Alvorada e para algum
cargo, que ocupará no governo como primeiro cavalheiro da República, as borrascas
modelo Paulo César Farias de Collor?
Outra preocupação que me
azucrina é o mistério do avião que matou Eduardo Campos e mais seis pessoas.
Nessas últimas horas o caso se enroscou com denúncias dos órgãos de direita
deste País que o relacionam com doleiros e com propinas da Petrobras. A
situação nebulosa se complica com a “teoria conspiratória” levantada pelo
famoso jornalista Wayne Madsen, que aventa a possibilidade de o avião ser sabotado com o objetivo de,
com a morte de Eduardo Campos, produzir comoção no coração dos eleitores e
levá-los a votar na senhora para evitar a reeleição da Presidenta Dilma, odiada
pelos Estados Unidos e pelo sistema financeiro, sem o mínimo senso crítico e de
consciência do conteúdo antipatriótica e traidor deste esquema. Certamente a senhora conhece essa teoria e sabe que ela cresce
fortemente como hipótese de explicação para aquele fato triste e traumático
para as famílias dos mortos e para o Brasil. Mas, se confirmado, é muito feio e
vergonhoso, porque é sinal do velho ranço no uso do povo e das eleições como
meio de golpear sua participação consciente, usando os fatos falsificados contra ele mesmo. A senhora participaria de uma
trama suja como essa? A senhora saltaria desse barco furado e traiçoeiro se
descobrisse que isso é verdade e denunciaria para o mundo essa barbaridade? Ou
a senhora pensa que isso tudo se sintetiza com sua “nova política”?
Outro
indicativo, a meu ver contraditório com sua proposta de fazer o novo na
política, é a presença de Roberto Freire na coalizão de partidos que a apoiam.
Não desejo ser rústico ao usar o verbo trair para traçar a história desse
militante. A senhora sabe o papel da traição no projeto da salvação. Conhece o
peso que tem na morte e no assassinato de projetos. Pergunto-lhe: como sua
proposta de “nova política” se coaduna com a história de traição de um líder que não
titubeou em deixar para trás heróis como o Cavaleiro da Esperança, Luiz Carlos
Prestes, gravemente traído por Roberto Freire quando abandonou o verdadeiro
novo que as veias do velho militante representavam para aderir ao massacre que
o imperialismo praticou ao destruir o socialismo soviético? Que novidade há em
sua proposta contando ao seu lado com esse militante que traiu a história
luminosa de justiça social passando para trás Oscar Niemayer, Leonel Brizola,
Lula e tudo o mais em nome do que ele chama de socialismo democrático, o mesmo
discurso confuso do PSB e da direita, que gosta de apelidar seus partidos
cartoriais de "popular" ou de "democrático"? A senhora acha que alguém como esse
senhor que se curva ao imperialismo que não respeita os povos, que gosta de
aparecer ao seu lado, é sinal de “nova política”?
Outra
companhia que ameaça seu discurso do novo em política é a senhora Neca Setúbal,
bancária de um dos maiores bancos e sonegadores privados de nosso País. As
notícias informam que ela “doou” 80% dos recursos que movimentam sua empresa de
palestras? A senhora sabe que os bancos têm papel extraordinariamente injusto e
nojento na vida econômica dos Países. Tanto que o filósofo e poeta alemão Bertold
Brecth disse que se quisermos roubar mais e melhor que fundássemos um banco. A
senhora não desconhece quem os bancos europeus são os maiores responsáveis pela
derrota dos direitos sociais causada pelo desemprego e pelos riscos de guerras
naqueles países antigos. Nesse sentido a proposta de governo elaborada por seu grupo neoliberal de independizar o Banco Central beira a pornografia e a perversão política. Seria como entregar as galinhos dos ovos de ouros às raposa carnívoras e vorazes da carne nacional. Pergunto: como a senhora quer que nosso povo creia na
sua proposta de "nova política" com banqueiros gestando a política nacional? Isso
o senhor Fernando Henrique Cardoso e a ditadura já o fizeram e sabemos o que
aconteceu com nosso País, sendo que a senhora o faria ainda pior do que ele. Ou a senhora imagina que é possível governar para o interesse nacional e da justiça social com o principal órgão de poder nas mãos do perverso sistema financeiro?
É
preocupante também, além das companhias enumeradas, os seus apoios como os do
Clube Militar, compostos de militares odiosos golpistas da ditadura, Caetano
Veloso, que não sabe quase nada de política, que apoiou Fernando Henrique Pedroso
no seu desastrado reinado e de Lobão, empregado da direitista revista Veja, que se
somam como espectros de mau agouro de sua nova política. Pergunto-lhe missionária
Marina, o que na sua proposta de novidade na política atrai pessoas tão
suspeitas?
No
final da semana passada a mídia repercutiu o entusiasmo dos bancos
estadunidenses e ingleses com a possibilidade de sua eleição. Por que aves de
alto poder de rapinagem admiram tanto sua “nova política”, se pertencem a um mundo velho de exploração e
massacre dos povos, usurpando suas riquezas e seus direitos? É verdade, nesse sentido, que a senhora romperia o novo caminho que se desenha no mundo com a formação dos blocos sul americanos e o BRICS para se realinhar ao imperialismo americano da OTAN, fabricante de guerras, xerife do mundo e assaltante de nossas riquezas em nome do sacrifício da justiça social e da soberania nacional?
Assustamo-nos,
missionária candidata, com os elaboradores de sua política econômica, como Lara
Rezende, um dos inspiradores do sequestro das poupanças promovido pelo governo
Collor, como o economista Eduardo Gianneti, da equipe do governo Fernando Henrique
Cardoso, praticantes do velho catecismo de destruição do Estado e do tecido
social, de projeto acumulador de renda e de riquezas, privatista e entreguista
de nossas estatais. Como a senhora pretende organizar sua "nova política" com
formuladores tão velhos e carcomidos como eles?
Como
a senhora pretende afirmar sua "nova política" se pensa em abandonar o pré-sal,
este bem precioso do povo brasileiro? A senhora entregará o pré-sal à ganância
dos Estados Unidos, que o desejam ardentemente? Se a senhora assim proceder
como praticará a almejada "nova política" se a submissão ao imperialismo é
atitude de governantes velhos, somente voltados corruptamente ao velho e decadente
imperialismo?
Frequentemente
a mídia mostra a senhora sempre acompanhada por Neca Setúbal, por altos
figurões da velha política sem nunca a vermos acompanhada pelos trabalhadores e
por suas melhores lideranças, emergentes das centrais sindicais. Como pretende
envidar sua proposta de nova política sem os legítimos protagonistas da
produção, a classe operária e os camponeses?
Há
poucos dias um dos evangélicos mais raivosos, conservadores, fundamentalistas e
homofóbicos, Silas Malafaia, gritou pelo Twitter lhe dando prazo para rever sua
política para a diversidade sexual e o direito de formar famílias com casamento
com pessoas do mesmo sexo. Prontamente, como que obediente a uma ordem superior,
a senhora voltou atrás e desfez sua própria orientação e de seu atual partido,
perdendo, inclusive, o apoio do jovem coordenador da parte de seu plano de
governo referente à diversidade sexual. Como pretende implementar sua nova
política com pessoas tão atrasadas dando pitacos no seu governo, como é o caso
dos fundamentalistas que põem fogo no mundo incitando o ódio?
Sei
que a senhora conta na sua base de apoio com grupo que desde a ditadura, ainda
na clandestinidade, que formou novo partido, sempre pregou a formação de um
governo de unidade nacional. Como a senhora pode formar governo de unidade
nacional com conservadores, com neoliberais e com uma política econômica
dominada pelo mercado, classificado pelos estudiosos mais lúcidos como
necrófilo, assassino e ladrão das energias do povo e da nação?
Enfim,
missionária Marina Silva, tenho muitas perguntas a mim colocadas todos os dias
por meus alunos e pelo povo com o qual convivo. Na sua nova política há espaços
para responder o povo? Teremos protagonismo ou, como pelo jeito se demonstra,
nos sobrarão os cassetetes da polícia provinda da ditadura e os chás de bancos
com cafezinho e água nas antessalas do poder sem povo?
Perdão,
missionária Marina Silva, não tenho a intenção de magoá-la, mas como a senhora
propõe uma "nova política", que aqui no meio do povo ninguém entendeu do que se trata,
ouso lhe perguntar.
Respeitosamente
abraços fraternos, amor pelo Brasil e justiça para nosso povo.
Dom
Orvadil: bispo cabano, farrapo e republicano.
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