Queridíssima Pastora Railda
Marinho de Brito
Minhas emoções sangram com
tua dor em face da morte de tuas duas filhas no acidente terrível no qual
dirigias teu automóvel. Mesmo que o tempo te distancie do fato tua dor parece
crescer movida pela perda e pela saudade, como percebi ontem no Facebook.
Chorei e rezei por ti, minha irmã. Escrevi-te comentário afirmando minha
solidariedade. Reitero que te sou solidário e sofro contigo. Somos amigos e nos
recordamos de nossas lutas na juventude.
Escolhi teu nome para
dedicar-te esta carta. Sei que não é fora de propósito. És pastora de uma
igreja que tem história desde seu nascimento na Inglaterra com o líder que amou
os pobres e os defendeu da burguesia industrial, gananciosa e egoísta. João
Wesley alertou sua igreja original quanto a posição acomodada no contexto de
exploração das massas trabalhadoras e dela saiu por não ver na Igreja da
Inglaterra postura social adequada ao cristianismo original. Tua Igreja
Metodista no Brasil chegou a fazer história ao construir excelente Credo
Social, o compromisso sério com a educação e com o ecumenismo dos direitos humanos.
Desgraçadamente se afastou oficialmente de tudo, pensando em vender suas
maiores universidades para fazer caixa, como as outras que enriquecem a custa
do povo. Rasgou seu credo social e pisou no sangue ecumênico. Sua agenda segue a
perversa teologia da prosperidade, como se vê pelo Brasil a dentro, já que
renunciou o fazer teológico comprometido com o Jesus palestino e seus
preferidos, os oprimidos.
O vai e vem de tua igreja lamentavelmente
não é exclusivo de uma denominação. É verdade que a aludida pregação de que
igreja e política não se misturam é pura falácia, é grossa mentira. As igrejas
historicamente sempre estiveram de um lado ou de outro no cenário político.
Muitas agiram ou se omitiram a favor das mortes e exclusões dos inocentes e
injustiçados. Mesmo no silêncio público em face da barbárie das guerras e
massacres econômicos impostos pelas oligarquias de todos os tempos as igrejas
se aliaram à direita, aos criminosos, aos mafiosos e assaltantes das economias
populares e nacionais.
Agora as igrejas evangélicas
de tez fascista, nazista e direitista neoliberal contam com um declarado
candidato à Presidente da República. O pastor Everaldo, presidente do Partido
Social Cristão, é o candidato evangélico à Presidência da República.
Ontem em entrevista aos mal
educados William Bonner e Patrícia Poeta da Rede Globo, em nome de quem
agrediram a Presidenta Dilma, Everaldo mostrou cara absolutamente superficial, irresponsável
e traidora do seguimento que representa.
A superficialidade aparece
quando dá respostas senso comum sob encomenda neoliberal, com conceitos
rasteiros que não domina. Vai da falida e neoliberal meritocracia à balela do
empreendedorismo do trabalho em equipe com os melhores técnicos brasileiros
para governar o Brasil, sem o menor senso político. Gaguejou até quando foi
superficial e banal. Seu conceito de família é o velho e surrado discurso
fundamentalista excludente dos diferentes, prenhe de homofobia e de preconceitos.
Mostra um conceito de família onde não há conflitos, problemas de ordem alguma,
bem ao estilo das fotos americanas com pai, mãe e filhos sorridentes e felizes,
graças à exploração dos países dependentes. Até mesmo seu sorriso é superficial
e sua compostura desarranjada pelas perguntas dos apresentadores grosseiros.
A irresponsabilidade de sua
fala sobe aos infernos quando mente ao dizer que a Petrobras é foco de
corrupção, bem ao estilo das manifestações da mídia oligárquica e dos alienados
sociais brasileiros manipulados pela direita. Sua irresponsabilidade pinta-se
de falta de respeito ao Brasil e ao povo brasileiro quando diz que privatizaria
a Petrobras e entregaria o Estado ao bando de perversos do mercado, este antro real
de corrupção e de danos nacionais, políticos, econômicos e sociais. Seu cinismo
o leva a dizer que este governo da Presidenta Dilma quer o Estado metido em
tudo.
A traição de Everaldo, o
evangélico da Assembleia de Deus do Rio de Janeiro, mostra-se semelhante a
Joaquim Barbosa e outros que trabalharam como operários na juventude e depois
arranjaram uma forma de trair a classe trabalhadora e passar com mala e cuia
para o lado da classe dominante. Everaldo não teve vergonha de insinuar que
mentiu para Brizola, Lula e Dilma ao aliançar-se com eles, governantes
trabalhistas, nacionalistas e estatistas quando, na verdade, sempre pensou como
neoliberal oportunista e mascarado.
O pastor Everaldo é o tipo
de cristão que por aí se move em toda a parte. Afirmam e pregam fanaticamente
sobre Jesus, que não conhecem ou negam seu projeto, mas quando são empresários,
militantes partidários ou detentores de nacos do poder agem como quaisquer
burgueses: mentem, fofocam, traem, demitem sem diálogo e usam as pessoas.
O deus de cristãos como o
pastor Everaldo, histéricos como o pastor
Silas Malafaia, o pastor Daniel Vieira, que desejou a morte da Presidenta Dilma,
e milhares de outros, é o dinheiro e o ritual que adotam para suas vidas é o
mesmo do capitalismo: exploram, são autoritários, manipuladores, massacram roubando mais valia dos trabalhadores
e demitem quando não os querem mais. Tudo o que querem é o poder para destruir
as relações sociais e meios para se enriquecerem mais e mais.
Essa gente superficial,
irresponsável e traidora segue o modelo dos vendedores do templo contra quem
Jesus se insurgiu a chicotadas. Jesus reverte o modelo escravocrata: os poderosos
arrebentam humanos escravizados a chicotadas enquanto Jesus dá chicotadas nos
poderosos e vendilhões, como os pastores que mencionei acima.
Esses pastores, com Everaldo
junto, são escoriais sociais e permissividade prejudicial a tudo que os
verdadeiros cristãos seguidores do projeto de libertação dos pobres fazem. O
que aqueles dizem e fazem andam na contramão do verdadeiro cristianismo porque traem
a essência do que Jesus ensinou que se respresenta no amor e na cruz e não em
tronos e privilégios, frutos da corrupção e do roubo burgueses.
Abraços críticos e fraternos
na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano,
farrapo e republicano, em tua solidariedade, minha irmã Pastora Railda.
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