Professor Fernando
Lembro de que numa das aulas de pós-graduação que fizemos
juntos que disseste, e o fizeste para todos ouvirem, que participaste do que
chamaste de “revolução de 1964” para livrar o Brasil de cair nas mãos do
comunismo.
Meu caro, tu não sabes, mas eu me toquei me perguntando se eu
sofria um pesadelo ou se era verdade o que ouvi de ti. Foste militar da ativa
na oportunidade do golpe militar.
Sinceramente Fernando, se eu dirigisse faculdade ou fosse
coordenador de qualquer curso superior tu jamais lecionarias nesse estabelecimento.
Consigo imaginar as mentiras e manipulações teóricas que fazes em sala de aula,
prejudicando a verdade e a justiça na construção do conhecimento com teus
alunos. Pior de tudo que lecionas economia e, segundo teus alunos, exaltas o
neoliberalismo como único caminho político a seguir. Rapaz, tu és um criminoso
e cometes crimes em sala de aula. Sei que lecionas ainda porque és cercado por
apoio medíocre de um coordenador que persegue professores e que serve de ponta
de lança da reação nessa faculdade.
Em todo o caso sugiro que leias e indiques aos teus alunos o
texto histórico escrito pelo Jornalista Paulo Moreira Leite, que posto abaixo.
Sabes que neste 1º de abril de 2014 lembraremos do trágico
golpe militar, do qual participaste, contra a democracia, contra o povo
brasileiro e contra o Brasil e seu futuro.
Vale a pena ler o texto de PML no qual faz transcrição de gravações
de encontros com o assassinado presidente John Kennedy e sua decisão de
promover invasão do Brasil para derrubar e matar o Presidente Constitucional
João Goulart.
O texto, repito, vale a pena ler e compartilhar, mostra a
desistência do presidente estadunidense de ele mesmo enviar topas, navios,
aviões e armamentos militares para varrer Jango do poder.
Chama a atenção o nível de sujeira em termos de corrupção com
dólares enviados para comprar candidatos e parlamentares da oposição a Jango.
Muito dinheiro. Esse problema que rola hoje pela direita ao fazer caixa para as
campanhas eleitorais, para comprar votos e eleitores, para corromper candidatos,
muitas vezes com dinheiro que nasce do povo, do poder público, desviado de
prioridades sociais, é história velha e sempre repetida, notadamente tingida de
vergonha e lixo.
A sujeira também é marcante em termos da prepotência
imperialista no sentido de se intrometer nos assuntos internos do País é
escândalo sempre presente. Hoje o mundo se levanta em protesto à espionagem
promovida por Obama, como forma de interferir nas nações para controlar suas decisões.
Essa é apenas uma das manifestações da arrogância do império, coisa muito
nítida nessa matéria do PML.
Ressalto a covardia de militares que deveriam obedecer ao
presidente brasileiro, que movidos pelo ódio e pela traição à Pátria, vendem a
soberania do Brasil, o Presidente Brasileiro e a democracia ao grande inimigo
do norte e aos interesses mesquinhos dos abutres do mundo.
É digno de nota o papel diplomático na armação do golpe. As
embaixadas que deveriam servir de pontos privilegiados de aproximação e união
dos povos se transformaram em pontes para tráficos de traição, de dinheiro, de
poder destruidor e dominante contra o povo brasileiro. Esforços de usar organizações
internacionais como a ONU e a OEA para promover o golpe mostram o quão
mesquinhos foram e muitas vezes são os senhores que voam em todas as direções
como donos do mundo e de nossas riquezas.
Enfim, Fernando, com tristeza se percebe que o povo, os
trabalhadores, a sociedade e a Pátria nada valem no jogo de interesses dos
poderosos. Eles decidem quem governa, sobre os destinos da democracia, as vidas
das pessoas e que regime deve atuar, preferencialmente que se preste aos maus
propósitos dos assaltantes de nossas riquezas.
Os golpistas não se movem por nenhum amor pelo futuro do
País, pela juventude, pelo desenvolvimento, pela extinção da miséria e da
pobreza. Pelo contrário, extinguir a miséria e a pobreza é coisa de comunistas.
Por isso nada fazem pela justiça social e roubam tudo o que podem dos recursos
do povo.
Sei de teu ódio por mim e dos progressistas, Fernando, tanto
que me excluíste do Facebook e mal me cumprimentas, parecendo nutrir medo de
mim. Mesmo assim sugiro que leias o texto abaixo e compartilhes com muitas
outras pessoas.
Abraços críticos e fraternos na resistência e na luta pela
justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano.
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Paulo Moreira Leite
Diretor da Sucursal da ISTOÉ em
Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente
em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época.
Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".
COMO KENNEDY APOIOU GOLPE DE 64
Primeiras medidas práticas para ajudar movimento que derrubou Jango foram tomadas em junho de 1962
Entre tantas reportagens que
fiz em minha vida – boas, médias, medíocres – poucas me deram tanta
satisfação como o texto que você poderá ler abaixo. Eu era
correspondente da Gazeta Mercantil, em Washington, quando tive acesso a
transcrição de uma gravação de uma conversa de John Kennedy na Casa
Branca, em junho de 1962. Num encontro com o embaixador Lincoln Gordon,
foi nesta ocasião que Kennedy tomou as primeiras medidas práticas para
apoiar o golpe militar contra Jango, como definir o envio do adido
militar Vernon Walters ao Brasil. No plano ideológico, Kennedy lembrou
que apoiar golpes de Estado era sempre perigoso, pois comprometia o
discurso democrático norte-americano mas sublinhou que a ameaça
comunista poderia ser um bom pretexto.
Publiquei essa reportagem em julho de 2000. Republico agora, no início do ano que marca a passagem de 50 anos do golpe.
Gazeta Mercantil Sexta-feira, 21/22/23 julho de 2000
Transcrições de conversas
entre John Kennedy e assessores revelam que o presidente dos EUA
autorizou apoio financeiro aos adversários de Jango
Paulo Moreira Leite, de Washington
Pertence à Universidade de
Virgínia a nova glória acadêmica nas pesquisas sobre envolvimento do
governo americano no golpe militar de 1964. Sob coordenação do prof.
Timothy Naftali, a universidade prepara para a publicação, em livro, das
transcrições de conversas ocorridas na Casa Branca durante o governo de
John Kennedy. É um projeto caro, demorado e cuidadoso. O lançamento do
primeiro volume, chamado John F. Kennedy: As Grandes Crises, Volume 1,
está marcado para o início do ano que vem. (início 2001)
Na década passada ocorreu uma
primeira divulgação das conversas de Kennedy. Mas era uma versão
selecionada , com trechos e frases censuradas. Este jornal teve acesso
com exclusividade a trechos inéditos da transcrição integral de um
diálogo de 28 minutos no Salão Oval da Casa Branca, em 30 de junho de
1962, cuja autenticidade é assegurada por dois pesquisadores americanos.
Estão presentes John Kennedy e o embaixador Lincoln Gordon, além de
Richard Goodwin, assessor graduado do presidente americano.
Os três falam da situação
política no Brasil. Também conversam sobre os primeiros passos do
movimento militar que, um ano e nove meses depois, iria derrubar João
Goulart. Pela transcrição, fica claro que Kennedy deu sinal verde para o
golpe militar.
Toda pessoa que já tentou
decupar uma fita sabe que a tarefa de reconstituir uma conversa envolve
um processo trabalhoso e delicado. Nem todas as palavras são ouvidas com
clareza, e muitas vezes o significado só pode ser inteiramente
compreendido quando se avalia o conjunto da frase e mesmo a conversa por
inteiro — e só depois disso se torna possível reconstituir um diálogo
com precisão. "Um leigo não entende nada do que ouve", explica um
pesquisador que participou dos trabalhos de transcrição. "A qualidade do
som é muito ruim, é difícil distinguir as vozes. As vezes se gasta 90
horas para transcrever frases que duram um minuto."
A decupação dos diálogos na
Casa Branca foi deita em várias etapas e produziu versões diferentes. A
que este jornal pôde ler não é considerada definitiva. É possível que,
por intermédio de novas audições, ocorram pequenas alterações de
palavra, aqui ou ali. O sentido geral do que se diz, contudo, parece
estabelecido.
Em abril de 1962, o presidente
João Goulart fizera uma visita a Washington que, dadas todas as
circunstâncias de seu início de governo após o tumulto provocado pela
renúncia de Jânio Quadros, foi considerada um triunfo. Quando John
Kennedy e Lincoln Gordon se encontram na Casa Branca, dois meses depois,
o ambiente entre os dois governos já havia piorado tanto que Kennedy
resolvera adiar uma prometida viagem ao Brasil.
Também surgiam os primeiros
sinais de descontentamento nos quartéis. Antes de ir para Washington,
Gordon recebera em audiência o almirante Silvio Heck, um dos mais ativos
golpistas da época, que marcara uma conversa reservada para anunciar
que havia uma conspiração em andamento. "Ele não pediu apoio", conta
Gordon. "Só disse que gostaria que meu governo fosse informado do que
estava acontecendo."
No Salão Oval da Casa Branca,
um dos primeiros encontros em pauta, conforme a transcrição, envolve as
eleições parlamentares no Brasil naquele fim de ano. Falava-se de votos e
também de dinheiro. Oito milhões de dólares, aprende-se, foi a quantia
estimada ali, para reforçar o caixa de candidatos alinhados com a
oposição a Jango. Lê-se uma advertência de Gordon, explicando que, dadas
certas característica da política brasileira, não se deveria esperar
uma prestação de contas rigorosa sobre o dinheiro — como foi gasto,
aonde, com que. Também se fica sabendo que essa soma arrancou uma
expressão de espanto, quase protesto, de John Kennedy. A seguir o
presidente norte-americano comenta que era muito dinheiro para se torrar
numa eleição. A queixa presidencial teve efeito. A CIA acabou liberando
a verba — mas não deu tudo o que se pedia. A conta foi de cinco milhões
de dólares.
Outro ponto da conversa envolve
os primeiros passos da conspiração militar. Gordon começa falando como
bom democrata. Explica que é contrário a que os EUA encoragem um golpe.
Diz que seria preferível organizar as forças adversárias de Goulart para
ir diminuindo os poderes do presidente brasileiro. O embaixador fala
que só admite a idéia de golpe em último caso e deixa claro que, em sua
opinião, o principal responsável pelo desfecho da crise será o próprio
presidente.
Aos poucos, Gordon evolui em
seu pensamento, porém. Explica que a melhor política seria que o governo
americano deixasse claro que não era necessariamente adversário de uma
operação militar, desde que ela fosse realizada para impedir que
houvesse uma ruptura capaz de retirar o Brasil da área de influência
norte-americana para transformá-lo num satélite soviético. A leitura da
transcrição demonstra que John Kennedy acompanha atentamente a conversa,
auxilia Gordon em seu raciocínio, complementa e enfatiza as frases do
embaixador.
Há um momento em que Lincoln
Gordon vai dizer por quê se pode apoiar um golpe militar e cabe ao
presidente Kennedy completar a frase, explicando que é para impedir a
vitória do comunismo.
Assessor de John Kennedy, e de
diversos presidentes que vieram depois, democrata linha dura que depois
se mudou para o campo oposto, tornando-se um dos mais ativos e
respeitáveis adversários da guerra do Vietnã, Richard N. Goodwin também
está presente à conversa.
A transcrição registra uma
divergência entre ele e Gordon quanto a natureza do governo João
Goulart. O embaixador tem uma visão mais otimista, comparando Jango a
Perón. Goodwin compara Goulart a Gamal Abdel el-Nasser, o ditador do
Egito, e mesmo a Franz Bronz Tito, patrono da Iugoslávia, ambos líderes
de umas das grandes líderes de uma das grandes dores de cabeça da
diplomacia americana da época. Encabeçavam o movimento dos
não-alinhados.
Goodwin também deixa claro que o
movimento militar só terá apoio se tiver um caráter constitucional.
Passando as questões práticas, Goodwin se revela preocupado com as
plenárias da Organização dos Estados Americanos, nas quais, inquietos
com golpes militares e levantes cada vez mais freqüentes, os
representantes costumavam aprovar moções de repúdio a esse tipo de
intervenção.
A transcrição registra que
Goodwin se mostra temeroso de que esse tipo de manifestação da OEA acabe
por desencorajar os militares brasileiros. Também se lê que Kennedy
concorda com essa opinião.
"Essa transcrição faz todo
sentido", diz um militar brasileiro que acompanhou cada passo do golpe.
Existem elementos importantes nessa transcrição. Sempre se soube que a
CIA havia organizado uma operação clandestina para ajudar a oposição na
campanha de 1962 — a gravação indica que essa decisão teve respaldo do
próprio John Kennedy. também fica claro que a Casa Branca estava
preocupada com o que ocorria no Brasil e nunca deixou de considerar a
alternativa militar. Isso não é novidade — mas não deixa de ser curioso
observar a franqueza e descompromisso com que o assunto é tratado.
O diálogo inteiro, na verdade,
não durou mais do que 28 minutos. Depois dele, o golpe militar já era
uma saída considerada em Washington.
Este jornal ouviu longamente o
embaixador Lincoln Gordon, um dos personagens centrais desse encontro.
Gordon diz recordar-se perfeitamente dessa reunião na Casa Branca mas
lamenta não ter tido acesso a transcrição da fita "para poder refrescar
minha memória".
O embaixador recorda que é
natural que se falasse de temas políticos numa conversa com o presidente
mas não se lembra de o encontro ter descido a detalhes como mandar um
pacote de dólares para ajudar os adversários do presidente João Goulart.
"Isso aconteceu mesmo, todo mundo sabe, mas não sei se foi nessa
conversa" diz. "O que se dizia, na época, é que se havíamos feito isso
na Itália, em 1948, e poderíamos fazer o mesmo agora." Coincidência ou
não, esse argumento relacionado aos italianos apareceu na conversa de 30
de junho de 1962, informa a transcrição.
Foi Goodwin quem lembrou o
precedente da ajuda à democracia-cristã contra os comunistas, no pós
guerra, no momento em que se falava sobre o envio de dinheiro à oposição
brasileira.
Não se deve diminuir nem
exagerar o papel de John Kennedy no golpe militar de 1964. O presidente
americano não estava falando em dar início a uma operação destinada a
derrubar João Goulart. Recebeu a informação de que havia um movimento
embrionários nos quartéis e avisou que, sob determinadas condições, essa
conspiração podia ser apoiada.
A convicção de que se devia
prestar atenção à alternativa já era poderosa na época . Uma das
primeiras conseqüências práticas da conversa de 30 de junho foi a
nomeação de um novo adido militar. "Kennedy disse que eu precisava ter o
melhor oficial que conseguisse," conta o embaixador. O nome definido
foi Vernon Walters, então coronel, que falava português e conhecia a
cúpula do Exército. Naqueles tempos, o coronel Walters estava servindo
na Itália. Por determinação de Kennedy, Gordon dobrou a oposição do
Pentágono e do secretário de Defesa, Robert McNamara, conseguindo levar
Walters para o Brasil.
No Salão Oval, Lincoln Gordon lembrou que a quantia necessária para financiar a oposição de Jango era de US$ 8 milhões.
Assessor de Kennedy, Richard Goodwin temia que a reação da OEA a um golpe no Brasil pudesse desencorajar os militares.
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