Frei Betto*
Palavras se gastam com o tempo. É o caso de direita e esquerda. Hoje, o que
é ser de direita ou de esquerda? No Brasil, a esquerda está no poder?
Suponhamos que sim. Mas quem são os líderes de sua base aliada? Todos
conhecemos sobejamente: Sarney, Collor, Renan Calheiros, Jáder Barbalho,
Maluf, Romero Jucá, Kátia Abreu...
Como um governo de um partido de trabalhadores pode se dar tão bem com o
patronato brasileiro e manter relações tensas com movimentos sociais, como
indígenas e sem terra? Fora o PSDB e alguns pequenos partidos, todos os
setores conservadores da sociedade brasileira apoiam o governo, incluindo
empreiteiras, bancos e mineradoras, principais fontes de financiamento de
campanhas eleitorais.
Espero que a reforma política – quando houver – impeça candidatos de
receberem grana de pessoas jurídicas, e as doações de pessoas físicas fiquem
limitadas ao teto de um salário mínimo. Em dez anos de governo petista, o
Brasil melhorou muito, graças ao aumento real do salário mínimo, à redução
do desemprego, à política externa independente.
O atual governo é muito diferente do governo FHC. E muito semelhante.
Prometeu investigar as privatizações e privatizou o Campo de Libra, que
abriga petróleo, um produto estratégico; rodovias, portos e aeroportos, sem
prestar atenção na queda do lucro da Vale após ser privatizada. Segundo o
Ipea, órgão federal, a desigualdade social entre os mais ricos e os mais
pobres no Brasil é de 175 vezes! Por que não são tomadas medidas estruturais
para reduzi-la?
Enquanto o orçamento da República destinar mais de 40% do nosso dinheiro
para pagar juros, amortização e rolagem da dívida pública, e menos de 8%
para a Saúde e a Educação, o Brasil continuará sonhando em ser o país do
futuro.
Frei Betto é filósofo e escritor, autor de “O que a vida me ensinou”,
entre outros livros. Foi assessor especial do presidente Lula durante os
anos de 2003 e 2004. Extraído do portal Correio da Cidadania
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