O novo prefeito de Nova York se elegeu com uma bandeira que devia ser brasileira: o combate à desigualdade social
Postado em 06 nov 2013
Diz o NY Times: “Ele deu voz aos nova-iorquinos esquecidos – os 46%
que vivem na pobreza ou perto dela, os 50 000 sem teto, os milhões que
estão fora das áreas de segurança econômica e afluência aristocrática.”
O Times estava se referindo a Bill de Blasio, 52 anos, democrata que
se elegeu espetacularmente prefeito de Nova York. Surgido do nada dentro
do mundo político americano, Blasio venceu as eleições com 40 pontos de
diferença sobre o candidato republicano. Não foi uma vitória, foi um
esmagamento.
Blasio se elegeu com a seguinte plataforma: combater a desigualdade
social, combater a desigualdade social e ainda combater a desigualdade
social.
Para isso, em sua plataforma estavam coisas como o aumento dos impostos para os ricos.
Pausa para uma reflexão: você vê algum candidato à presidência no Brasil falando em aumentar imposto dos ricos?
Bem, Blasio foi duramente atacado pela plutocracia novaiorquina.
Vasculharam seu passado e brandiram contra ele um passado ativista no
qual ele se colocou a favor dos sandinistas na Nicarágua. Até sua lua de
mel em Cuba foi usada contra Blasio.
Mas os novaiorquinos não ouviram a elite financeira. E abarrotaram
Blasio de votos numa vitória que, para muitos, simboliza o retorno aos
Estados Unidos de uma coisa chamada ‘esquerda’. Blasio se declara um
“socialista democrático”.
Blasio é uma figuraça. Ele é casado com uma mulher negra que, antes
do casamento, só tivera relacionamentos lésbicos. Os dois têm dois
filhos adolescentes, um menino e uma menina.
O garoto tem um cabelo afro que acabou virando destaque na mídia
americana. Um vídeo em que o menino fala do pai viralizou nos Estados
Unidos.
Blasio, de origem italiana, teve uma infância conturbada. O pai
perdeu uma perna numa guerra e mesmo assim, ao voltar, foi perseguido
pelo Estado, sob a acusação de ser comunista.
O homem se perdeu: passou a beber, se divorciou e se afastou da
família. Acabou por se matar com um tiro de rifle no peito. “Com ele
aprendi o que não fazer”, diz Blasio. Ele tirou o sobrenome paterno em
sua vida profissional e ficou com o da mãe.
Blasio conta que teve conversas interessantes com empresários que o
viam com desconfiança. A um deles, cujo avô era um homem sem nada, ele
lembrou que em outros tempos gente pobre tinha oportunidade de ascender.
“O empresário, ao lembrar do avô, entendeu o meu ponto”, diz Blasio.
Obama, que apoiou Blasio, foi uma enorme decepção para os pobres americanos.
Blasio parece ser diferente. Tem mais conteúdo e foi eleito para
promover a desigualdade social. Ele falou muito na parábola de Dickens
de “duas cidades” dentro de uma só, uma riquíssima e outra miserável. (É
uma imagem absolutamente adequada ao Brasil.)
Num gesto notável, estendeu a mão para a comunidade islâmica de Nova
York, alvo de espionagem constante depois do Onze de Setembro. Disse que
a perseguição e o preconceito vão acabar em sua gestão.
Os novaiorquinos deram uma chance à sorte ao escolhê-lo maciçamente e
preterir o candidato republicano sob o qual as “duas cidades”
permaneceriam e, com elas, a pobreza abandonada de milhões de pessoas.
Parabéns, mais que a Blasio, aos novaiorquinos.
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