A ideia de ter um filho me assustou: Que tipo de homem ele
se tornará quando crescer? Aqui está o que eu aprendi sobre como criar
um homem com compaixão
Por Christopher Zumski Finke, original em Yes! Magazine. Tradução de Isadora Otoni.
Minha mulher e eu tivemos Rhodes, nosso primeiro filho, há quatro
meses. Isso é o que eu mais me lembro daquela primeira semana: o cheiro
de sua pele e sua respiração quando ele dormia no meu colo em nossa cama
– pequeno, quentinho, e frágil, como um ovo. Eu respirava o cheiro da
vida mais nova que já encontrei enquanto ele dormia.
Ele não era pequeno demais, mesmo assim eu ficava maravilhado por
como esses novos seres humanos chegavam tão minúsculos. Nós, a criatura
mais dominante da Terra, começamos a vida tão desamparados, e vermelhos,
e bonitos. Sabia, enquanto ele descansava apertado contra meu coração,
que faria qualquer coisa para protegê-lo, amá-lo, e apresentá-lo ao
mundo.
Mês passado, quarto homens na Índia foram sentenciados a morte por
estuprar e matar com tanta brutalidade que quase não acreditei. Na
semana anterior, quatro jogadores de futebol americano da Universidade
Vanderbilt foram acusados de estuprar uma mulher inconsciente (algo
muito parecido como os eventos do último ano em Steubenville, Ohio). E
durante a primavera anterior, pouco antes de Rhodes nascer, Ariel Castro
foi preso em Cleveland por aprisionar três mulheres – sequestrada
quando jovens – em sua casa durante dez anos.
Essas e outras histórias constantemente enchem nossas redes sociais,
programas de tevê, jornais, mídias sociais, blogues… É quase impossível
evitar histórias de violência, estupro, e dominação. Viver decentemente
já é difícil suficiente sozinhos, e agora preciso criar um filho
corretamente em um mundo que é, em parte, caracterizado pela violência
masculina.
Louis CK resume isso melhor: “Não existe ameaça maior às mulheres do
que os homens. Nós somos o número um em ameaça às mulheres. Globalmente e
historicamente, nós somos o número um em danos e lesões às mulheres”. E
eu me preocupo que ele esteja certo.
Agora que eu sou um pai, me deparo com essa questão constantemente:
Como criar um filho com compaixão e dignidade? Um homem que respeita
mulheres?
Menino ou menina?
No começo da gravidez, minha mulher e eu discutimos se preferíamos
criar um menino ou uma menina. Isso estava totalmente fora do nosso
controle, mas a conversa mexeu comigo: menino ou menina? Nós criamos um
mundo de coisas belas assim como coisas terríveis. Eu submeteria um
menino ou uma menina a isso?
Enquanto esperava nossa criança, minha preocupação quanto às notícias
de violência sexual atingiram novos patamares, e influenciaram o que
pensava sobre criar um menino ou uma menina.
Uma menina, o primeiro pensamento que tive, poderia estar protegida.
Me preocupei com sua segurança, mas pensei que poderia protegê-la das
ameaças domésticas contra mulheres.
Mas um menino, isso realmente me assustou. Meninos são as ameaças
domésticas contra mulheres. Se eu tivesse um menino, nós deveríamos
criar um homem. E que tipo de homem ele seria?
Tenho dificuldades imaginando meu filho como qualquer outra pessoa
diferente da criança inocente que ele é hoje. Minha hipótese é essa: Eu
serei um bom pai e ele será um bom garoto. Mas eu não posso ver o
futuro. Eu o amo e quero que ele ame aos outros, quero que ele seja
gentil, seja responsável por suas ações, e trate as outras pessoas com
respeito. Eu quero que ele aprenda com o homem que escolheu esse
comportamento, e não o poder e abuso.
Homens como Pacificadores
“Isso é endêmico.” Esse é Ed Heisler, diretor executivo da Homens
como Pacificadores, falando sobre as estatísticas de violência sexual e
abuso doméstico.
“Essa é o ar social que os jovens estão respirando enquanto crescem”,
ele me disse. “A mídia, o ambiente esportista, o jeans, os adultos que
vendem jeans, os pais, as professoras que temos nas escolas, os líderes
religiosos – todos criam um ambiente que normaliza a dominação e o
controle do homem.” Ele escolheu a palavra certa: endêmico. “É assim há
algum tempo e permanecerá assim até que algo no ambiente social mude.”
A entidade Men as Peacemakers (Homens como Pacificadores, em
tradução livre) foi fundada em Duluth, após a comunidade se chocar com
uma série de assassinatos cometidos por homens nos anos de 1990. Quando
os cidadaõs se reuniram para discutir o combate à violência em sua
cidade, a maioria presente era de mulheres. Isso preocupou alguns dos
homens, que convocaram um retiro de 55 homens da área para discutir seus
papéis e suas responsabilidades para diminuir a violência. Uma das
iniciativas que nasceu do encontro foi a Men as Peacemakers, cuja missão é ensinar alternativas não violentas a homens e garotos, e que a violência era inaceitável.
Procurei por Heisler com uma questão honesta: Como criar meu filho
para ser um homem preocupado em fazer sua parte para mudar o ambiente
social que subjuga as mulheres?
A entidade tenta mudar esse ambiente incorporando exemplos e mentores por toda a comunidade. Por exemplo, O Festeiro Exemplar,
um programa coordenado com a faculdade College of St. Scholastica,
tenta reformular a cultura de festas na América para uma que é segura e
equitativa às mulheres. Eles fazem isso colocando mentores nas escolas,
colégios, organizações juvenis, e outros lugares onde jovens podem ter
uma conversa honesta sobre sexualidade e festas. E acontece que a
linguagem e a conversa formam as atitudes de homens jovens em relação às
mulheres.
Mencionei uma anedota da edição deste ano da Exposição de
Entretenimento Eletrônico. Durante a apresentação da Microsoft do novo
Xbox One, o jogador masculino e MC deu um beatdown virtual na jogadora antes da audiência ao vivo, dizendo a ela: “Apenas deixe acontecer. Terminará rapidinho.”
Em uma cultura em que o discurso de dominação e abuso são socialmente
permitidos (videogames), essa é a linguagem dominante – e a linguagem
que usamos importa. A língua pode tanto capacitar quanto objetivar.
(Compare os resultados de “college women” e “college girls” na busca do
Google Imagens, e aí você verá o meu ponto).
A Iniciativa dos Campeões, outro programa do Homens como
Pacificadores, reúne atletas universitários com jovens e trabalha
diretamente com as associações esportistas e treinadores para garantir
que a prevenção da violência contra mulheres faça parte de suas missões.
Desde que a tentativa de estupro de Steubenville focou na cultura dos
esportes e na violência sexual, Heisler acredita que esse ambiente é
crítico. Ele usa o caso de Steubenville em um exercício de imaginação em
que pede aos meninos para “pensar naquela jovem de Steubenville como um
garotinho” e considerar como seu ambiente se parece: “De alguma forma
aquelas crianças aprenderam o que seu senso de humor era e como aquela
mulher era apenas um objeto de prazer para os homens – algo que não
importa, no qual eles podem urinar, do qual eles podem usar, fazer o que
eles quisessem e não se importar. Essa não foi a forma como nasceram.”
Então, talvez os homens são a pior coisa que já aconteceu para as
mulheres, mas nós não nascemos assim. Nós aprendemos isso. Mesmo bem
intencionados, jovens responsáveis são capazes de tomar decisões
terríveis se são encorajados, preparados, ensinados a fazer o contrário.
Então, perguntei a Heisler diretamente: Você está falando com um
recém papai. O que é mais importante, diga um conselho fundamental que
você pode me dar para que eu tenha certeza de que as crianças que estou
criando não serão um problema aos direitos humanos?
Sua resposta? Crie um ambiente inteiramente novo para o rapaz:
“Novos pais têm a oportunidade e responsabilidade de pensar
proativamente em como moldar e providenciar um novo ambiente para uma
criança, um que irá definir os papéis e expectativas de igualdade,
dignidade e respeito entre homens e mulheres.”
Isso significa não só ser um exemplo em como tratamos as mulheres, as
parceiras e as desconhecidas em público, mas também em o que achamos
sobre o nosso lar e os lugares que frequentamos.
“Nós estamos tentando criar um mundo em que pais – homens – estejam
dando um passo adiante e pensando de verdade sobre como criarão um novo
ambiente que promova igualdade de gêneros e respeito a mulheres.”
Heisler me disse. “Nós temos uma corrente nos puxando para a direção
contrária. Exige muito esforço para criarmos um ambiente que influencie
nossos jovens.”
Mudando a corrente
Uns dias antes, tomei uma cerveja com Todd Bratulich e Luke Freeman.
Depois de toda a pesquisa sobre violência e dominação, eu queria me
refrescar. Todd é um jovem pastor na Primeira Aliança (First Covenant),
uma igreja comunitária urbana em Minneapolis; Luke, um professor de
ensino médio. E mais importante: assim como eu, eles têm filhos
pequenos.
Conversamos sobre como sermos bons homens que amam suas esposas, seus
familiares e seus amigos, e como queríamos criar um ambiente agradável
para nossos filhos crescerem. Nós todos nos sentimos bem por nos
comprometermos com essas questões, pensando que estamos fazendo a nossa
parte – nós não fazíamos parte da cultura de violência contra mulher.
E então, sentindo a nossa autossatisfação, Luke disse: “Nos
apunhalamos pelas costas porque criamos muitas expectativas para nós
mesmos, apenas vamos seguir em frente e aproveitar o nosso privilégio.”
E percebi, não tinha feito nem um pouco a minha parte. Não ainda.
Tratar minha esposa com amor e gentileza é vital, claro. Mas também é o
mínimo.
Nós devemos ser ativos, criativos, cheios de propostas para estender
esse comportamento em todo momento de nossas vidas se queremos ser
pacificadores, devemos nadar contra a corrente e criar o espaço
necessário para criarmos nossos filhos com empatia e compaixão.
Nós três levantamos nossos copos para brindar o desafio, e voltamos para casa para ver nossos filhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seus comentários serão publicados. Eles contribuem com o debate e ajudam a crescer. Evitaremos apenas ofensas à honra e o desrespeito.