A apuração séria e criteriosa da participação de igrejas na formação do contexto favorável ao golpe militar em 1964, que desembocou em terrorismo de Estado ao prender, torturar e matar cidadãos justos e inocentes, será benéfico para a democracia e exemplar para certos seguimentos que começam a pensar e a agir da mesma maneira preconceituosa e golpista.
Em
seguimentos protestantes, como se provará amplamente, pastores, bispos e
leigos, após o golpe, deduraram pessoas, inclusive de suas próprias igrejas. A
consequência desse comportamento triste foi que muitas pessoas caíram nas mãos
de grupos de esquadrões da morte e de extermínio, foram torturadas, mortas e
desaparecidas. Pior, alguns ditos cristãos ajudaram a torturar, como o Coronel
Brilhante Ustra, que era metodista. Evidentemente que católicos também
participaram do golpe, tanto que o ajudaram a promover com a “marcha da família
com Deus pela liberdade”. Seu princípio facínora era: “a família que reza unida
permanece unida”. Impatrioticamente continuaram a apoiar a ditadura com todo
seu comprometimento no esmagamento da democracia e da soberania nacional.
A
investigação aberta pela Comissão Nacional da Verdade será exemplar na medida
em que denunciar às claras quem, que igrejas e organizações ditas religiosas
participaram dos crimes.
Inúmeras igrejas e "igrejolas" que
se formam todos os dias hoje gritam moralisticamente a favor de preconceitos
diabólicos e com nuances acentuadamente fascistas. Suas intenções são o de
instaurar tempos medievais em nosso País. Lê-se artigos de ditos cristãos evangélicos
e católicos, apegados a questiúnculas e problemas menores no campo moral, com a
clara intenção de combater e boicotar o pouco que nosso povo conseguiu em
termos de democracia e de desenvolvimento. Esses grupos são sustentados por
gordos dízimos arrancados abaixo de chantagem contra o povo e por alianças com
partidos e pessoas de direita. Seu objetivo maior é um projeto de poder. Há
pouco tempo um desses líderes gritões, sem conteúdo e dos mais cínicos,
comandou uma “marcha para Jesus” em Campo Grande – MS e disse para todos
ouvirem que deseja tomar o poder e as TVs.
Como
diria um líder evangélico, confuso, mas contrário a essa histeria: “Deus me
livre um País governado por evangélicos”. Eu não estreitaria essa crítica aos
evangélicos, por isso digo: basta de grupos fanáticos, moralistas, estreitos e com
rompância de serem perfeitos e santos, conservadores e hipócritas. Esse projeto
é sombrio e indesejável.
É preciso
travar o caldo cultural do golpe com a participação dessa gente. A Comissão Nacional
da Verdade pode lançar luzes no que seus semelhantes fizeram no passado. Quem
coordena esse processo é Anivaldo Padilha, meu amigo e pai do Ministro da
Saúde, Alexandre Padilha. Anivaldo é metodista e foi dedurado por um pastor e
por um bispo de sua igreja. Passou anos preso, sob tortura e depois foi
exilado.
Nesse
momento corre-se o risco de dividir o Brasil entre fariseus fanáticos que
pregam moral como conteúdo e pretexto para perseguir e até matar pessoas e os
que lutam por uma sociedade mais justa onde se respeite e se realizem os
direitos humanos.
A
matéria do Brasil 247 abaixo trouxe-me à consciência essas preocupações.
Abraços
críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo
cabano, farrapo e republicano.
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Comissão da Verdade chama igrejas. E a mídia?
"Tivemos setores que participaram ativamente na
criação do clima que possibilitou o golpe e apoiaram a ditadura, foram
coniventes e negligentes em relação às graves violações dos direitos
humanos", informou o coordenador Anivaldo Padilha, metodista e ex-preso
político, ao defender a convocação de religiosos; a justificativa, no
entanto, não foi aplicada a Globo, que fez um mea culpa histórico em
editorial do dia 31 de agosto deste ano sobre decisão de apoiar o golpe
militar de 1964
247 – O grupo
da Comissão Nacional da Verdade dedicado a apurar a atuação das igrejas
cristãs durante a ditadura militar (1964-1985) poderá convocar a depor
religiosos que de alguma forma apoiaram a repressão. O coordenador do
grupo, o ex-preso político metodista Anivaldo Padilha, informou que está
sendo apurada a atuação, por exemplo, dos capelães militares, ministros
autorizados por padres ou pastores a fazer celebrações e prestar
assistência em quartéis.
"A medida que nós conseguirmos
identificar pessoas das igrejas que tiveram uma ligação direta com a
repressão, nós vamos chamá-las para depor. Um exemplo de algo que
estamos investigando é o papel dos capelães militares. Sabemos que eles
acompanharam e estavam lá nos quartéis do DOI-Codi [Destacamento de
Operações de Informações-Centro de Defesa Interna]. Certamente tinham
informação sobre o que ocorria nos porões da ditadura, e alguns deles
chegaram a acompanhar presos políticos".
O grupo de trabalho ouviu na manhã
de hoje (18) mais dois depoimentos sobre a atuação das igrejas durante a
ditadura. "Os depoimentos confirmaram a visão que nós já temos no grupo
sobre o papel das igrejas, que foi um papel contraditório. Tivemos
setores que participaram ativamente na criação do clima que possibilitou
o golpe e apoiaram a ditadura, foram coniventes e negligentes em
relação às graves violações dos direitos humanos. E, ao mesmo tempo,
tivemos setores que resistiram bravamente. Temos pessoas ligadas
diretamente às igrejas que estão entre os mortos e desaparecidos".
A justificativa para a convocação
das igrejas, no entanto, não foi até agora aplicada às mídias, apesar de
o grupo editorial fundado por Roberto Marinho ter explicitamente
admitido apoio ao episódio.
Quase meio século depois do golpe
militar de 1964, a poderosa Globo fez um mea culpa histórico em
editorial do dia 31 de agosto deste ano. Reconheceu que errou ao apoiar a
ditadura, mas disse que seu erro foi compartilhado por outros meios de
comunicação, como Folha e Estado de S. Paulo. "À luz da História,
contudo, não há por que não reconhecer, hoje, explicitamente, que o
apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões
editoriais do período que decorreram desse desacerto original", diz o
texto, divulgado hoje pelo grupo editorial da família Marinho.
Com Vinícius Lisboa, repórter da Agência Brasil
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