De Padilha para Alckmin: "um médico salva vidas"
Em entrevista ao 247, o ministro da
Saúde, Alexandre Padilha, rebateu a afirmação do governador de São
Paulo, Geraldo Alckmin, que disse que "não faltam médicos, mas
estrutura" no setor de saúde. "São Paulo é o estado que mais demandou
profissionais: dois mil e quinhentos", disse ele. Sobre a redução de
leitos apontada pelo Conselho Federal de Medicina, ele minimizou a
crítica: "o novo modelo da saúde fortalece a atenção primária, e não a
internação". Ele lembrou ainda que "um médico, mesmo sem estrutura, pode
salvar vidas", quando o inverso não é verdadeiro
247 -
Corria o ano de 2000, quando o jovem médico Alexandre Padilha decidiu
se aventurar na Amazônia. Infectologista, ele foi um dos primeiros
profissionais do núcleo montado pela Universidade de São Paulo no
município de Santarém (PA). A partir dali, atuou em várias regiões da
Região Norte, tendo travado inclusive contato com tribos indígenas que
ainda hoje preservam suas raízes. Na atenção aos índios Zoé, ele atuou
mesmo sem chegar a conhecer o idioma. "A medicina nos uniu e nos
aproximou".
Padilha conta essa
história para rebater uma crítica externa ao programa Mais Médicos – a
de que médicos estrangeiros não dominarão rapidamente o idioma – e
também uma específica, feito pelo tucano Geraldo Alckmin. Segundo o
governador de São Paulo, não faltam médicos, mas sim estrutura básica no
setor de saúde pública (leia mais aqui).
"As duas coisas devem caminhar juntas, mas um médico, sozinho, pode
salvar vidas, enquanto a estrutura, sem o médico, de nada adianta",
disse o ministro ao 247. Em relação ao idioma, ele afirmou que "é bem
mais rápido fazer com que um médico estrangeiro se comunique bem com
seus pacientes do que formar novos doutores".
Um dos mentores desse
núcleo da USP na Amazônia foi o professor Marcos Boulos, também
infectologista, assim como Padilha. Ao retornar de lá, o hoje ministro
se lembra de uma conversa com o colega sobre a experiência. "Ele me
disse: eu sei o que você está sentindo. Que, mesmo numa região remota e
em condições que pareceriam precárias, ajudou a salvar mais vidas do que
poderia ter feito num grande hospital", recorda-se. Segundo Padilha,
essa experiência pessoal foi vital no desenvolvimento do Mais Médicos.
"O programa, de certa forma, nasce sob essa inspiração: médicos em
regiões remotas, com a supervisão das universidades". De acordo com
Padilha, a presença de um doutor é fundamental para mudar as realidades
locais. "Regiões que não tinham nada hoje têm ambulatórios e até centros
cirúrgicos", diz ele. "E é o médico quem ajuda a sociedade local a
estruturar um modelo de atendimento".
A crítica específica de
Alckmin sobre a falta ou não de médicos é também rebatida com um dado
concreto. "São Paulo é o estado que mais demandou doutores no âmbito do
Mais Médicos: dois mil e quinhentos", diz Padilha. Ele afirma que, mesmo
sendo o estado mais rico da Federação, São Paulo enfrenta escassez de
profissionais em cidades pequenas e médias e também nas periferias das
grandes cidades. Além disso, as prefeituras que demandaram mais médicos
são governadas por praticamente representantes de todos os partidos.
Em relação à falta de
estrutura, Alckmin ganhou apoio do Conselho Federal de Medicina, que
entregou ao Ministério Público um levantamento que aponta a desativação
de quase 13 mil leitos no Sistema Único de Saúde desde janeiro de 2010.
"A crítica é improcedente e parte dos nossos próprios números", diz o
ministro Padilha. "Ela traduz a redução de leitos manicomiais, em função
da nova política de saúde para a questão psiquiátrica, e também revela
que vem tendo sucesso o nosso modelo que reforça a atenção primária, ou
seja, a prevenção", diz ele. Segundo Padilha, com o fortalecimento de
programas como a farmácia popular, que hoje distribui remédios para
várias patologias, como hipertensão, diabetes e asma, foi possível
reduzir drasticamente o número de internações. "O que não significa, por
exemplo, que não tenhamos aumentado os leitos em UTIs, uma antiga
demanda dos usuários do sistema público de saúde", afirma. "Na verdade,
foram fechados leitos que precisavam ser fechados e abertos outros que
precisavam ser abertos".
Padilha sabe que hoje
está no meio de uma guerra. Para atender adequadamente todos os
profissionais brasileiros e estrangeiros no Mais Médicos, foi montada
sala de situação no Ministério da Saúde, que funciona sete dias por
semana, 24 horas por dia. Cada um dos médicos pode ligar para um número
0800, relatando cada problema enfrentado em seu ponto de atuação – desde
questões ligadas à estrutura até problemas pessoais, como, por exemplo,
contatos com outros familiares, documentos etc. Nesse 0800, os médicos
em regiões remotas, podem ter contato também com outros médicos, para
encaminhar problemas de saúde dos pacientes e sanar eventuais dúvidas.
O ministro da Saúde
afirma ainda que um dos seus grandes sonhos, além de implantar com
sucesso o Mais Médicos, é democratizar o acesso dos cursos de medicina
aos jovens da periferia. Ele cita a cidade de Guarulhos, na região
metropolitana de São Paulo, com mais de 1 milhão de habitantes e nenhuma
vaga. "Refletir, na medicina, a diversidade da sociedade brasileira
será também um grande antídoto contra o preconceito", diz o ministro,
num recado direto à face mais conservadora do País, que, diante do
programa, externou todos os seus medos e preconceitos.
Sobre 2014, Padilha não
fala. Mas parece evidente, dentro e fora do PT, que ele será o
adversário de Alckmin. E que o tema saúde será essencial nessa disputa
política que promete ser eletrizante.
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