14/07/2013
OS HITLERNAUTAS ESTÃO CHEGANDO
Para quem acha que Dani
Shwery, Thismir Maia e Carla Dauden são o máximo que a direita “espontânea”
conseguiu preparar para mobilizar seus simpatizantes - no contexto do quadro
reivindicatório das manifestações de junho - podemos dizer que entre os servidores
do Google e da Microsoft e os mouses dos internautas comuns há muito mais
coisas que a nossa vã filosofia possa imaginar.
Uma delas, ficou
comprovado, é a espionagem norte-americana na rede, denunciada pelo agora
foragido Edward Snowden.
O súbito aparecimento do
fenômeno dos hitlernautas é outra - e esse é um fato que merece ser analisado.
O hitlernauta, não é, na verdade, uma nova espécie no ciberespaço brasileiro.
Ele sempre existiu, embora não fosse conhecido por esse nome. A questão é que,
antes, os hitlernautas só podiam ser encontrados no seu habitat natural, em
reservas quase sempre protegidas, e normalmente produzidas e consultadas apenas
por eles mesmos.
Encontravam-se, assim, ao
abrigo do navegante comum, como nos sites neonazistas, integralistas, da
extrema-direita católica, ou que correspondem, no Brasil, a “espelhos” de
certas “organizações” fascistas internacionais.
Nesses espaços, eles
ficaram, por anos, alimentando suas frustrações, preparando-se para sair à luz
do dia tão logo houvesse uma ocasião mais segura para se apresentarem ao mundo.
A oportunidade surgiu no âmbito das passeatas de junho. Afinal, nessas
manifestações, cada um podia carregar a mensagem que desejasse - desde que não
fosse símbolo de partidos políticos.
Os hitlernautas, além de
aparentemente apartidários, são, principalmente, anti-partidários. Assim,
resolveram engrossar, a seu modo, a procissão, mesmo sem conseguir indicar, com
clareza, rumo ou andor que lhes valesse.
É fácil reconhecer o
hitlernauta. Nas ruas, é o “careca”; o de cara coberta por um lenço; pela
máscara de um movimento "anarquista"; o que leva coquetel molotov de casa; joga
pedra na polícia; agride violentamente o militante do PSDB ou do PSTU
que estiver carregando uma bandeira; quebra prédios públicos; arranca
semáforos; saqueia lojas; põe fogo em carros da imprensa ou invade o Itamaraty.
Na internet, o hitlernauta
é ainda mais fácil de ser identificado. É aquele sujeito que acredita
(piamente?) que estamos vivendo a penúltima etapa da execução de um Golpe
Comunista no Brasil. E que o Fórum de São Paulo é uma espécie de conclave
secreto, destinado a dominar o mundo via implantação, no continente, de uma
União das Repúblicas Socialistas da América do Sul.
O hitlernauta é o
“anônimo” que nos comentários, na
internet, tenta convencer os interlocutores, de que as urnas eletrônicas são
manipuladas; de que não existe oposição no Brasil, porque o PSDB é uma linha
auxiliar do PT na implantação do stalinismo por aqui; que FHC é fabianista,
logo, uma espécie de socialista a serviço da entrega do Brasil aos vermelhos;
que a ONU é parte de uma conspiração mundial, e o único jeito de consertar o
país é acabar com o voto universal, fechar o Congresso, dissolver os partidos,
prender, matar, arrebentar e torturar, por meio de um novo golpe militar.
No dia 10 de julho, os
hitlernautas saíram às ruas, sozinhos, pela primeira vez. Segundo o portal
Terra, fecharam a rua Pamplona, até a esquina com a Consolação, com a Marcha
das Famílias contra o Comunismo, convocada nas últimas duas semanas pela
internet.
O portal IG calculou, em
cerca de 100 pessoas, o grupo que se reuniu no vão do MASP e marchou, com
bandeiras, pedindo intervenção militar, até as imediações do Comando Militar do
Sudeste.
No Rio, a convocação
conseguiu juntar, frente à Candelária, trinta e poucos manifestantes, em cena
em que se viam mais bandeiras e cartazes sobre as escadas do que pessoas para
empunhá-los. Ao ver a foto da “manifestação”, muita gente os ridicularizou na
internet.
Os primeiros desfiles das
SA na República de Weimar também não reuniam mais que 30 pessoas, que
carregavam as mesmas suásticas hoje tatuadas na pele dos skinheads presentes à
Marcha das famílias contra o Comunismo, em São Paulo, no dia 10. As pessoas
normais, ao vê-los desfilando nos parques, com os seus ridículos uniformes,
acharam, na década de 30, que os nazistas eram um bando de palhaços. Eles eram
palhaços, mas palhaços que provocaram a maior carnificina da História. Sob seus
olhos frios, seus gritos carregados de ódio, milhões de inocentes foram
torturados, levados às câmaras de gás, e incinerados, em Auschwitz, Maidanek,
Birkenau, Dachau, Sachsenhausen – e em dezenas de outros campos de extermínio
montados por ordem de Hitler.
Os hitlernautas não devem
ser subestimados. É melhor que a sociedade os conheça. A apologia da quebra do
estado de direito é crime e deve ser combatida com os rigores da lei. Cabe ao
Ministério Público, com a ajuda da Polícia Federal, identificá-los e denunciá-los
à Justiça, para que sejam julgados e punidos, em defesa da democracia.
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