Querido dr. Lucas
És admirável, meu irmão. Tua ação médica nunca teve nenhuma
relação com mercantilismo nem com a agenda corrupta do mercado. Os textos que
escreveste sobre fenômenos de cura mostram um médico profundamente comprometido
com seu povo e com as causas sociais de suas doenças. Quando as pessoas eram
curadas tuas vibrações aos descrevê-las ganhavam a densidade poética e as cores
do pintor. Assim é o caso do moço assaltado e ignorado pelos religiosos
seguidores de uma religiosidade mecânica, egoísta e alienada, sem sensibilidade
com os golpes sofridos pelo próximo, vítima de violências e injustiças. As
cores vibrantes de tua discrição do cavaleiro que se aproximou do homem
vitimizado pela violência e pelo assalto, que foi radicalmente solidário ao
ponto de levantá-lo da estrada e de levá-lo à cura, são emocionantes. Em tuas
discrições das superações das doenças por parte do povo sente-se o amor do
médico que vivenciava cada cura como se fosse sua. Davas exemplo do valor da
medicina, coisa bem diferente do que comentarei abaixo.
Nesse momento aqui no Brasil o Governo Federal encaminha o
projeto “Mais Médicos”. O objetivo é o de atender com um mínimo de humanidade
as espantosas necessidades de médicos que mais de 700 municípios e periferias
das grandes cidades brasileiras carecem.
Graças a esse projeto os médicos comerciais brasileiros
escandalizam por sua mais alta dose de
egoísmo, de insensibilidade humana e social. Aqui em Goiás pagam milhões de
reais em anúncios pelas TVs comerciais contra a decisão do governo. Fazem-no de
maneira chantagista e ameaçadora à população, manipulando a verdade. Afirmam
que a população não necessita de mais médicos, mas de mais condições de
atendimentos como hospitais, laboratórios, equipamentos etc.
Há verdadeira “cultura” comercial da saúde, que avilta tanto
as pessoas que carecem de médicos quanto os profissionais que se destinam a
atender a população. Conheço o caso de um médico oncologista e cirurgião que
atingiu tal nível burguês de vida ao ponto de sofrer pressão dos filhos para “pegar”
mais cirurgias para levantar “grana” para manter suas boas vidas. Cada filho
tem um carro, sem saber andar de ônibus como a maioria da população. A situação
é tão grave que uma filha enciumada com fato de seus dois irmãos terem carro e
ela não que pressionou o pai a encontrar mais cirurgias para “ganhar” dinheiro
para a compra de um automóvel para ela, para que desfrutasse melhor da
concorrência com os irmãos.
Provavelmente, guardadas as diferenças e proporções, é isso
que médicos que se apertam nas capitais buscam. Seu interesse prende-se ao que
os neoliberais chamam de mercado, coisa mais acentuada nos grandes municípios.
Noutras palavras, muitos médicos não se interessam pela saúde do povo. Não
dispõem de formação humana para isso. Sua consciência é embotada para dentro de
seus umbigos e contas bancárias.
A grosseria e falta de ética de médicos e estudantes de medicina, que viraram
as costas para o Ministro da Saúde em auditórios (clique aqui para ler),
Alexandre Padilha, médico como eles, na maior demonstração da falta de educação
e de formação política para o debate e para o diálogo, é bem demonstrativa de
que saúde é ação mercenária na medicina, reforçada pela ideologia da classe
dominante, que usa a prática da medicina apenas como paliativo para manter os
corpos dos trabalhadores em funcionamento, como máquinas de produção. A atitude desrespeitosa desses ditos profissionais da saúde reforçou-se com gesto terrível de necrofilia. Em contradição com o postulado maior da medicina, que é a dedicação e defesa da vida, estudantes de medicina encenaram a morte e enterro do Ministro da Saúde. Pareceu-me clara a intenção de assassinato por parte de quem deveria lutar pela vida. Demonstram cabalmente que o povo não merece atenção no mais profundo significado da raiz
da palavra terapia, provinda da língua grega “terapeutikós”, que significa
cuidado delicado, respeitoso e compassivo com a saúde das pessoas.
A saúde, desde o advento da escravatura e do capitalismo,
cujo terreno é fértil para crendices, superstições e enriquecimentos inclusive
de religiões, sempre serviu como meio de manutenção de mercenários, unicamente
interessados em riquezas e prestigios. Assim acontecia em Cuba antes da
Revolução encabeçada por Fidel Castro e Chê Guevara. Quando a Revolução se
implantou a grande maioria dos médicos fugiu para Miami e outros países,
deixando o povo cubano exposto às doenças e a alto índice de mortalidade,
principalmente de crianças. Daí que então o Comandante Fidel Castro
articulou-se com o governo Espanhol e com médicos espanhóis para implantar o
sistema médico de atendimento às famílias e às comunidades sem depender de
laboratórios e de grande quantidade de matrizes de remédios, como gostam de
fazer as indústrias picaretas farmacológicas capitalistas, verdadeiras sangue sugas
da economia e da vida do povo. Daí surgiu o melhor sistema de saúde do mundo em
Cuba.
Cuba nos ensina que medicina não é coisa que os profissionais
devam usar para se enriquecer. Ensina-nos também que a saúde do povo e da
sociedade é do interesse social, portanto, de governo. Um/a médico/a recém formado/a, principalmente em instituição pública, não tem que decidir trabalhar onde bem entender, para ganhar dinheiro. Deve sim submeter-se a nomeações pelo governo e atuar onde houver mais necessidade. A saúde deve se libertar
das ganâncias das indústrias e dos picaretas farmacológicos. A saúde não deve
ser gestada por associações médicas nem pela jogatina comercial do mercado. A
saúde do povo é sagrada e por isso deve ser tomada a cargo do governo, que deve
contar com a ciência e a tecnologia para cuidar do bem estar de todos.
Por isso o Ministro Alexandre Padilha merece todo o apoio da
sociedade brasileira para aplicar o projeto de governo por mais médicos e mais
saúde. Nesse sentido, o próximo passo a ser dado é o governo meter as mãos na
indústria e no comércio de remédios. Há que acabar com o mercantilismo e a
picaretagem na elevação artificial dos custos dos remédios e dos exames.
Damos apenas os primeiros passos na conquista de uma saúde
que tenha o controle amarrado à justiça social.
Abraços críticos e fraternos na boa luta pela justiça e pela
paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano.
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