Prezada
Márcia
Ainda
nessa segunda-feira conversávamos sobre as barbaridades e contradições do
Estado de Goiás. Aqui vive com um povo generoso e trabalhador, que ergue
riquezas nacionais vetustas e maravilhosas, apesar do mau governo, determinado
por fantástico nível de corrupção e de mentiras, completamente de costas para o
povo e para os pobres. Por outro lado, nuvens compostas por uma casta
apodrecida pairam sobre a sociedade como verdadeira ameaça de violências e influências
sobre todos os âmbitos, inclusive sobre as instâncias de poder. Não é por acaso
que a ONU apontou em 2008 esta capital como sede da maior concentração de renda
e de riquezas da América Latina. Quem olha com cuidado para os palácios
residenciais, para automóveis importados de alto luxo, para as fazendas e
propriedades de esbanjamento tanto aqui quanto em Caldas Novas e no Rio
Araguaia, para lojas especializadas em quinquilharias banais de consumo fútil
da burguesia igualmente fútil, percebe a ostentação e os desvios das riquezas
que os trabalhadores produzem. Mesmo numa cidade movimentada por milhares de
trabalhadores que moram, que se transportam e que se alimentam mal, há quem sem
consciência da justiça social os ignore, concentrados em si mesmos, iludidos
com a idéia de que todos deveriam se render em gratidão esses verdadeiros
vassalos da riqueza que não produzem. Até mesmo a arte que fazem é no sentido
de facilitar a concepção de que são eles que mandam, e fim de papo. A prova de
a arte é usada para encobrir a dominação dilacerante está na ridícula e
agressiva estátua do bandeirante Anhanguera, ostensivamente fincada no
cruzamento das avenidas Goiás e Anhanguera, um dos mais bandidos do período
colonial, calçando botas de colonizador opressor, ao lado de uma espingarda,
símbolo do assassino e criminoso que matou e mandou matar milhares de indígenas,
graças à ganância por ouro. Como disse um antropólogo meu amigo ao circundar e
cuspir nomonumento ao diabo: “haverá um dia em que haveremos de destruir essa e
todas as estátuas dos opressores”. Os indígenas vítimas dos atos deram o
apelido de Anhanguera ao invasor e assaltante Bartolomeu Bueno da Silva por o
considerarem diabo velho (isso quer dizer anhanguera), como garantem
professores com quem conversei, graças as crueldades que esse triste personagem
da escravatura praticou através maus tratos aos nossos irmãos indígenas, ao
assaltar suas riquezas.
Pois
bem, querida Márcia, aqui em Goiânia e em Goiás, Estado e capital que se
destacam reiteradas vezes pelos crimes e sujeiras de Demóstenes e Marconi,
agora novamente com outro do mesmo campo da dominação, o senhor Maurício Borges
Sampaio, um dos maiores tabeliães de Goiás e acusado de assassinar o radialista
Valério Luiz de Oliveira, é notícia nacional. As notícias dão conta de que esse
senhor, amigo do Padre Luiz, este altamente conservador e líder do atrasado
movimento carismático, que o visitou na cadeia - segundo o padre porque Maurício é um grande
benfeitor de obras sociais da igreja - é
o acusado de ser mandante da morte de
Valério. Quem sabe Anhanguera como diabo
velho é o padroeiro de Maurício? Segundo as notícias que informam sobre o
inquérito que investiga o acusado de mandar matar o radialista, Maurício tentou
fazer o que os conservadores fazem com o povo em nível nacional: pressionou a
emissora de rádio onde Valério trabalhava a demiti-lo. Chegou a chantagear seus
proprietários com oferecimento de dinheiro para que sua vontade de calar o
rapaz fosse feita. Esse método é bem conhecido por todos nós.
Consta
do inquérito, segundo as notícias, que Maurício proibiu Valério de entrar nos
espaço do clube de futebol do qual era vice-presidente. Isto é, suas práticas
são bem do estilo dos opressores associados diabolicamente com as ditaduras,
com a falta de respeito às liberdades democráticos, com o direito à crítica e à
opinião diferente da sua. Como não conseguiu calá-lo justamente porque aquele
profissional era determinado e corajoso, teria planejado sua morte, seguro da
impunidade e de que suas costas eram quentes, graças aos entrelaçamentos de
privilégios com a justiça, com associação de juízes e desembargadores. Seu tabelionato
é muito ligado a muita coisa que precisa ser investigada e corajosamente
revelada. Certamente tudo virá à tona com esse inquérito e com essa
investigação, mesmo numa terra em que se ameaçam juízes, delegados de polícia,
policiais limpos e cônscios de seus deveres para com a cidadania e até pessoas
militantes da justiça e da paz.
Ontem, numa entrevista a uma emissora de TV, o corajoso
pai de assassinado Valério disse que se a justiça “soltar” Maurício Borges
Sampaio a família toda deveria se hospedar no Palácio da Justiça, tal o nível
de terror que vivem sob as ameaças do acusado de assassinato.
É
dever do judiciário e até imposição social que se julgue e puna exemplarmente
esse devoto de Anhanguera. A luta pela democracia tem que incluir a apuração e
revelação dos bandidos reais de sempre, dos que agem nas trevas, dos que
almoçam e festejam com juízes, com governadores, com prefeitos, com comandantes
da policia e dos militares, com padres, arcebispos, pastores, com os que
comungam com os grandes proprietários de tudo, com a intenção de frear a
justiça. É preciso que a mídia, tão aprisionada por interesses mesquinhos, os
movimentos sociais, os parlamentos e o povo, forcemos a barra que obstaculiza a
verdade, com o objetivo de erguer a paz
e edificar monumentos aos que pela justiça e pela paz verdadeiramente lutam. A
esses a honra justa e àqueles a justiça que pune e corrige.
Abraços
críticos e fraternos sempre na luta por justiça e pela paz!
Dom
Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano.
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