Demóstenes viajou 2 vezes com Cachoeira para os EUA
Advogado do senador acabou por admitir as viagens identificadas pela CPMI do Cachoeira
Não foi só com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, que o senador Demóstenes Torres (ex-Dem) andou fazendo estranhas viagens pelo mundo a fora. Documentos enviados pelo Ministério da Justiça à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira revelam que o “paladino e mosqueteiro” da revista Veja foi duas vezes aos Estados Unidos em companhia de ninguém menos do que o próprio “professor” Cachoeira. Cobrado, o advogado de Demóstenes, Antônio Carlos Almeida, acabou admitindo as viagens.
Segundo Castro, a única vez que Demóstenes viajou ao lado do bicheiro para os EUA, foi em janeiro de 2011. De acordo com o advogado, os dois viajaram com mais outras 20 pessoas para participar do aniversário de um empresário goiano em Miami. O advogado alega que na segunda viagem relatada à CPI, ocorrida em fevereiro deste ano, o senador mandou apenas sua mulher viajar junto com Cachoeira. O advogado explicou que a mulher de Demóstenes, Flávia, estava viajando com Cachoeira, por ser “muito amiga” da família do mafioso. Provavelmente ela deve ter ido escolher a famosa “cozinha americana”, de US$ 24 mil dólares, que o contraventor deu de presente de casamento ao “amigo” Demóstenes.
A informação de mais essas viagens com Cachoeira complica ainda mais a situação, já bastante delicada, do senador Demóstenes Torres. A Comissão de Ética do Senado vai discutir na próxima segunda-feira (25) o relatório do senador Humberto Costa, que deverá propor a cassação do mandato do senador goiano por quebra do decoro parlamentar. Demóstenes, junto com outros integrantes da quadrilha, recebeu um rádio Nextel de Cachoeira que seria, segundo um agente do grupo, um aparelho antigrampo. No entanto, como a Polícia Federal conseguiu quebrar o “esquema de segurança”, o senador goiano foi flagrado em várias conversas comprometedoras com Cachoeira.
A PF divulgou escutas e documentos mostrando uma íntima associação entre Demóstenes e Cachoeira. Relatórios da PF revelaram que o senador recebia 30% da arrecadação geral do esquema armado pelo bicheiro, calculado em, aproximadamente, 170 milhões de reais nos últimos seis anos. Numa das gravações, Demóstenes pede para Cachoeira “pagar uma despesa dele com táxi-aéreo no valor de R$ 3 mil”. Em outra, Cachoeira aparece preparando um avião para receber em São Paulo, Demóstenes Torres, que estava regressando da viagem que fez com Gilmar Mendes à Alemanha.
Em outra bombástica gravação feita pela PF, Demóstenes avisa Cachoeira que o projeto que ele tinha analisado, a pedido do contraventor, era prejudicial aos seus negócios. O projeto em questão foi apresentado em 2002. Tratava de assuntos relacionados aos jogos de azar. Demóstenes diz: “Fala Professor” (dirigindo-se ao criminoso). “Vou levantar agora e te ligo depois”, respondeu. Decorridos dois dias, Demóstenes informou ao chefe da quadrilha: “Vou mandar o texto procê. O que tá aprovado lá é o seguinte: ‘transforma em crime qualquer jogo que não tenha autorização’. Então, inclusive, te pega, né?”.
Outro diálogo mostra Cachoeira preparando uma viagem de Demóstenes a Roma para pedir desculpas a Berlusconi pelo asilo político dado por Lula a Cesare Battisti.
Cachoeira: “O negócio da viagem à Itália está prosperando. A Deise é amiga do Berlusconi. Ela vai estar lá no Palácio, ela vai falar. Como você gostaria que fosse? Um convite dele?”. Demóstenes: “Pode ser, eu vou na hora”. Cachoeira: “Ele te convidando, você tem que chamar a imprensa nacional. Aí, você pede desculpa, né? Em, nome do povo brasileiro”. Demóstenes: “Faço isso com todo o prazer”. A conversa foi gravada uma semana após a decisão em prol de Cesare Battisti.
Além disso, a PF também comprovou que Demóstenes e Cachoeira trabalhavam em estreita colaboração com Policarpo Jr, diretor da revista Veja, em armações que visavam desestabilizar o governo federal, tanto na administração Lula quanto no governo Dilma, e também no governo do Distrito Federal. Em algumas dessas armações estavam envolvidos os interesses da empreiteira Delta, cujo diretor da região Centro-Oeste, era ligado ao grupo. Cachoeira aparece, inclusive, numa das escutas pautando a revista Veja. Ele manda Policarpo publicar matéria de seu interesse na revista e ainda escolhe em que parte da revista seria melhor.
Mesmo sabendo que Demóstenes era da quadrilha de Cachoeira, a revista Veja brindou o senador com várias matérias elogiosas. Em sua edição de julho de 2007, a revista ilustrou o senador corrupto como um dos “mosqueteiros da ética” no Congresso Nacional.
Demóstenes está sem partido. Ele pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. Dois dias depois, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário. De lá para cá não pararam de surgir provas mostrando envolvimento de Demóstenes, Marconi Perillo e Policarpo Jr. com o bando de Cachoeira.
SÉRGIO CRUZ do Jornal Hora do Povo
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