No bojo do triunfo da Associação Nacional Republicana (Partido
Colorado), uma “sociedade anônima de delinquentes”, podemos afirmar que a
sociedade política paraguaia é complacente com seus ladrões e verdugos e
implacável com seus sonhadores.
Em 22 de dezembro de 1992, descobrimos três toneladas de documentos
da política secreta de Alfredo Stroessner que levou a hoje encurralar
aos genocidas da Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai
(Operação Condor). Resulta paradoxal que estes arquivos tenham sido
considerados desde o primeiro momento como um acontecimento histórico
nacional e internacional que provocou inúmeras publicações. A Promotoria
Geral não investigou o conteúdo deste arquivo até hoje, consolidando a
impunidade.
Em 28 de agosto de 2008 a Comissão de Verdade e Justiça entregou aos
Poderes do Estado o Informe Final com suas respectivas conclusões e
recomendações. Antigos funcionários de destaque e repressores da
ditadura stroessnista passaram a ser funcionários do Estado. Tampouco
foram investigados pela Promotoria Geral os personagens da ditadura que
atuavam através das seccionais do Partido Colorado governante durante os
35 anos da ditadura.
O terrorismo de Estado tem impressa as impressões digitais de Alfredo
Stroessner e de seus sequazes. Hoje como ontem, os promotores, juízes,
policiais e militares arremessam contra os defensores dos direitos
humanos em vez de escutá-los e protege-los.
A eleição de 21 de abril de 2013 é simplesmente a legitimação do
golpe de Estado ocorrido no 22 de junho de 2012. O triunfo dos
nostálgicos da ditadura permitirá a reinserção do Paraguai no concerto
das nações na qualidade de Cavalo de Troia para obstaculizar a Unidade
Latino-americana.
No Paraguai, uma vez mais a esquerda foi derrotada. O novo “patrão”
dessa sociedade feudal é Horácio Cartes que durante a ditadura e depois
na democracia amassou uma imensa fortuna “não santa”. Competiu com ele
pelo cargo presidencial Efraín Alegre, também de tendência de direita
que para fortalecer sua intenção de voto se aliou com o partido criado
pelo também golpista general Lino Oviedo. Esta aliança resultou num tiro
pela culatra.
Como ha um profundo descrédito no sistema político grande parte da
população compareceu a votar por que foi paga por seu voto utilizando
para isso modernas tecnologias. Ganhou o que comprou mais votos ou seja,
o que ocorreu em Assunção dia 21 de abril foi uma burla eleitoral.
Os graves problemas sociais não foram motivo de preocupação dos
candidatos golpistas. Continuam os latifúndios, a corrupção, injustiça, o
modelo político de prebendas, continua em vigência a doutrina de
segurança nacional, falta de atenção médica, educação. Stroessner e
sucessores escravizaram o povo paraguaio por meio do analfabetismo etc.
Ademais se seguirá aplicando a receita neoliberal do Banco Mundial e o
Fundo Monetário Internacional. O Comando Sur estadunidense seguirá com
suas manobras antisubversivas en um país que se faz chamar democrático. E
a aprova de que o Condor continua voando.
Tampouco se preocuparam com o que ocorreu em Curuguaty onde foram
assassinados policiais e camponeses inocentes onde os conspiradores
foram o Vaticano, os ganadeiros e plantadores de soja vinculados com as
multinacionais como Monsanto, petroleira estadunidense Dahiva e a
multinacional canadense Rio Tinto Alcan que explora o alumínio. A
demanda apor terra pelos sem terra permitiu a direita desalojar sem
violência do poder a esquerda com a cumplicidade do Congresso Nacional.
Só uma transformação radical da base cultural e moral da juventude permitirá ao Paraguai enfrentar o “retorno dos bruxos”.
* prêmio Nobel alternativo da paz, colaborador de Diálogos do Sul.
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