Publicado por waltersorrentino em 13/08/2010
Há figuras admiráveis provindas do povo, algumas de seus estratos mais fundos, que são puro engenho e arte da “raça”. Penso em Lula, com sua prodigiosa inteligência. Alencar, um dos brasileiros mais queridos atualmente. Não há viés propriamente político nisso: poderia falar em Brizola, Floriano, um Luiz Carlos Prestes. Também de filhos de Francisco ou Florestan Fernandes. Pelé e tantos outros. Pessoas que, vindas de um ponto de partida desfavorável, venceram e se fizeram grandes referências na sociedade.
Isso deveria ser até natural numa nação amadurecida; no caso do Brasil tem sido uma excepcionalidade, tantos os obstáculos que precisaram ser ultrapassados para chegar aonde chegaram. Netinho de Paula, digo-o sem medo de errar, é um desses personagens. Um cidadão que surpreende, a quem não o conhece, pela inteligência, esforço, disciplina, tenacidade. Mais que isso, é um sujeito de grande qualificação política, talvez uma de suas características menos conhecidas. Não é alguém que começou a “fazer política” agora, com a eleição a vereador de São Paulo e candidatura ao Senado. Há mais de quinze anos, em sua atividade artística profissional, Netinho “faz política”. Uma de suas reflexões que mais me marcaram é a de que a única forma de fazer para uma parcela mais extensa da sociedade o que ele fazia com seu programa de TV pelas “princesas” da periferia, sempre uma amostra reduzida e focada do universo social das periferias deste nosso Brasil, é a Política, assim, com “p” maiúsculo.
Netinho foi um vencedor. Encontrou oportunidades que lhe permitiram desabrochar talento inato. Não foram as oportunidades clássicas de quem partiu de um ponto social mais favorável, tivesse acesso a boas escolas, ao movimento estudantil, fosse lido e ilustrado. Isso ele não teve na infância e adolescência. Ao contrário, maior tendência de seu meio era a de se envolver na violência e no crime e nas drogas. Vendedor de balas em trens, órfão, morador da distante periferia de Carapicuíba, ele superou esses obstáculos. Fez carreira respeitada, é amado pelo povo. Bom intérprete da alma desse povo, o qual conhece como ninguém. Antes de vencer, já tinha formado família, adotando duas crianças. Hoje tem sete filhos, nucleados em torno de si e aos quais é fortemente ligado. Suas ex-companheiras o respeitam e tem por ele amizade, além de serem mães de seus filhos. Encontrou tempo, ao lado da vida artística-profissional e de vereador, para completar estudo superior e aprender línguas. Ele é assim: nada lhe caiu no colo.
Erros? Claro, cometeu-os, como outroa. Mas os piores não: Netinho não se perdeu; ao afirmar-se, não esqueceu a origem popular de que provém. Celebridade, não se fechou em redoma inalcançável. Respeita o povo. Tem uma visão avançada do país. Defende sua herança de negro. É ficha limpa. Episódio houve de agressão a uma ex-companheira, do qual devidamente prestou contas à sociedade e à própria, de modo que entre eles há relação de respeito.
Preconceitos? Bem, avultam. Num país como o Brasil, é tanto social quanto “de cor”. Não é para o “bico dessa gente” o Senado, parecem dizer. Particularmente em certos estratos de São Paulo isso pesa. O que fizeram com Lula desde 1989 é clamoroso. Por isso é preciso muito discernimento, particularmente de setores que têm real interesse no avanço do povo, da democracia e cidadania. Afinal, Lula também não surpreendeu? Bem, Lula tinha fortes laços no movimento social. Mas que dizer então de José Alencar? O meu é o seguinte: há outras chaves de comando para que pessoas assim possam superar-se, não se pode ser estreito nessa matéria.
Netinho de Paula no Senado é uma grande conquista para São Paulo, para o país e para a instituição. Pelo seu preparo. Pela sua trajetória e experiência de vida. Faz diferença isso tudo no Senado. Netinho quer, como Lula, fazer com que oportunidades possam encontrar mais e mais talentos espontâneos entre o povo. Daí suas propostas de campanha, como a de instituir centros de tratamento para os drogadictos do crack nos municípios; implantar escolas técnicas em grande escala; propiciar internet gratuita nas periferias. Só alguém com essa vivência pode compreender o alcance dessas medidas simples mas indispensáveis à dignidade do povo. Sua opção consciente e compenetrada pelo PCdoB é uma demonstração a mais da seriedade dessa caminhada.
Fonte: Blog do Sorrentino
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