Samuel Aço e Nelson Mandela
Querido Prof. Samuel Aço
Vi uma foto tua com o grande Nelson Mandela aí em Angola. Que
orgulho, meu irmão, ser amigo desse grande homem que tombou hoje atingido pela
morte que rouba os revolucionários, também. Como informa tua sobrinha e minha amiga Pastora e Psicóloga Ana Cristina Aço, essa foto data de 1994 e testemunha a recepção de Mandela e sua ex-esposa Winnie em Luanda no Museu Nacional de Antropologia,
1994. Deu-se alguns anos após tu, tu família e eu nos encontrarmos em Porto Alegre.
Muito se disse, diz-se e dir-se-á de Nelson Mandela. Até
mesmo o nojento Jornal Nacional apresentado pelo servil William Bonner
homenageou Nelson Mandela. Certamente o fez não por respeito ao que esse herói
significa, mas por oportunismo e por hipocrisia.
Num contexto mundial de fracasso do mercado neoliberal a voz
de Nelson Mandela se faz ouvir e não se cala com sua morte. Enquanto o sistema
financeiro desemprega em massa, destrói culturas para impor a “cultura” do
consumo inútil, joga milhões na miséria, a luminária Nelson Mandela acende em
nós os raios da coragem para a luta.
Enquanto aqui no Brasil Joaquim Barbosa trai a origem negra e
o compromisso com os pobres, de onde se origina, para se aliançar com os
poderosos de políticas embranquecidas e separatistas, as marcas de Nelson
Mandela afirmam fidelidade revolucionária com nossas origens sagradas
representadas por Mandela e por Zumbi.
No momento em que nossos corações patriotas, conscientes e sedentos
de justiça sofrem com a barbárie espetaculosa de um juiz que se perdeu pelos descaminhos
do ódio, condena sem provas e prende lutadores, recordamos com a esperança dos
27 anos de cadeia vividos por Nelson Mandela, sem nunca se desanimar e se
vergar sob a opressão.
Num contexto em que a direita discriminatória brasileira,
rancorosa e adepta do apartheid social, que sente inveja dos pobres que se
incluem na sociedade, lembramos que Nelson Mandela lutou a vida inteira para
derrubar o vergonhoso muro da separação entre brancos e negros, entre ricos e
pobres.
Num instante de trevas em que muitos dos nossos irmãos e
nossas irmãs de luta se perdem no desânimo com um governo que muitas vezes
caminha de saltos altos sem ouvir ninguém nem ao povo olhar, ao tombar Nelson
Mandela deixa-nos a sabedoria de que é preciso escutar e falar sempre com o
povo, com os pobres e com os discriminados. É das ruas que se levantam as vozes
que pressionam as mudanças. As águas correm pelos rios e a revolução escorre
pelas ruas.
Desgraçadamente o cristianismo virou negócio de televisão, de
rádio, curandeirismo, moralismo e preconceito, muito distante de Jesus de
Nazaré. Nelson Mandela, ao contrário, como metodista que era, portanto
evangélico, bem diferente de sua igreja no Brasil, que virou um seguimento de
Silas Malafaia e de Edir Macedo, ensina que o estilo dos lutadores que amam o
povo não é o luxo nem o sucesso do mercado bandido e discriminatório. Muitas
vezes os lutadores se deparam historicamente com a prisão, com as trevas e com
as masmorras e não com o conforto burguês.
Num momento que se prega que os "bons" são vencedores e vitoriosos
financeiramente, Nelson Mandela mostrou que os justos que lutam por justiça não
se afastam dos pobres nem lhes viram as costas, muito menos os assaltam em nome
de curandeirismos e milagrismos picaretas.
Para muitos o amor é gastança, é luxo nababesco, é corrupção
dos mais fracos que são roubados pelos mais fortes e malandros, para Nelson
Mandela o amor é dedicar-se, sacrificar-se e até morrer pela libertação de seu
povo escravizado. Sobre isso disse o cientista político Paulo Baía, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Mandela é um exemplo não só de
resistência, mas de amor. “Nelson Mandela, nas épocas duras, difíceis e
sombrias do apartheid, com a brutal discriminação e a violência contra os
negros e os pobres na África do Sul, se tornou um símbolo e um intelectual da
resistência. Ele, preso, liderou a movimentação política das várias etnias da
África do Sul contra o regime do apartheid e conseguiu, de dentro da cadeia,
ser um chefe de estado e estabelecer conexões com todo o mundo”[1].
Amar é transcender-se a si mesmo e às circunstâncias do ódio,
que geram injustiças. Com a força do amor o lutador não se submete à prisão
imposta pelos poderosos, por mais que tentem restringir a liberdade. Mesmo
preso sua consciência é livre e o liberta. O amor leva o revolucionário para os outros
e articula saídas e soluções para a escravos, mesmo por entre as grades da prisão. O amor leva o libertário a lutar
não somente por sua libertação, mas pela libertação do povo.
Quando "no poder, Mandela operou um milagre político. O
Madiba fez os sul-africanos acreditarem no seu sonho, o de que a África do Sul
poderia ser mesmo uma “Nação Arco-Íris”, na qual todas as "cores"
poderiam conviver de forma harmônica. Mandela conseguiu contemplar os anseios
das minorias brancas e conter a ânsia por justiça de líderes negros, muitos dos
quais desejavam vingança após décadas de abusos e arbitrariedade"[2].
Nelson Mandela foi um grande farol que iluminou a luta de seu
povo. Este farol tombou, porém a energia que nasce da grande usina que é o povo
continua forte em nós, sem cortes nem interrupções.
Tomba o farol, mas a energia revolucionária se reacende,
queiram os opressores ou não. Os opressores nunca desejarão a revolução,
todavia a energia revolucionária é inesgotável.
Abraços críticos, fraternos e saudosos na luta pela justiça e
pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano.
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