“Madiba sou eu”: uma entrevista exclusiva com o ator que interpreta Mandela em novo filme
Esta entrevista
ocorreu em Toronto, onde Idris Elba participava do Festival de Cinema
Internacional. Mandela morreria dias depois, no momento em que Elba
assistia a premiére na Inglaterra de seu novo filme “Mandela: A Longa
Caminhada para a Liberdade”.
“Interpretar Nelson Mandela é um pouco como brincar de Deus”,
disse-me ele.”Eu não posso imaginar como Mandela se sentiu depois de ter
sido libertado da prisão, mas este comentário que ele fez sempre ficou
na minha mente: ‘Eu odiava meus carcereiros, até perceber que se eu
continuasse a odiá-los eu ainda estaria na prisão. Então eu tive que
deixá-los partir’. Para mim, aquilo explica como Mandela teve a
serenidade e a calma necessárias para construir uma nova África do Sul
de forma pacífica”.
Elba, cujo pai nasceu em Serra Leoa e a mãe em Gana, passou a última
década tentando deixar sua marca nos EUA. Tendo trabalhado como DJ desde
os 14 anos, atingiu um bom momento ao lado de Jay- Z em seu álbum
“American Gangster” ( 2007), vagamente inspirado no filme de Ridley
Scott com o mesmo nome.
Como ator, fez o recente “Círculo de Fogo”, “Obssesed” (co- estrelado
por Beyoncé) e “Thor”. Na Inglaterra, é o detetive “Luther” da ótima
série policial homônima. Com o filme sobre Mandela, foi cotado para o
Oscar.
Qual a sensação de interpretar Nelson Mandela?
Eu estou muito, muito orgulhoso do papel. Eu não consigo expressar em
palavras… Ele sempre foi essa figura incrível, inspiradora. Sua
influência não pode ser medida. Venho atuando há 20 anos e este é o
papel de uma vida.
Morgan Freeman, Denzel Washington — essas pessoas tiveram
performances maciças desta natureza, mas eu não me sinto digno disso.
Essa é a verdade. Demorei duas ou três semanas para responder ao convite
do estúdio.
Mas como eu poderia recusar a oportunidade de encarnar Nelson
Mandela? Então recebi um email de Zindzi, filha de Mandela, que apenas
dizia: “Estamos emocionados.Meu pai e eu estamos emocionados”.
Você o conheceu?
Não, ele estava bastante doente. Mas eu conheci alguns membros da
família, embora tenha evitado saber de muitos detalhes pessoais. Acho
que você precisa de alguma liberdade para conseguir transcender todos os
aspectos diários do personagem e dar a ele a dimensão de mito. Não
existe uma honra maior para um ator negro.
Você estava preocupado em interpretar uma figura tão icônica?
Sim. Especialmente porque eu não pareço com ele e pode-se argumentar
que sou muito jovem e não experiente o suficiente. Sou essencialmente um
ator de televisão que tinha feito alguns filmes.
Você sabe se Mandela viu o filme?
Sim. Sua filha me contou. Mandela olhou para o jeito como eu vestia a
camisa, como o ele fazia, e disse: “Como ele consegue fazer isso?”
Quando essa mensagem foi passada para mim, eu chorei. Tive sua
aprovação! Depois disso, não importava o que ninguém dissesse sobre
minha atuação. Se eu consegui convencer o próprio homem, é suficiente
para mim.
Você visitou Robben Island, a prisão onde Mandela passou a maior parte de seus 27 anos de prisão na África do Sul?
Passei uma noite na prisão. Lembro-me da guarda (parte da prisão
ainda está funcionando) e estava muito nervoso sobre o fato de me
trancar lá dentro. Eu tive que realmente me acalmar pra caralho. Levei
um telefone e, se quisesse sair, eu poderia. Eu não pude dormir na cela
dele porque ela hoje é parte do museu. Fiquei numa ala para a qual
Mandela foi enviado algumas vezes. Foi horrível. Foi revoltante. Uma das
noites mais difíceis da minha vida porque o lugar carrega esses
demônios.
Mas passar a noite na cela me ajudou a entender o que ele passou. Eu
estive lá apenas uma noite, mas tive a sensação do que é ter sua
liberdade arrancada. E em um lugar que não é muito agradável. Me deixou
com raiva. Enquanto eu estava lá, eu estava com raiva. De qualquer
maneira, quando fui usar o celular na manhã seguinte, vi que não
adiantaria nada. Não há sinal.
Quais foram as cenas mais angustiantes?
Alguns dos momentos mais difíceis foram as cenas em que os atores
brancos exibiam a brutalidade foi infligida a Mandela.Eu pude ver em
seus rostos que eles odiavam aquelas cenas e estavam hesitantes em ir
tão longe quanto precisavam. Mas eu lhes disse que precisavam
desenterrar seu racismo profundo e usá-lo nessas cenas. Eu precisava da
intensidade deles para melhorar meu próprio desempenho.
Espero que o filme ajude a manter o legado de Nelson Mandela vivo e
reforce seus ideais. Ele é um ser humano único. Mandela sacrificou sua
vida para conquistar o que nós temos agora. Também espero que os jovens
vejam este filme e compreendam a enormidade da luta de Mandela e a
beleza de sua visão. As pessoas devem ver que Mandela foi um farol. Você
e eu podemos realmente fazer diferença no mundo e trazermos a mudança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seus comentários serão publicados. Eles contribuem com o debate e ajudam a crescer. Evitaremos apenas ofensas à honra e o desrespeito.