Maior população negra do País é a mais discriminada
Embora o Dia da Consciência Negra tenha extensa
programação festiva, como apresentações de capoeira e de samba de roda e
de festivais de culinária africana, os negros não têm muito que
comemorar na Bahia; maioria das pessoas assassinadas no estado é
afrodescendente e os negros têm salário em média 36% mais baixo do que
os de pessoas não negras; Salvador, cidade que abriga o bairro com maior
população negra da América Latina, bairro da Liberdade, ainda é
considerada uma cidade racista; leia reportagem de Romulo Faro, editor
do Bahia 247
Romulo Faro - Bahia 247 - Salvador terá muitos
eventos em comemoração ao Dia da Consciência Negra, nesta quarta-feira
(20). Mas na prática, os negros que vivem no estado e na cidade que
detêm maior concentração de pessoas da raça africana em sua população
não tem muito que comemorar.
Iniciativas pontuais do poder público marcam alguns avanços para os
negros na luta pela igualdade na cidadania, mas Salvador, até
ironicamente, ainda é uma cidade considerada racista por especialistas.
O bairro da Liberdade, na perifeira da capital baiana, é o maior em
número de negros em toda a América Latina. De acordo com o último censo
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 75%
dos habitantes são negros.
Salvador é o verdadeiro centro da cultura afro-brasileira. Dados
divulgados pelo IBGE em 2010 revelam que a maior parte da população é
negra ou parda na Região Metropolitana (RMS), 51,7% da população
(1.382.543). A capital baiana é cidade com maior número de descendentes
de africanos no mundo, seguida por Nova York, majoritariamente de origem
iorubá, vindos da Nigéria, Togo, Benim e Gana.
Ainda de acordo com o censo do IBGE de 2010, a região brasileira com
maior número proporcional de negros na população é a Nordeste e a Bahia
apresenta maior proporção de negros na população, com 14,4% de negros.
Violência
Infelizmente a Bahia se destaca em mais um aspecto negativo em nível
nacional contra os negros. Estudo divulgado nesta terça-feira (19) pelo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta a Bahia na quinta
posição em perda de expectativa de vida para homens negros.
Dado é apresentado no trabalho “Vidas Perdidas e Racismo no Brasil”,
que coloca também o estado na sexta posição em homicídios contra negros
em todo o país, com um percentual de 47,3 para cada cem mil pessoas,
enquanto entre os não negros o índice é de 11,3 para cem mil. No caso de
perda de expectativa de vida para não brancos, a Bahia fica na 18ª
colocação.
Estudo calcula impactos de mortes violentas (acidentes de trânsito,
homicídio, suicídio, entre outros) na expectativa de vida de negros e
não negros, baseados no Sistema de informações sobre Mortalidade
(SIM/MS) e no Censo Demográfico do IBGE de 2010.
No mesmo período, enquanto a taxa de homicídios de negros é de 36
mortes por 100 mil negros em todo país, a mesma medida para os não
negros é de 15,2. Para cada homicídio de não negro, são assassinados
outros 2,4 negros.
Ainda de acordo com o levantamento, entre 1996 e 2010, foi constatado
que não só características socioeconômicas, a exemplo de escolaridade,
gênero, idade e estado civil, são determinantes em mortes violentas, mas
também a cor da pele. A pesquisa diz que a vítima “quando preta ou
parda, faz aumentar a probabilidade do mesmo ter sofrido homicídio em
cerca de oito pontos percentuais”.
Mapa da Violência 2012, divulgado em outubro último pela Secretaria
de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da
República, revelou que 5.069 afrodescendentes foram assassinados no
maior estado do Nordeste em 2010. Número representa aumento de 300% em
comparação a 2002.
Salário dos negros é menor do que dos não negros
Estudo recente do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese) revelou a desigualdade no mercado de trabalho
em Salvador. Segundo a pesquisa, o salário médio dos negros chega a ser
36,1% a menos do que os trabalhadores não negros.
Ainda de acordo com o Dieese, em Salvador, em 2012, o rendimento
médio real dos ocupados negros diminuiu (3,2%), enquanto o dos nãonegros
permaneceu relativamente estável (-0,1%). Os valores desses rendimentos
passaram, entre 2011 e 2012, de R$ 1.077 a R$ 1.043, e de R$ 1.727 para
R$ 1.726,00, respectivamente. Os homens negros registraram a maior
perda de rendimento (de R$ 1.230 para R$ 1.179) no período analisado.
Melhorias
Como dito acima, a busca por melhoria de vida dos negros e ações que
lhes garantam igualdade ainda são pontuais. Em âmbito municipal,
avaliações de especialistas dão conta de que o prefeito ACM Neto (DEM),
no cargo há 11 meses, parecer ter vontade de diminuir os índices de
desigualdade.
Exemplo das ações do prefeito democrata é o decreto baixado no início
de sua gestão proibindo o racismo institucional. Se um servidor
desrespeitar um colega negro será exonerado do cargo e responderá a
processo por racismo na justiça civil.
Por parte do governo do estado, embora também haja ações ‘pontuais’, os avanços ainda são considerados muito superficiais.
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