Irmã Teresa, a freira mais radical do mundo, sacode a Espanha
Postado em 15 set 2013
O mosteiro de St. Benet está entre os mais belos e tranquilos
lugares. Para chegar lá, você precisa rumar pelas paisagens lindas da
montanha sagrada de Montserrat.
A irmã Teresa Forcades, estrela improvável de programas de
entrevistas, do Twitter e do Facebook, tem tido dificuldade em parar de
pregar. Tão grande é a demanda por seu tempo e sua bênção que o email de
seu secretário aqui no mosteiro sempre retorna uma resposta automática
de que a caixa de entrada está cheia.
Irmã Teresa parece sempre estar em pelo menos dois lugares ao mesmo
tempo. Ela tem os olhos brilhantes, é confiante, quase alegre. Sua
inglês perfeito – aprimorado nos anos que estudou na Universidade de
Harvard – parece de alguma forma fora de lugar nos claustros humildes
deste local sereno.
Não há nenhum político parecido com ela. Ela nunca está sem o hábito
de freira e diz que tudo que faz vem de uma profunda fé cristã e
devoção. No entanto, tem sido crítica da Igreja e dos homens que a
dirigem.
Os seguidores de seu movimento, Proces Constituint, com
aproximadamente 50 mil catalães, são principalmente esquerdistas
não-crentes. Ela não quer um cargo e diz que não vai criar um partido
político, mas é inegavelmente uma figura política em uma missão –
derrubar o capitalismo internacional e alterar o mapa de Espanha.
Seu programa de 10 pontos, elaborado com o economista Arcadi Oliveres, pede:
• A estatização de todos os bancos e medidas para coibir a especulação financeira
• O fim de cortes de empregos, salários mais justos e pensões, menos
horas de trabalho e pagamentos para os pais que ficam em casa
• Uma “democracia participativa” genuína e medidas para coibir a corrupção política
• Habitação decente para todos e um fim a todas as execuções de hipotecas
• A reversão de cortes de gastos públicos e renacionalização de todos os serviços públicos
• Direito de um indivíduo ser dono de seu próprio corpo, incluindo o direito da mulher de decidir sobre o aborto
• Políticas econômicas “verdes” e a nacionalização das empresas de energia
• O fim da xenofobia e a revogação das leis de imigração
• Meios de comunicação públicos sob controle democrático, incluindo a internet
• “Solidariedade” internacional, sair da Otan e a abolição das forças armadas em uma futura Catalunha livre.
Com um talento natural para falar em público, e mente afiada de uma
militante, ela não teria superado a vida monástica? Suas irmãs não
estariam cansadas das visitas constantes, eu me pergunto?
Ela interrompe a nossa primeira entrevista para cumprimentar uma
delegação de ativistas pela independência da Catalunha, que vieram
prestar homenagem ao mosteiro. Enquanto espero, as irmãs que param para
conversar não têm dúvida de que o seu talento e sua fama são “dons de
Deus” e que ela está abrindo caminho para um futuro mais jovem e mais
feminista para a Igreja Católica.
Elas são apenas três dezenas de mulheres que vivem uma vida tranqüila
de oração, mas esta é a base do poder político da Irmã Teresa. Ela é a
embaixatriz delas para o mundo secular, e muitas vezes turbulento, para
além da montanha. Diferentemente da maioria dos partidos políticos,
movidos pela rivalidade, o círculo íntimo de Irmã Teresa a ama
incondicionalmente.
Quando eu viajo para vê-la buscando apoio para o novo movimento em
uma praça da cidade, o lugar está lotado. Ela agarra a multidão com
idéias radicais que assustam muitos políticos tradicionais na Espanha.
Ela admira Gandhi e algumas das políticas do falecido Hugo Chávez, na
Venezuela, e de Evo Morales, da Bolívia.
Mas é o modelo econômico secular das monjas beneditinas, criando bens úteis para vender, que ela cita mais apaixonadamente.
Depois de um intervalo de duas semanas, eu subo a estrada sinuosa
para o mosteiro para uma última visita. Irmã Teresa foi a uma
conferência religiosa no Peru, onde é inverno, e voltou para casa com um
resfriado. Bispos fiéis ao Vaticano têm criticado suas posições
radicais sobre tudo, do aborto aos bancos.
Tornou-se uma batalha por onde passa. Pelo menos por enquanto, seu bispo em casa não a proibiu de continuar.
Na capela, ela cumprimenta minha esposa e os dois filhos pequenos
calorosamente. Ela me disse que, quando era adolescente, abraçou o
celibato.
É outra contradição que percebo: ela está perdendo uma vida em que pode amar livremente e tudo o mais que isso implica?
Ela me diz que se apaixonou três vezes desde que se tornou freira,
mas sua devoção a Deus e ao mosteiro continua forte como sempre.
“Enquanto a minha vida religiosa for cheia de amor, eu vou estar
aqui”, ela diz. “Mas no momento em que esta vida se transformar num
sacrifícios… Então é será meu dever abandoná-la.”
Por ora, ao que parece, o caso de amor da Catalunha com talvez a figura política mais improvável do mundo vai muito bem.
Publicado originalmente na BBC.
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