Querido amigo e aluno Tullio
Já te falei em sala de aula que
admiro muito a ti e à tua esposa Carla pela alegria de vocês e pelo interesse
que demonstram pelas ciências humanas, em particular pela minha disciplina, a
filosofia. Nas conversas que tivemos construí a impressão de que tua percepção
da vida é bastante despoluída de dogmas e vícios religiosos, desses que
contaminam e fanatizam evangélicos e católicos que se desprendem do Jesus
palestinense e dos evangelhos para se grudar nas caricaturas mal elaboradas que
suas igrejas fazem do Libertador.
Pois bem Tullio, escrevi aqui
nesses últimos dias sobre as barbaridades que os capitalistas fazem no mundo ao
excluir e empurrar para o extermínio cerca de 70 milhões de pessoas por ano ao
lhes tornar impossível o acesso aos alimentos; sobre as torturas aplicadas pela
ditadura militar imposta pelos Estados Unidos aqui no Brasil; sobre o mal que a
mídia faz ao nosso povo; sobre o fracasso da falsa “classe média”; sobre a
comparação entre o mascarado Joaquim Barbosa e a juíza Delaíde Miranda Arantes;
sobre a campanha que a direita no Brasil faz contra crianças e adolescentes com
o tal projeto de redução da idade penal e outros temas que, no fundo, tratam da
cortina densa de fumaça que sombreia mortalmente a justiça e a paz nas
sociedades humanas, principalmente na que mais nos interessa, o nosso povo
brasileiro. Evidentemente, esses assuntos são angustiantemente sérios e que merecem
nossa luta e nosso grito permanentes.
Para colaborar com esse debate,
para minha alegria e emoção, me deparei no blog de minha amiga Lili Araújo com
essa entrevista maravilhosa do filósofo Domenico Losurdo. Ele competentemente chama a atenção para os
conflitos de interpretação que se dão a partir do tipo de objeto que elegemos
para sentir (ver, tocar, cheirar, degustar e ouvir) e analisar. Não adianta
Tullio, tudo o que sentimos, pensamos, dizemos e fazemos move-se pelo conteúdo
ideológico que comanda nossa vida e nossa prática. Às vezes vejo gente que se
tem como muito santa e muita próxima do céu, já flutuando na estratosfera da
realidade, longe desse mundo de conflitos e pecados, no entanto, agindo e até
orando com discurso da classe dominante, em puro escapismo alienado e
descomprometido, jogando tudo para Deus fazer sem nada realizar pelas mudanças
que retirariam o mundo das injustiças e da falta de paz.
O filósofo Losurdo mostra claramente que há diferença gigantesca entre
os sistemas capitalista-imperialista e socialista. Sua análise nos coloca
frente à escolha de um ou de outro, sem alternativa. Penso que é bom nos
esclarecermos com pessoas assim tão competentes e, humildemente, nos libertarmos
de subterfúgios, de desculpas que, na verdade, são fugas do verdadeiro e mais
justo paradigma que deveríamos seguir. Um deles não só não permite alienação
como nos liberta das miopias dominantes. Sugiro que escutes e re-escutes com
paciência esse vídeo. A entrevista é em espanhol, mas é também legendada, com
todas as possibilidades e facilidades de compreensão. O filósofo Domenico
Losurdo fala uma linguagem simples de fácil entendimento, diferentemente dos
falsos intelectuais burgueses que usam linguagem empolada para esnobar e dar
impressão de que não são deste mundo.
Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano.
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