Querido amigo e companheiro Luiz Fernando
Dedico-te o texto abaixo de autoria de Emiliano José. Sei que
és sensível e suficientemente esclarecido para te sentires acuado com as
armadilhas cotidianas e poderosas armadas pelo capitalismo, essa praga política
em suas várias versões, sempre pronta a espremer as pessoas até os últimos
limites de suas possibilidades.
Nessa semana conversei com um amigo educador sobre o que o
capitalismo faz com estudantes noturnos de cursos superiores, flagrantemente
trabalhadores/as na sua maioria. Os/as jovens chegam visivelmente cansados,
esgotados e desanimados em sala de aula, como se viessem de uma guerra. A
comparação é plenamente cabível. Suas condições de produção intelectual são
mínimas, carentes de solidariedade e de apoio para crescer e atingir o fim de
seus cursos com razoável aproveitamento. A consciência política de classe é
zero, o que lhes impossibilita pensar criticamente e de organizar-se como
entidades estudantis.
Nas ruas e ônibus superlotados as pessoas são transportadas
em condições inferiores aos animais. Ao chegar a suas residências os/as
trabalhadores/as adentram em seus ambientes familiares exauridos de forças, de
afetos e de consciência social, por isso a produção de atritos destrutivos,
muitos deles desembocando em crimes.
As casas de diversão são como trincheiras de combates e
desavenças, onde imperam as bebidas alcoólicas, cujos comerciais engordam os
cofres da mídia conservadora, com suas caríssimas propagandas comerciais. Tudo
pode acontecer: brigas, matanças, incêndios, casos policiais, prostituição...
Enfim, nas relações mediadas pelo capitalismo tudo são
concorrências, até mesmo as vaidades, burrices e objetos materiais são motivos
para depredar comunhões. A sociedade é
falsa sob o comando burguês, até mesmo os sentimentos de afetos das pessoas são
teatralizações e fingimentos. Quando há potenciais de erros, à vista de todos,
em vez de se ajudar as pessoas na correção deixa-se que errem para depois
julgá-las e destruí-las, tal é a pobreza de espírito e nudez coletiva solidária.
Deixo-te com o texto de nosso Emiliano José. É digno de
atenção e ferramenta de reflexão.
Abraços críticos e fraternos, sem desistir da luta pela
justiça e pela paz, jamais.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano.
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Vivemos uma contradição entre o país com suas significativas transformações culturais e materiais decorrentes da política e a constante desqualificação da política, e do próprio país, pelo caminho de uma campanha constante, e seletiva, contra a corrupção.
O moralismo udenista, que estivera tão tragicamente presente,
especialmente nas décadas de 1950 e 1960, volta a assolar, nos
revisitando. Parece ser difícil assimilar lições do passado, ou demora
muito para que tais lições sejam assimiladas.
No mundo globalizado, e globalizado de há muito, sob a hegemonia do modo de produção capitalista, há a emergência de valores que de alguma forma se tornam universais e fundamentais à sobrevivência do próprio capitalismo. Ninguém pode dizer que o ser humano é individualista, por exemplo, senão que ele é estimulado, desde cedo, a sê-lo porque isso é parte da ideologia capitalista. O ser individualista é construído por obra e graça do trabalho sistemático e cotidiano dos aparatos superestruturais do capitalismo, entre os quais avulta a mídia, intimamente conectada à visão de mundo do capitalismo.
Como ninguém poderia dizer que o ser humano nasce com propensão ao consumo, senão que desde cedo nossas crianças são estimuladas a isso, com todas as consequências nefastas que importa. Ninguém nasce com propensão a disputar ferozmente com outros seres humanos, senão que se estimula esse valor – o de derrotar o outro – como essencial para a afirmação individual. No capitalismo, considera-se positiva a ideologia de que o homem deva ser o lobo do homem. A competição selvagem é parte desse jogo, é da cultura capitalista, inerente a ela, e justificada a cada segundo como tal.
E o neoliberalismo elevou isso ao paroxismo, e nem sei se a monumental crise vivida pelo capitalismo atual modifica alguma coisa dessa cultura, a não ser pela intervenção da política. Claro que, ao circunscrever a discussão ao capitalismo, não quero dizer que em outros modos de produção não houve ideologias semelhantes, culturas parecidas, mas não vou aqui tratar de outros momentos da história.
No mundo globalizado, e globalizado de há muito, sob a hegemonia do modo de produção capitalista, há a emergência de valores que de alguma forma se tornam universais e fundamentais à sobrevivência do próprio capitalismo. Ninguém pode dizer que o ser humano é individualista, por exemplo, senão que ele é estimulado, desde cedo, a sê-lo porque isso é parte da ideologia capitalista. O ser individualista é construído por obra e graça do trabalho sistemático e cotidiano dos aparatos superestruturais do capitalismo, entre os quais avulta a mídia, intimamente conectada à visão de mundo do capitalismo.
Como ninguém poderia dizer que o ser humano nasce com propensão ao consumo, senão que desde cedo nossas crianças são estimuladas a isso, com todas as consequências nefastas que importa. Ninguém nasce com propensão a disputar ferozmente com outros seres humanos, senão que se estimula esse valor – o de derrotar o outro – como essencial para a afirmação individual. No capitalismo, considera-se positiva a ideologia de que o homem deva ser o lobo do homem. A competição selvagem é parte desse jogo, é da cultura capitalista, inerente a ela, e justificada a cada segundo como tal.
E o neoliberalismo elevou isso ao paroxismo, e nem sei se a monumental crise vivida pelo capitalismo atual modifica alguma coisa dessa cultura, a não ser pela intervenção da política. Claro que, ao circunscrever a discussão ao capitalismo, não quero dizer que em outros modos de produção não houve ideologias semelhantes, culturas parecidas, mas não vou aqui tratar de outros momentos da história.
Lembro isso, e cito alguns valores cuja matriz é o capitalismo, um
modo de produção fundado no valor de troca, para mencionar o quanto a
cultura, de alguma forma, é também construída desde cima. Não comungo
inteiramente da ideia de que os valores das classes dominadas são os
valores das classes dominantes, mas é inegável que sob muitos aspectos é
verdadeira, sobretudo diante do extraordinário aparato intelectual
erigido para construir e difundir um mundo simbólico, uma cultura,
voltados ao fortalecimento do capitalismo, até hoje e mais do que ontem,
absolutamente hegemônico em escala mundial.
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