Dom Orvandil Moreira Barbosa
Caríssima
professora Nathália
Acabei de receber a informação de que uma
coordenadora de faculdade é processada na Justiça do Trabalho por assédio
moral. Ela chamou a atenção de professores diante de alunos, causando-lhes
constrangimento e sensação de humilhação. Com tal atitude ferira frontalmente a lei do assédio moral. A lei
assim se define: “Assédio moral é a exposição dos trabalhadores e
trabalhadoras a situações humilhantes
e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no
exercício de suas funções.
São mais comuns em relações hierárquicas
autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações
desumanas e antiéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou
mais subordinado(s), desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de
trabalho e a organização.
Por ser algo privado, a vítima precisa efetuar
esforços dobrados para conseguir provar na justiça o que
sofreu, mas é possível conseguir provas técnicas obtidas de documentos (atas de
reunião, fichas de acompanhamento de desempenho etc), além de testemunhas
idôneas para falar sobre o assédio moral cometido.” [1].
O importante como consequência do assédio moral
são as sensações de profunda humilhação, constrangimento, fragmentação e
destruição emocional vivenciadas pelas vítimas. Os danos em termos de saúde, de
mal estar, de depressão, de baixa autoestima são graves nas vidas e relações
dos injustiçados. Penso que em termos de resultados os dolorosos frutos do
assédio moral assemelham-se aos crimes de calúnia, difamação e injúria[2]. Vi
inúmeros casos de pessoas afundarem na depressão, jogarem-se no suicídio, no
alcoolismo e de fazerem justiça com as próprias mãos, por puro desespero e
falta de conhecimento de seus direitos.
Por isso, Nathália, louvo os professores por
arrastar às barras da justiça essa coordenadora desumana e desrespeitosa com
colegas e até com os alunos, a quem
deveria dar exemplo de educação e de respeito. Ninguém tem o direito de
humilhar as pessoas, principalmente os trabalhadores.
Na semana passada uma querida colega professora,
aliás, muito respeitada e competente, compartilhou comigo a tristeza de ser
dispensada por um irresponsável coordenador de curso, sem nenhuma explicação e
razão plausíveis. A atitude covarde e injusta daquele mau profissional causou
imensos danos à minha querida amiga e colega. Apesar de estimadíssima pelos
alunos e altamente competente, carecia das horas de aulas, com as quais contava
no seu orçamento e plano de curso. Não recebeu nenhum aviso, pelo contrário, só
soube de que não seria contada no curso como professora na reunião pedagógica
de início semestral, quando todas as outras faculdades também já fecharam suas
contratações. Aliás, apesar desse cidadão ser denunciado repetidas vezes à
direção da faculdade e pedida sua substituição, continua a agir com o mesmo
tratamento de prejuízo a inúmeros professores. Os resultados são os mesmos para
todos: sentimentos de fracasso, de tristeza, de derrota, de falta de respeito,
humilhação e desestímulo pela educação. Um professor prejudicado com o mesmo
método desrespeitoso adotado pelo mesmo coordenador, já com idade avançada não
conseguiu emprego em outra instituição, foi dispensado de toda a carga horária
que dedicava ao mesmo curso coordenado pelo rompante e cínico chefe, entrou em
profunda depressão e não caiu no seu grau mais profundo, o suicídio, porque sua
família e amigos o protegeram. Quer dizer: o aludido coordenador contrata
professores do seu campo ideológico e, com isso, opressivamente causa danos em
todos os que não pensam como ele, que, aliás, pensa muito mediocremente,
dispensando-os sem diálogo, sem consideração e sem respeito aos seus direitos.
Infelizmente espalham-se pelo Brasil os adeptos
do uso do chicote no tratamento com trabalhadores e profissionais. Conheci um
casal de empresários em Caxias do Sul que defendia clara e ostensivamente o uso
desse instrumento escravagista para manter os trabalhadores de sua indústria em
plena produção e cabisbaixos. O mais grave é que os dois eram detentores de
cursos superiores e de complementação acadêmica no exterior. É como o povo diz
em sua sabedoria: diploma não encurta orelhas. Digo que diploma não retira da
consciência e coração humanos o conteúdo ideológico de classe dominante,
acostumados a viver a custa do trabalho, do sangue e da energia de quem
trabalha, como é o caso do casal e dos coordenadores acima referidos.
O constrangimento, a humilhação e o mal estar são
contraditórios com a educação. Coordenadores que assim agem, mesmo que sejam em
cursos de administração, de ciências contábeis, de engenharia, de economia etc,
afeitos a questões empresariais, trata-se sempre de educação. Esse tipo de
coordenador que baba de ódio de classe contra professores e trabalhadores da
educação não deveriam ter mais espaços nas instituições educacionais.
Outro campo gritantemente contraditório com
atitudes de constrangimento, humilhação e opressão é a militância política de
esquerda. Na minha página no Facebook comentei a triste experiência de um amigo
meu em Campo Grande – MS, militante de um partido de esquerda, aliançado com
outro partido do mesmo campo que, ao participar de uma reunião da coligação, se
sentiu violentamente constrangido com um deputado federal que tratava o
candidato a prefeito e outros aos gritos e com palavrões. Aqui em Goiânia lideranças de um partido de
esquerda costumam tratar os filiados à base de humilhações do tipo “somente eu
sei, vocês não sabem nada”. Pessoas nesse ambiente se retiram profundamente
abaladas, pois gritos, humilhações, vexames, achincalhes e opressões são mais
afeitos à direita, ao fascismo e ao nazismo, não à esquerda.
Assédio moral, calúnia, difamação e injúria não
combinam com educação, com trabalho e com militância a favor da libertação do
povo. Os que se mantêm com tais comportamentos o fazem por omissão das vítimas,
das direções das instituições e organizações ou por arcaísmo estrutural e
ideológico. Ser republicano, responsável, comprometido e disciplinado sim,
sempre se deve ser. Mas em nome da conscientização das pessoas não se pode nem
se deve admitir que alguém grite, desrespeite, constranja ou humilhe as
pessoas. Há que buscarmos os possíveis remédios da justiça.
Abraços críticos e fraternos.
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