Querida
Luzia
Tanto tempo não nos falamos, querida! Esses dias vi entrares
no MSN e te chamei, porém não respondeste. Saudade de ti!
Entre outros assuntos que gostaria de conversar contigo está
o de trocar ideias sobre os últimos acontecimentos que envolvem ações
barulhentas praticadas pelo STF. Como advogada certamente acompanhas de perto
todo o debate travado desde o alardeado julgamento da Ação Penal 470, o famoso “mensalão
do PT.
Pois bem, ontem assisti o festival da posse de Joaquim
Barbosa como presidente do Supremo Tribunal Federal e do Ministro Ricardo
Lewandowski, como vice presidente. Procurei ler de ontem para cá todas as
matérias que giram em torno daquele evento.
Uma das primeiras coisas que destacaria dos discursos,
notadamente o do atual presidente, foi sobre o apelo à independência do
judiciário e dos juízes no sagrado exercício do julgamento livre. O orador
encomendado por Joaquim Barbosa, o ministro Fux, chegou ao ponto da basófila ao
afirmar que os ministros nada nem a ninguém temem.
Quanto a Joaquim Barbosa tive a impressão de uma confissão e
complexo de culpas. Em dado momento deu a impressão de, enquanto discursava, ajoelhar-se
diante da Presidente Dilma e de pedir que ela dissesse ao ex Presidente Lula
que o perdoasse por ser tão cruel e injusto ao julgar e condenar sem provas ex
integrantes de seu governo, com base na prostituição de uma teoria altamente
duvidável, a do domínio do fato. Senti insinceridade acadêmica no ministro ao
afirmar com tanta ênfase que os juízes devem ser independentes das influências
no ato de julgar. Parecia querer dizer à
Presidente Dilma e ao ex Presidente Lula
que, na verdade, ele quis ser independente de influências do governo ao
construir um relatório obtuso sobre a Ação Penal 470. Mas não foi independente
das influências maléficas, injustas, manipuladoras e golpistas cuja pressão as
oligarquias exerceram sobre o STF, principalmente através da mídia dominante, amante
e produto de golpes.
Não creio, Luzia, que o ministro Joaquim Barbosa seja sincero
e honesto ao afirmar a independência do judiciário. Ao mesmo tempo em que
reconhece a circunstancialidade da humanidade dos juízes demonstra o desejo de
que eles sejam divindades inermes e transcendentes a pressões da mídia, das
oligarquias econômicas e políticas, acostumadas a matar e a mandar matar pessoas
de quem discordem nesse País. A biografia de Joaquim não cansa de exaltar que
ele fez direito e mestrado na Universidade Nacional de Brasília, embora muito
distante de ser aquilo com que sonhara seu fundador, Darci Ribeiro, é uma das
mais importantes do Brasil, e de que doutorou-se na França. De que fala alemão,
inglês, francês, espanhol, embora, para mim, fale e pronuncie muito mal e horrorosamente
o português. Ora, se Barbosa é tão estudado assim conhece as várias teorias de
que o ser humano é animal dependente de influências e interessado. Logo, ele se
é humano e não divindade, também é sensível a influências. O julgamento que faz
dos réus atingidos pela Ação Penal 470 mostra forte influência sofrida. A
linguagem que ele e Celso de Mello usa é de tremenda falta de respeito e de
conceitos arraigadamente discriminatórios ao desrespeitarem a história de lutas
e currículo de patriotismo de muitos dos chamados réus. O conteúdo de seus
discursos é o mesmo usado pela mídia dominante, pelas oligarquias políticas e
econômicas brasileiras, que contou com alguns de seus representantes ontem no
ato de posse e no show de exibicionismo internacional e de alguns professores
neoliberais atuantes em algumas academias. A influência política que sofrem ao
julgar a Ação Penal 470 não é a do povo, não é a dos nacionalistas, não é a dos
patriotas, não é a dos que ajudam a construir a aliança que liberta mais e mais
o Brasil das garras da dependência, da miséria e do subdesenvolvimento.
Joaquim Barbosa prova diariamente que gosta de fotos e de
holofotes. Tanto que vai a camarins de artistas para ser fotografado ao lado de
estrelas e convidou alguns deles para sua posse. Quem o lança à candidatura a
Presidência da República não é o povo, que já tem candidatos não caídos de
paraquedas nem aventureiros de shows. Quem o lança candidato são os mesmos que
o cortejam por marcar julgamento político em ano eleitoral com o claro objetivo
de interferir nas eleições para ajudar a direita.
Nem sempre mulheres pelo fato de serem mulheres aliam-se às
causas femininas. Conheço várias que são machistas e antimovimentos libertários
das mulheres. Conheço algumas que são infinitamente mais machistas do que os
piores machistas masculinos. Ser negro procedente de categorias pobres dentre
os mais pobres, filho de lavadeira e doméstica, não necessariamente significa
fidelidade aos pobres e aos negros. Há negros que raciocinam com a mente dos
escravocratas e dominadores cruéis. É de esperar-se que um negro pobre jamais
renuncie suas raízes e aos pobres explorados seja fiel. Mas nem sempre é assim.
Joaquim Barbosa é um dos que demonstra que não é radicalmente comprometido com
os pobres e com os negros brasileiros. Não nos confundamos. Não há que
confundirmos que grosseria, falta de habilidade e de respeito com as ideias
diferentes façam de Joaquim Barbosa um homem corajoso. Quem joga para a
direita, para a galera dominante, para a mídia mentirosa e golpista não é fiel
aos negros nem aos pobres.
Então, querida advogada Luzia, não acredito na sinceridade de
Joaquim Barbosa. Seu apelo à independência dos juízes, da justiça e do STF é
apenas retórica ou recado para avisar aos mantenedores da ordem que ele nunca
será dependente da senzala, apenas das dicas da casa grande. Seu discurso é “branquelo”
para “branquelos”.
Abraços críticos, fraternos e com saudades.
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