"Nunca vão aceitar que o operário tomou o
poder"
A frase foi dita pelo embaixador Samuel Pinheiro
Guimarães, numa referência ao governo Lula, num jantar de desagravo a José
Dirceu, na casa do escritor Fernando Morais. Mais magro, e de cabelos longos, o
réu que começa a ser julgado nesta quarta-feira, se emocionou ao ouvir do
embaixador: “Entre nós aqui há quem tenha lutado com mais vigor e com mais
sofrimento para diminuir nossas inaceitáveis desigualdades. Sofreram e ainda
sofrem”; destino de Dirceu pode ser, novamente, a prisão
3 de Outubro de 2012
247 – A descrição do evento foi feita pela
colunista Monica Bergamo, da Folha de S. Paulo. Num jantar de desagravo
oferecido pelo jornalista e escritor Fernando Morais, José Dirceu apareceu mais
magro, e de cabelos mais longos.
Lá esteve dias antes de começar a ser julgado pelo
Supremo Tribunal Federal. Nesta quarta, o relator da Ação Penal 470, Joaquim
Barbosa, deve propor sua condenação por corrupção ativa e formação de
quadrilha. No discurso que antecipou seu voto da última segunda-feira, o
ministro Celso de Mello, do STF, bradou contra o que chamou de “marginais do
poder”.
No evento na casa de Fernando Morais, dois
diplomatas fizeram discurso em favor de Dirceu. Primeiro, o embaixador da
Venezuela no Brasil, Maximilien Arvelaiz. Depois,o ex-secretário-geral do
Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães. Fernando Morais apresentou Samuel
Pinheiro Guimarães aos convivas como figura central do governo Lula “num tempo
em que, como dizia Chico Buarque, o Brasil deixou de falar grosso com os
vizinhos e de falar fino com os EUA”.
Samuel Pinheiro Guimarães faz então uma homenagem a
José Dirceu. “Sinto-me emocionado. No entanto, entre nós aqui há quem tenha
lutado com mais vigor e com mais sofrimento para diminuir as nossas
inaceitáveis desigualdades. Sofreram. E ainda sofrem. Não preciso citar nomes.”
A plateia, que teve convidados como a atriz Letícia
Sabatella e o cineasta Luiz Carlos Barreto, se virou na direção de Dirceu, que
esboçou um sorriso. “As classes tradicionais – ou, se preferirem, retrógradas,
reacionárias – nunca vão aceitar que um nordestino tenha se transformado em um
líder respeitado e reconhecido internacionalmente. É disso que se trata. É isso
o que estamos vendo”, disse o embaixador. “Nunca vão aceitar que esse operário
tomou o poder”, diz o diplomata. “Ou melhor, tomou uma parte do poder do
Estado. Não todo. Não tenhamos ilusão. Vivemos numa plutocracia, que precisa
virar uma verdadeira democracia.”
Dirceu deve ser condenado não em função das provas
nos autos, mas por ter sido uma espécie de “capitão do time” do ex-presidente
Lula. Assim, o governo do presidente mais popular da história do País, poupado
na denúncia de Roberto Gurgel, ganharia do STF uma condenação e uma mácula, a
ser explorada por seus oposicionistas.
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