Em país ainda desigual, 'bolo' cresce mais rápido e com mais fermento para pobres
Estudo do
Ipea, com base em dados do IBGE, aponta na última década redução sem precedente
da desigualdade desde os anos 1960
São Paulo – Expressão dos anos 1970, cunhada pelo
ex-ministro Delfim Netto, vem à tona em estudo divulgado hoje (25) pelo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base nos dados da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2011, do IBGE. “O tamanho do bolo
brasileiro ainda está crescendo mais rápido e com mais fermento entre os mais
pobres”, diz o documento – Delfim falava em esperar “o bolo” da economia
crescer para então dividi-lo. Mas foi só na década passada que isso começou a
ocorrer de fato, embora as fatias continuem desiguais. Se os anos 1990 podem
ser chamados os de estabilização da economia, os anos 2000 foram marcados pela
redução da desigualdade de renda.
“Como consequência da manutenção do
crescimento com redução da desigualdade, a pobreza mantém uma contínua
trajetória decrescente, que vem desde o fim da recessão de 2003
independentemente da linha de pobreza e e da medida usada”, observa o
instituto. Uma das conclusões do estudo afirma que “não há na história
brasileira, estatisticamente documentada desde 1960, nada similar à redução da
desigualdade de renda observada desde 2001”. Daquele ano até 2011, a renda dos
10% mais pobres cresceu 550% mais que a dos 10% mais ricos. No período de 12
meses, até junho deste ano, já com dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME),
também do IBGE, o mesmo movimento foi captado, “perfazendo 11 anos consecutivos
de quedas do índice de Gini (índice criado para medir a concentração de
renda em determinado grupo)”.
Por um lado, a desigualdade no
Brasil permanece entre as 15 maiores do mundo, lembra o Ipea, “e levaria pelo
menos 20 anos no atual ritmo de crescimento para atingir níveis dos Estados
Unidos, que não são uma sociedade igualitária”. Mas, pela Pnad, o país atingiu
em 2011 seu menor nível de desigualdade de renda “desde os registros nacionais
iniciados em 1960”. Nos anos 1960, o índice de Gini atingia 0,535, chegando ao
pico de 0,607 nos anos 1990. Em 2011, chegou a 0,527 – quanto mais próximo de
zero, menor a desigualdade.
“Se no futuro um historiador fosse
nomear as principais mudanças ocorridas nas sociedade brasileira e
latino-americana na primeira década do terceiro milênio, poderia chamá-la de
década da redução da desigualdade de renda”, sustenta o estudo do Ipea. “Da
mesma forma que a de 90 foi a da estabilidade para nós (depois dos
vizinhos), e a de 80, a da redemocratização. Existe paralelo entre a
fotografia e os movimentos do Brasil e da América Latina. Em ambos, o nível da
desigualdade é dos mais altos do mundo, mas em queda. A má notícia é que ainda
somos muito desiguais; a boa notícia prospectiva é que há muito crescimento a
ser gerado na base da pirâmide social.”
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