Acobertar Policarpo é que fere a liberdade de imprensa, diz Ferro
Deputado condena “proteção a uma delinquência jornalística, em parceria com o crime organizado” e cobra da CPMI do Cachoeira que o convoque
Em discurso no plenário da Câmara Federal, na terça-feira (21), o deputado Fernando Ferro (PT-PE) revelou seu “estranhamento” com o “pacto de silêncio” na CPMI do Cachoeira para convocar o diretor da revista Veja, Policarpo Júnior, flagrado pela Polícia Federal em conluio com Cachoeira e a máfia da jogatina. “Sob o discurso de liberdade de imprensa, vemos uma proteção a uma delinquência jornalística, em parceria com o crime organizado. Não há outro nome”, denunciou o deputado.
Para Fernando Ferro, “as recentes informações dando conta de que a namorada do Sr. Carlos Cachoeira ameaçou um juiz com um dossiê produzido pelo jornalista Policarpo Junior revelam a extensão do problema e a ousadia desse grupo mafioso”. “Sim, porque é uma prática da máfia, de grupos criminosos, perigosos e altamente articulados a feitura de dossiês para chantagear juízes – dossiês produzidos por jornalistas a serviço de criminosos, como o Sr. Carlos Cachoeira”, acrescentou.
O deputado conclamou os parlamentares da CPMI a investigarem as íntimas ligações de Policarpo Júnior com Cachoeira e a máfia da contravenção goiana. “Apelo, então, para os parlamentares que participam da CPMI no sentido de que convoquem o Sr. Policarpo e o Grupo Abril, para que falem sobre suas relações com Carlinhos Cachoeira. Isso será muito bom para a democracia e para desmascarar certo tipo de jornalismo que faz associação com o crime organizado para promover dossiês, ameaças e escândalos, como temos visto ocorrer neste país”, disse. O requerimento seria apresentado pelo deputado Dr. Rosinha (PT-PR) depois da elaboração de um extenso relatório mostrando detalhes da associação criminosa de Policarpo com Cachoeira.
Em reunião reservada de petistas e peemedebistas, realizada na casa do líder do PT, Jilmar Tatto, na semana passada, tentou-se chegar a um acordo para que a comissão convocasse Policarpo Jr., mas, por interferência direta de Michel Temer, vice-presidente da República, a bancada peemedebista recusou-se a apoiar a convocação. Em discurso, Jilmar Tatto reafirmou sua opinião de que a comissão tem a obrigação de convocar o jornalista, “que usou sua profissão e a revista para se aliar ao crime organizado e prejudicar seus alvos, como o deputado Jovair Arantes [PTB-GO]”. Tatto se referia às revelações, feitas pela revista Carta Capital, de que Policarpo Jr. foi flagrado pela Polícia Federal “encomendando” a Cachoeira um grampo sobre o deputado da base governista.
“Tenho fé que essa comissão vai convocá-lo [Policarpo], para que explique sua relação com o crime organizado, com Carlinhos Cachoeira, com o ex-senador Demóstenes. Portanto, espero com muita paciência. Espero que nós não tenhamos medo. Tivemos coragem de convocar senadores. Espero que não tenhamos medo de convocar um jornalista, ou melhor, um pseudojornalista”, salientou Tatto.
Fernando Ferro fez uma advertência de que esse “silêncio” pode gerar outra dúvida: “Será que existem deputados ou senadores da CPMI ameaçados por dossiês do Cachoeira?”. Para o deputado, ao se recusarem a convocar Policarpo, “eles estão dando claramente sinais de que ou têm medo ou são cúmplices desses delinquentes”. Na avaliação de Ferro, isso é extremamente preocupante. “Sugiro ao presidente da CPMI que inquira, que pergunte se está havendo alguma chantagem contra algum desses parlamentares”, completou.
O deputado pernambucano lembrou que, por muito menos, na Inglaterra foi aberto um processo que culminou no fechamento de um jornal de grande expressão daquela nação devido a problemas de espionagem política patrocinada por esquemas que utilizaram jornalistas.
Apesar das provas comprometendo Policarpo com a quadrilha de Cachoeira, a comissão priorizou outros requerimentos apresentados durante o encontro – como a reconvocação do bicheiro e a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônicos de Andressa Mendonça, mulher do contraventor. A cúpula da polícia de Goiás – delegada-geral da Polícia Civil do estado, Adriana Sauthier Accorsi, e o comandate-geral da Polícia Militar, Edson Costa Araújo – também foram convocados.
O silêncio dos integrantes da quadrilha, convocados para depoimento à CPMI do Cachoeira, e a blindagem feita em torno de Policarpo Jr, reforçou a tese sustentada pela procuradora Léa Batista da existência de um “código de silêncio” que protege a organização. “A quadrilha age de forma articulada e unitária, onde ninguém entrega ninguém e todos são protegidos pelo chefe Carlos Cachoeira”, enfatizou o relator da CPMI, deputado Odair Cunha (PT-MG).
Nesta terça-feira (28), a CPMI deverá ouvir os depoimentos do ex-diretor do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), Antonio Pagot. Ele foi uma das vítimas de dossiê de Cachoeira e Policarpo. A revista Veja publicou matérias contra o ex-diretor que resultaram na sua demissão. Áudios da PF gravados com autorização da Justiça mostram Cachoeira comemorando a saída de Pagot e outros dirigentes do Ministério dos Transportes. Além disso, o bicheiro admite que articulou com Policarpo os ataques ao ex-diretor do Dnit.
Segundo Pagot, os ataques a ele eram uma retaliação por ter cobrado da Delta o cumprimento dos contratos assinados com o órgão. Na quarta-feira (29), deverá ser ouvido o dono da empreiteira Delta, Fernando Cavendish.
Fonte: Jornal Hora do Povo
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